domingo, 18 de novembro de 2018

Domingo Na Usina:Biografia: Lygia Bojunga Nunes:



Pelotas RS 1932. Autora de literatura infantojuvenil. Passa sua primeira infância em uma fazenda. Aos 8 anos muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1951, torna-se atriz da Companhia de Teatro Os Artistas Unidos, e viaja pelo interior do Brasil. Atua nesse momento, também, como atriz de rádio. Ao abandonar os palcos e as atividades que exerce, começa a escrever para o rádio e a televisão. Em busca de uma vida mais integrada à natureza, refugia-se no interior do estado do Rio de Janeiro. Funda, acompanhada de seu segundo marido, Peter, uma escola rural para crianças carentes, a Toca, que dirige por cinco anos. Faz sua estreia literária em 1972, com o livro Os Colegas, e, já em 1973, recebe o Prêmio Jabuti. Em 1982, torna-se a primeira autora, fora do eixo Estados Unidos-Europa, a receber o Prêmio Hans Christian Andersen, uma das mais relevantes premiações concedidas aos gêneros infantil e juvenil. Nesse mesmo ano muda-se para a Inglaterra, vivendo alternadamente entre esse país e o Brasil. Em 1988, volta ao teatro, escrevendo e atuando em palcos no Brasil e no exterior. Trabalha com edição e produção de livros, feitos de forma artesanal. Em 1996, publica Feito à Mão, uma realização alternativa à produção industrial, como indica o título, composto manualmente com papel reciclado e fotocopiado. Em 2002, publica Retratos de Carolina, o primeiro livro de sua própria editora, a Casa Lygia Bojunga. Pelo conjunto de sua obra, em 2004, ganha o Astrid Lindgren Memorial Award, prêmio criado pelo governo da Suécia, jamais antes outorgado a um autor de literatura infantojuvenil. Com esse incentivo, cria nesse ano a Fundação Cultural Lygia Bojunga com o intuito de desenvolver ações que aproximem o livro da população brasileira.

Comentário Crítico
A produção literária de Lygia Bojunga caracteriza-se pela transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade e aborda questões sociais contemporâneas com lirismo e humor. A autora, segundo a crítica literária Marisa Lajolo, nos momentos mais significativos de sua obra, debruça-se "sobre a perda da identidade infantil" e sobre as possibilidades de construção dessa mesma identidade dentro das perspectivas cotidianas dos centros urbanos contemporâneos.

Em seu livro mais conhecido, A Bolsa Amarela, vê-se o processo de amadurecimento da jovem Raquel, que vive em conflito com a família. Com o objetivo de criar um refúgio para o seu universo íntimo, suas fantasias e segredos, transforma uma bolsa amarela numa espécie de extensão do seu mundo interior, de modo a mantê-lo protegido e resguardado. O embate entre suas reinações e a realidade externa se dá, desse modo, na dimensão da bolsa amarela ou em suas imediações - numa zona limítrofe em que não se pode distinguir exterior e interior. O elemento pedagógico, presente na maior parte da literatura produzida para o público infantojuvenil, aparece em A Bolsa Amarela não como um fator ou acontecimento externo que transforma a personagem, e sim como fruto de um processo reflexivo da própria Raquel, e que se realiza através de sua busca pela preservação da própria identidade.

A Casa da Madrinha, livro posterior de Lygia, dá outra direção a essa mesma problemática - o conflito entre realidade interna e externa -, e tem como foco os medos infantis. O protagonista da trama é um menino pobre, morador de uma favela do Rio de Janeiro, que sai de casa em busca da casa da madrinha, lugar inventado por seu irmão, em que as dificuldades materiais não existem. De maneira diferente de A Bolsa Amarela, um narrador externo fornece o contexto no qual transcorre a história. Mostra assim Alexandre, o menino pobre, no momento em que faz uma apresentação para conseguir alguns trocados e comer com um pavão que encontra pelo caminho. E Vera, uma menina de classe média, que mora com a família em uma casa no campo. O diálogo entre esses personagens, que mescla situações da história pessoal de Alexandre com suas fantasias, estabelece a tensão narrativa. Vera quer abrigar o menino dentro de sua casa, mas é persuadida pelos pais a deixá-lo temporariamente na casinha de ferramenta e mandá-lo embora em seguida. É no contato de Alexandre com Vera que se conhecem os objetivos do garoto, sua intenção de chegar à casa da madrinha. Juntos, eles realizam essa busca, inventando um cavalo que toma forma e permite o encontro. Desse momento em diante a ficção se descola do andamento anterior em direção à pura fantasia. O atrito com a realidade é, no entanto, inevitável, mas se encaminha para uma resolução positiva do conflito.

Em Corda Bamba, as fantasias também funcionam como o elemento que pode promover a superação de dificuldades pessoais. O simbolismo em relação a esse processo de amadurecimento é construído por meio de uma personagem principal que usa uma corda bamba para entrar em uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da rua. Essa situação é, na prática, uma maneira de elaborar a morte inesperada dos seus pais.

Em O Sofá Estampado, Lygia faz uma nova incursão nas histórias com animais, como ocorre em seu primeiro livro publicado, Os Colegas, que também coloca em cena um grupo de bichos como personagens - uma tradição da literatura voltada ao público infantil. No entanto, o personagem principal de O Sofá, o tatu Vítor, ganha uma caracterização psicológica que destaca a obra dentro dessa tradição. Segundo o crítico literário José António Gomes, "o leitor percebe que não se encontra apenas perante mais uma história simplista de animais humanizados (...) mas sim a ler um texto que, na sua extraordinária economia de meios, o confronta com um complexo de tópicos em que avultam a identidade e a alteridade, o isolamento e a socialização, a regressão e o crescimento, a morte e o desejo". A perda da identidade infantil, centro de força da obra da autora, segundo Marisa Lajolo, se configura no livro por meio da alegoria. Através da história do tatu Vítor observam-se as angústias experimentadas pelo personagem, relacionadas ao processo de amadurecimento.

Lygia redefine assim os limites entre o real e a fantasia, incorporando ainda questões sociais contemporâneas. Em Seis Vezes Lucas, e também em Tchau, descreve por meio do ponto de vista infantil os conflitos e rearranjos por que passam as famílias atuais, tendo em vista as transformações do comportamento e da cultura no século XX. Temas polêmicos como suicídio estão presentes em 7 Cartas e 2 Sonhos e O Meu Amigo Pintor.

Além da atividade de escritora, ela cria a Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga, projeto que desenvolve ações ligadas à popularização do livro no Brasil. E sua própria editora, a Casa Lygia Bojunga, que lhe possibilita ter um controle maior de todas as etapas de produção de seus livros bem como as de distribuição e divulgação. Não obstante, permite o exercício literário experimental subjugado apenas a seus anseios como escritora.

Links relacionados

Casa Lygia Bojunga
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Primeiras edições

Obras publicadas - primeiras edições

Infantil e juvenil
Os Colegas - 1972
Angélica - 1975
A Bolsa Amarela - 1976
A Casa da Madrinha - 1978
Corda Bamba - 1979
O Sofá Estampado - 1980
Tchau - 1984
O Meu Amigo Pintor - 1987
Nós Três - 1987
Livro, um Encontro - 1988
Fazendo Ana Paz - 1991
Paisagem - 1992
Seis Vezes Lucas - 1995
O Abraço - 1995
Feito à Mão - 1996
A Cama - 1999
O Rio e Eu - 1999
Retratos de Carolina - 2002
Aula de Inglês - 2006
Sapato de Salto - 2006

Teatro
Livro - 1988
O Pintor - 1989
Nós Três - 1989
A Entrevista - 2002

Traduções e edições estrangeiras

Traduções e edições estrangeiras

Alemão
Angelika [Angélica]. Tradução Karin Schreiner. Ilustração Sabine Barth. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1994.
Das geblümte Sofa [O Sofá Estampado]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1984.
Das Haus der Tante [A Casa da Madrinha]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1984.
Das Haus der Tante [A Casa da Madrinha]. Tradução Karin Schreiner . Ilustração Reinhard Michl. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1993. 
Das Haus der Patentante [A Casa da Madrinha]. Tradução Karin Schreiner. Berlim Oriental: Kinderbuchverlag, 1987.
Die Freunde [Os Colegas]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler , 1985.
Die Freunde [Os Colegas]. Tradução Karin Schreiner . Ilustração Sabine Barth. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1994.
Die gelbe Tasche [A Bolsa Amarela]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1983.
Die gelbe Tasche [A Bolsa Amarela]. Tradução Karin Schreiner. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1992.
Maria auf dem Seil [Corda Bamba]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1983.
Maria auf dem Seil [Corda Bamba]. Tradução Karin Schreiner. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1992.
Mein Freund, der Maler [Sete Cartas e 2 Sonhos]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler [Germany], 1986.
Mein Freund, der Maler [Sete Cartas e 2 Sonhos] . Tradução Karin Schreiner. Ravensburg: Ravensburger Buchverlag Otto Maier, 1993.
Tschau: 4 Erzählungen [Tchau]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1986.
Wir drei [Nós Três]. Tradução Karin Schreiner. Hamburgo: Dressler, 1988.

Búlgaro
Hlabavoto Văze [Corda Bamba]. Tradução Margarita Drenska. Sofia: Otečestvo, 1989.

Catalão
Els Companys [Os Colegas]. Tradução Manuel de Seabra. Barcelona: Juventud , 1985.
La Bossa Groga [A Bolsa Amarela]. Tradução Manuel de Seabra. Barcelona: Juventud, 1986.
La Casa de la Padrina [A Casa da Madrinha]. Tradução Manuel de Seabra. Barcelona: Juventud, 1986.
Corda Fluixa [Corda Bamba]. Tradução Manuel de Seabra. Barcelona: Juventud, 1986.
Adeu [Tchau]. Tradução Josep Daurella. Barcelona: Aliorna, 1987.

Dinamarquês
Gudmorens Hus [A Casa da Madrinha]. Tradução Peer Sibast . Kbh: Gyldendal, 1987. 
Den Gule Taske [A Bolsa Amarela]. Tradução Peer Sibast . Kbh: Gyldendal , 1987.

Espanhol
Angélica [Angélica]. Tradução Mario Merlino. Madri: Alfaguara, 1986.
Chao! [Tchau]. Tradução Irene Vasco. Ilustração Ivar da Costa. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 2001.
El Bolso Amarillo [A Bolsa Amarela]. Tradução Mirian Lopes Moura. Madri: Espasa-Calpe, 1985.
El Bolso Amarillo [A Bolsa Amarela]. Tradução Mirian Lopes Moura. Barcelona: Círculo de Lectores, 1985.
El Bolso Amarillo [A Bolsa Amarela]. Tradução Miriam Lopes Moura. Barcelona: Planeta-De Agostini, 1988.
La Bolsa Amarilla [A Bolsa Amarela]. Tradução Elkin Obregón. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 1997.
El Sofá Estampado [O Sofá Estampado]. Tradução Mirian Lopes Moura. Madri: Espasa-Calpe, 1983.
El Sofá Estampado [O Sofá Estampado]. Tradução Lucia Botero. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 1996.
Juntos los Três [Nós Três]. Tradução Mario Merlino. Madri: Alfaguara, 1989.
La Cama [A Cama]. Tradução Irene Vasco. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 2002.
La Casa de la Madrina [A Casa da Madrinha]. Tradução Mario Merlino. Madrid: Alfaguara, 1983.
La Casa de la Madrina [A Casa da Madrinha]. Nova York: Lectorum Pubns Inc:1983.
La Casa de la Madrina [A Casa da Madrinha]. Vigo: Galaxia, 1990. Colección "Árbore"
La Casa de la Madrina [A Casa da Madrinha]. Tradução Lucía Borrero. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 1996.
La Cuerda Floja [Corda Bamba]. Tradução Mirian Lopes Moura. Madri: Alfaguara, 1981.
La Cuerda Floja [Corda Bamba]. Habana: Gente Nueva, 1989.
Cuerda Floja [Corda Bamba]. Tradução Elkin Obregón. Ilustração Alejandro Ortiz. Bogotá: Grupo Ed. Norma, 1998.
Los Compañeros [Os Colegas]. Tradução Mirian Lopes Moura. Barcelona: Juventud, 1984.
Los Amigos [Os Colegas]. Tradução Irene Vasco. Ilustração Ródez. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 2001.
Mi Amigo el Pintor [O Meu Amigo Pintor]. Tradução María del Mar Ravassa. Ilustração Mónica Meira. Bogotá: Grupo Editorial Norma: 1989.
Retratos de Carolina [Retratos de Carolina]. Tradução Santiago Ochoa. Bogotá: Grupo Editorial Norma: 2006.
Seis Veces Lucas [Seis Vezes Lucas].  Tradução Elkin Obregón. Ilustração Alejandro Ortiz. Barcelona: Grupo Editorial Norma, 1999.

Finlandês
Seitsenlokeroinen Laukku [A Bolsa Amarela]. Tradução Kaija Löytty. Porvoo: WSOY, 1987.

Francês
Angélique a des Idées [Angélica]. Tradução Noémi Nunes. Paris: La Farandole, 1979.
La Maison de la Marraine [A Casa da Madrinha].  Paris: Messidor/La Farandole, 1982.
La Fille du Cirque[Corda Bamba]. Paris: Flammarion, 1999.
La Sacoche Jaune [A Bolsa Amarela]. Paris: Flammarion-Pere Castor, 1983.

Galego
A Casa da Madriña [A Casa da Madrinha]. Tradução Anxo Quintel. Vigo (Pontevedra): Galaxia, 1990.

Hebraico
Ûaveri ha-úayyar [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Gila Flint . Tel Aviv: Kinneret , 1992.

Holandês
Angelica en het Idee [Angélica]. Tradução Afke Plekker. Hoorn: Westfriesland, 1986.
De Gele Tas [A Bolsa Amarela]. Tradução Irène Koenders. Amsterdã: Leopold, 1989.
Het Circusmeisje [Corda Bamba]. Tradução Afke Plekker. Hoorn: Westfriesland, 1985.
Het Wonderlijke huis van Tante [A Casa da Madrinha]. Tradução Afke Plekker. Hoorn: Westfriesland, 1985.
Mijn Vriend de Schilder [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Irène Koenders. Baarn: De Fontein, 1996.

Inglês
The Compenions [Os Colegas]. Tradução Ellen Watson. Ilustração Larry Wilkes. Farrar Straus & Giroux: 1989.
My Friend the Painter [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Giovanni Pontiero. San Diego: Harcourt Brace Jovanovich: 1991.

Islandês
Dóttir Línudansaranna [Corda Bamba]. Tradução Guðbergur Bergsson. Reykjavík: Mál og menning, 1983.

Neerlandês
Mijn Vriend de Schilder [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Irène Koenders. Antwerpen: Houtekiet, 1996.

Norueguês
Gudmorens Hus [A Casa da Madrinha]. Tradução Kari Risvik e Kjell Risvik. Oslo: Aschehoug, 1983.
Den Gule Veska [A Bolsa Amarela]. Tradução Svanaug Steinnes. Oslo: Samlaget, 1984.
På Slakk Line [Corda Bamba]. Tradução Kari Risvik e Kjell Risvik. Oslo: Aschehoug, 1985.
Vennene [Os Colegas]. Tradução Kari Risvik e Kjell Risvik. Oslo: Aschehoug, 1986.
Min Venn Maleren [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Kari Risvik e Kjell Risvik. Oslo: Aschehoug, 1987.

Português
O Sofá Estampado. Lisboa: Editorial Verbo: 1992.

Sueco
Alexander Och Påfågeln [A Casa da Madrinha]. Tradução Kajsa Pehrsson. Stockholm: Gidlund, 1983.
Den Gula Väskan [A Bolsa Amarela]. Tradução Karin Rosencrantz-Bergdahl. Stockholm: Rabén&Sjögren, 1984.
Kompisarna [Os Colegas]. Tradução Bo Ivander. Ilustração Sabine Barth. Bromma: Opal, 1986.
Maria på Slak Lina [Corda Bamba]. Tradução Bo Ivander. Ilustração Reinhard Michl. Bromma: Opal, 1986.
Min vän Målaren [O Meu Amigo Pintor]. Tradução Bo Ivander. Bromma: Opal, 1987.
Den Blommiga Soffan [O Sofá Estofado]. Tradução Maj Herranz. Ilustração Sabine Barth. Bromma: Opal, 1989.

Tcheco

Marie se Vrací do Ria [Corda Bomba]. Tradução Pavla Lidmilová. Praga: Albatros, 1989.

Fonte de origem:

Domingo Na Usina: Biografias: Ana Cristina Cruz Cesar;


 Rio de Janeiro RJ 1952 - idem 1983. Poeta, ensaísta, tradutora. Filha de Maria Luiza César e do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz César, um dos responsáveis, com o editor Ênio Silveira (1925-1996), pela fundação da editora ecumênica Paz e Terra. Aos sete anos, Ana Cristina tem seus primeiros poemas publicados no jornal Tribuna da Imprensa. Entre 1969 e 1970, interrompe o curso clássico no Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de Filosofia, para estudar inglês no Richmond School for Girls, em Londres, pelo programa de intercâmbio da juventude cristã. Ingressa, em 1971, na Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Desde a vida universitária, participa ativamente da cena cultural carioca e do movimento da poesia marginal, convivendo com poetas como Cacaso (1944-1987) e intelectuais como Heloísa Buarque de Hollanda (1939). Ainda em 1971, inicia a atuação como professora, em escolas de 2º grau e de idiomas. Após a conclusão da graduação, em 1975, colabora para publicações como Opinião, Jornal do Brasil, Folha de S.Paulo, com destaque para Beijo, importante periódico de cultura, com sete números impressos, cujo processo acompanha desde sua criação. Em 1979 lança, de forma independente, o primeiro livro de poesia, Cenas de Abril. Seguem-se Correspondência Completa, uma carta ficcional, e Luvas de Pelica, publicado em 1980. Dessa mesma época datam as primeiras traduções, atividade que se torna objeto de estudo na pós-graduação: em 1981, torna-se mestre em teoria e prática da tradução literária pela Universidade de Essex, Inglaterra. De volta ao Brasil, é contratada como analista de textos pela Rede Globo de Televisão e lança, em 1982, A Teus Pés - reunião de títulos publicados até então e ainda o inédito que nomeia o volume. Aos 31 anos, em 1983, comete suicídio. Após sua morte, o poeta e amigo Armando Freitas Filho (1940) organiza sua obra e promove o lançamento dos livros Inéditos e Dispersos, em 1985, Escritos da Inglaterra, 1988, e Escritos no Rio, 1993.

Comentário crítico
Embora comumente identificada aos poetas marginais da década de 1970, Ana Cristina Cesar emprega os procedimentos comuns ao grupo a fim de criticá-los desde o interior: simula o discurso confessional a partir de falsas correspondências e diários; alcança o tom coloquial parodiando textos da tradição literária.

Em Final de uma Ode, de Cenas de Abril (1979), o eu lírico afirma: "[...] Quisera / dividir o corpo em heterônimos - medito aqui / no chão, imóvel tóxico do tempo". Se a confissão do desejo sugere a sinceridade autobiográfica, a formulação o inscreve no cânone da poesia portuguesa, dada a referência a Fernando Pessoa, sugerida em "heterônimos", e ainda em outros trechos da composição.

Já Correspondência Completa (1980) é paródia desde o título, pois se compõe de apenas uma carta. A remetente, além disso, chama-se Júlia, numa quebra da identificação entre autora do livro e autora da carta, o que impede, ao leitor, a certeza de uma confissão verdadeiramente autobiográfica. No que diz respeito à linguagem, há ambiguidades e lacunas, colocando para o leitor enigmas, e não a possibilidade de identificação.

A trajetória da autora, que pode ser acompanhada em Inéditos & Dispersos - reunião de poemas escritos desde os nove anos de idade -, revela busca pessoal da expressão poética: os primeiros versos são em geral líricos, metrificados e rimados. Já em A Teus Pés (1982) são longos, apresentando tom de conversa, e frequentemente questionam a sociedade conservadora e o lugar nela destinado à mulher. É o que se lê em Sete Chaves: "[...] Não sou dama nem mulher / moderna".

A existência de uma literatura dita feminina é tema dos ensaios da autora, interessada em problemas teóricos como as relações entre literatura e história, invenção e confissão, originalidade e intertexto. Também nesses escritos se revela a ausência de identificação entre Ana Cristina e a geração marginal: "A limpidez da sinceridade nos engana, como engana a superfície tranquila do eu", escreve ela em O Poeta É um Fingidor.

Primeiras edições

Obras publicadas - primeiras edições

Poesia
Cenas de Abril - 1979
Correspondência Completa - 1979
Luvas de Pelica - 1980
A Teus Pés - 1982 - reúne os livros Cenas de Abril, Correspondência Completa, Luvas de Pelica
Inéditos e Dispersos* - 1985 - organizado por Armando Freitas Filho

Correspondência
Correspondência Incompleta - 1999

Ensaio
Literatura Não É Documento - 1980
Escritos da Inglaterra* - 1988 - organizado por Armando Freitas Filho
Escritos no Rio* - 1993 - organizado por Armando Freitas Filho
Crítica e Tradução* - 1999 - reunião dos 3 livros anteriores e poesias traduzidas inéditas

* publicação póstuma

Traduções e edições estrangeiras

Traduções e edições estrangeiras

Espanhol
Antología Poética. Tradução Alicia Torres. Caracas: Planeta Venezolana, 1989.
Antología Poética. Tradução Alicia Torres. Bogotá: Fundación para la Investigación y la Cultura, Tiempo Presente, 1990.
Guantes de Gamuza y Otros Poemas: Bilingüe. Seleção, tradução e notas de Teresa Arijon e Sandra Almeida. Córdoba: Bajo de la Luna, 1992.
Álbum de Retazos: Antología Crítica Bilingüe: Poemas, Cartas, Imágenes, Inéditos. Tradução Luciana Di Leone, Florencia Garramuño e Ana Carolina Puente. Buenos Aires: Corregidor, ca.2006.

Francês
Gants de Peau: Et Autres Poèmes. Tradução Michel Riaudel. Paris: Chandeigne, 2005.

Inglês

Intimate Diary by Ana Cristina César. Tradução Patricia E. Paige, Celia McCullough e David Treece. London: Boulevard, 1997.

Fonte de origem:

Domingo Na Usina: Biografias: Mauro Mota:



Mauro Mota (1911-1984) foi um poeta, jornalista, cronista e professor brasileiro. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira nº 26.

Mauro Mota (1911-1984) nasceu no Engenho Buraré, Pernambuco, no dia 16 de agosto de 1911. Filho do promotor público José Feliciano da Mota Albuquerque e de Aline Ramos da Mota Albuquerque. Fez seus estudos primários em Nazaré da Mata e no Recife. Ingressou no colégio Salesiano, onde escreveu seus primeiros versos, no jornal O Colegial, dirigido pelo padre Nestor de Alencar.

Mauro Mota casou-se muito jovem, com Hermantine Cortez, com quem teve dois filhos. Formou-se em Direito, em 1937, pela Faculdade de Direito do Recife. A morte de sua esposa, inspirou-o em inúmeras poesias.

Dedicou-se ao ensino, à literatura e ao jornalismo. Foi professor de história e geografia em vários colégios pernambucanos, entre elas a Escola Normal, na qual conquistou a cátedra com a tese O Cajueiro Nordestino.

Como jornalista foi secretário e redator-chefe do Diário da Manhã. Com o Estado Novo, passou para o Diário de Pernambuco, chegando a diretor, em 1956. No Diário de pernambuco dedicou-se ao suplemento literário, abrindo caminho para as novas gerações.

Sua contribuição literária foi das mais importantes tanto para a prosa como em verso. Publicou "A Tecelã", "Os Epitáfios" e "O Galo e o Catavento". Em prosa destacam-se "Geografia Literária" e "Paisagem das Secas".

Mauro Mota foi superintendente do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, entre 1956 e 1970. Foi diretor do Departamento de Documentação e Cultura da Cidade do Recife e do Arquivo Público Estadual de Pernambuco, de 1972 a 1984.

Foi casado pela segunda vez, com a pintora e cronista Marly Mota, com quem teve quatro filhos. Foi membro da Academia Pernambucana de Letras, sendo seu presidente por mais de dez anos. No dia 5 de janeiro de 1970, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio da Academia Pernambucana de Letras por seu poema Elegias, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio Pen Clube do Brasil pelo livro Itinerário.

Mauro Ramos da Mota e Albuquerque faleceu no Recife, no dia 22 de novembro de 1984.

Informações biográficas de Mauro Mota:
Idade: 104 anos
Data do Nascimento: 16/08/1911
Data da Morte: 22/11/1984
Nasceu há 104 anos
Morreu aos 73 anos

Morreu há 30 anos.

Fonte de origem:

Domingo Na Usina: Biografias: Stephen Edwin King:


Nasceu em Portland, Maine, no ano de 1947. Foi o segundo filho de Donald e Nellie Ruth Pillsbury King. Após a separação de seus pais, Stephen e seu irmão, David, foram criados pela sua mãe. Stephen passou a infância em Fort Wayne, Indiana, onde moravam parentes de seu pai, e também em Stratford, Connecticut. Quando Stephen completou 11 anos, sua mãe voltou com ele e o irmão para Durham, no Maine, pois avôs viviam lá e precisavam da ajuda de sua mãe.
Stephen frequentou aulas em Durham e na Lisbon Falls High School, onde se graduou no ano de 1966. Então foi para Universidade de Maine, onde mantinha uma coluna semanal para o jornal escolar que tinha o nome de The Maine Campus. Stephen foi um estudante ativo, colaborando em questões políticas e servindo como membro do Student Senate. Ele se graduou em 1970 e obteve qualificação para lecionar.

O escritor casou-se com Tabitha Spruce no ano de 1971. Eles se conheceram na biblioteca da universidade quando ainda eram estudantes. Enquanto vendia pequenas histórias para algumas revistas, Stephen escreveu seu primeiro conto profissional “The Glass Floor” para a Startling Mystery Stories em 1967. Muitos destes contos foram compilados posteriormente na coletânea Night Shift (Sombras da Noite) ou apareceram em outras antologias.

No ano de 1973, a editora Doubleday & Co. aceitou a novela Carrie. A partir daí, Stephen consegue subsídio para deixar de lecionar e dedica-se à escrita em tempo integral. Neste mesmo ano, o escritor consegue sua segunda aceitação com a novela Salem’s Lot (A Hora do Vampiro). Neste período, a mãe do escritor morre de câncer aos 59 anos.

Um ano após a aceitação da editora, a novela Carrie é publicada, ao mesmo tempo em que Stephen se muda com a família para o Colorado. Viveram lá aproximadamente um ano, e nesse tempo Stephen escreve The Shining (O Iluminado), que foi levado aos cinemas pelo diretor Stanley Kubrick no ano de 1980. Retornam para Maine em 1975, onde o escritor finaliza The Stand (A Dança da Morte).

O escritor tem três filhos com sua esposa: Naomi Rachel, Joe Hill e Owen Phillip.

Em 2003, Stephen recebeu um título distinto da The National Book Foundation por contribuir com a literatura americana.

Livros de ficção publicados:

1974 - Carrie (Carrie)
1975 - A Hora do Vampiro (Salem's Lot)
1977 - O Iluminado (The Shining)
1978 - A Dança da Morte (The Stand)
1979 - A Zona Morta (The Dead Zone)
1980 - A Incendiária (Firestarter)
1981 - Cão Raivoso (Cujo)
1983 - Christine (Christine)
1983 - O Cemitério (Pet Sematary)
1983 - A Hora do Lobisomem (Cycle of the Werewolf)
1984 - O Talismã (The Talisman, escrito com Peter Straub)
1985 - Tripulação de Esqueletos (Skeleton Crew)
1986 - A Coisa (It)
1987 - Os Olhos do Dragão (The Eyes of the Dragon)
1987 - Angústia (Misery)
1987 - Os Estranhos (The Tommyknockers)
1989 - A Metade Negra (The Dark Half)
1990 - A Dança da Morte (expandida) (The Stand: The Complete & Uncut Edition)
1991 - Trocas Macabras (Needful Things)
1992 - Jogo Perigoso (Gerald's Game)
1992 - Eclipse Total (Dolores Claiborne)
1994 - Insônia (Insomnia)
1995 - Rose Madder (Rose Madder)
1996 - À Espera de Um Milagre (The Green Mile)
1996 - Desespero (Desperation)
1998 - Saco de Ossos (Bag of bones)
1999 - A Tempestade do Século
1999 - The Girl Who Loved Tom Gordon (não publicado no Brasil))
2000 - Riding the Bullet (não publicado no Brasil)
2001 - O Apanhador de Sonhos (Dreamcatcher)
2001 - A Casa Negra (Black House, escrito com Peter Straub)
2002 - Buick 8 (From a Buick 8)
2005 - O Rapaz do Colorado
2006 - Celular (Cell)
2006 - LOVE: A História de Lisey (Lisey’s Story)
2008 - Duma Key (Duma Key)
2009 - Under the Dome
2010 - Blockade Billy
Fontes:
http://www.stephenking.com/the_author.html
http://www.imdb.com/title/tt0081505/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stephen_King


Fonte de origem:

Domingo Na Usina: Biografias:Domingos José Gonçalves de Magalhães:


Primeiro e único barão e visconde do Araguaia, (Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1811 – Roma, 10 de julho de 1882) foi um médico, professor, diplomata, político, poeta e ensaísta brasileiro, tendo participado de missões diplomáticas na França, Itália, Vaticano, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de ter representado a província do Rio Grande do Sul na sexta Assembleia Geral.
 Filho de Pedro Gonçalves de Magalhães Chaves.
 Morreu em Roma, onde exercia cargos diplomáticos junto à Santa Sé, no ano de 1882.
 Ingressou em 1828 no curso de medicina, diplomando-se em 1832. No mesmo ano estreou com "Poesias" e, no ano seguinte, parte para a Europa, com a intenção de se aperfeiçoar em medicina.
 Em 1838, é nomeado professor de Filosofia do Colégio Pedro II, tendo lecionado por pouco tempo.
 De 1838 a 1841 foi secretário de Caxias no Maranhão e de 1842 a 1846 no Rio Grande do Sul. Em 1847 entrou para a carreira diplomática brasileira. Foi Encarregado de Negócios nas Duas Sicílias, no Piemonte, na Rússia e na Espanha; ministro residente na Áustria; ministro dos Estados Unidos, Argentina e na Santa Sé, onde morreu.
Títulos nobiliárquicos e honrarias
Comendador da Imperial Ordem de Cristo e da Ordem de São Francisco I de Nápoles, dignitário da Imperial Ordem da Rosa e oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro.
 Barão do Araguaia
Título conferido por decreto imperial em 17 de julho de 1872. Faz referência ao rio Araguaia, que em tupi significa rio do vale dos papagaios.
 Visconde do Araguaia
Título conferido por decreto imperial em 12 de agosto de 1874.
 Foi pai de Antônio José Gonçalves de Magalhães de Araguaia, nascido cerca de 1858, que recebeu o título de "Conde de Araguaia", concedido pela Santa Sé[1] .
 Gonçalves de Magalhães e o romantismo[editar | editar código-fonte]
 Três renomados escritores brasileiros do século XIX. Da esquerda para direita: Gonçalves Dias, Manuel de Araújo Porto-Alegre e Gonçalves de Magalhães (1858).
Recém-formado em Medicina, viaja para a Europa, onde entra em contato com as ideias românticas, fator essencial para a introdução do movimento no Brasil.
 Sua importância está no fato de ter sido o introdutor do romantismo no Brasil, não obstante suas obras serem consideradas fracas pela crítica literária. Embora fosse voltado para a poesia religiosa, como fica claro em Suspiros poéticos e saudades, também cultivou a poesia indianista de caráter nacionalista, como no poema épico A Confederação dos Tamoios (esta obra lhe valeu agitada polêmica com José de Alencar, relativa à visão de cada autor sobre o índio), ambas bastante fantasiosas.
 Em contato com o romantismo francês, publicou em 1836 seu livro "Suspiros poéticos e saudades", cujo prefácio valeu como manifesto para o romantismo brasileiro, sendo por isso considerado o iniciador dessa escola literária no país. Em parceria com Araújo Porto-Alegre e Torres Homem, lançou a revista "Niterói", no mesmo ano. Introduziu ali seus principais temas poéticos: as impressões dos lugares que passou, cidades tradicionais, monumentos históricos, sugestões do passado, impressões da natureza associada ao sentimento de Deus, reflexões sobre o destino de sua Pátria, sobre as paixões humanas e o efêmero da vida. Ele reafirma, dentro de um ideal religioso, que a poesia tem finalidade moralizante, capaz de ser instrumento de elevação e dignificação do ser humano, condenando o estilo mitológico.
 Ao retornar ao Brasil, em 1837, é aclamado chefe da "nova escola" e volta-se para a produção teatral, que então era renovada com a produção de Martins Pena e os desempenhos de João Caetano. Escreve duas tragédias: "Antônio José" ou "O poeta e a Inquisição" (1838) e "Olgiato" (1839).
 Apesar de suas ideias, várias vezes as traiu por conta de sua formação neoclássica. O poema épico "Confederação dos Tamoios" foi escrito nos moldes de O Uraguai, retornando assim ao arcadismo. Esse fato gerou grande polêmica, tendo sido atacado por José de Alencar e defendido por Monte Alverne e pelo imperador Dom Pedro II.
 Psychologia e Physiologia
Segundo Massimi,[2] . Magalhães foi um dos precursores do ensino da psicologia no Brasil, quando essa ciência ainda se iniciava, transitando entre os estudos parapsicológicos e psicopatológicos. Professor do curso “Lições de Philosophie” (1837) do Colégio Imperial Pedro II com dois livros publicados sobre o tema (Os fatos do espírito humano, de 1865, e A alma e o cérebro, estudos de Psychologia e Physiologia, de 1876), típicos exemplares da influência francesa de filosofia espiritualista, segundo a autora .
 Em 1875, uma tese sobre o mesmo tema foi examinada pela banca e sumariamente recusada. Tratava-se da tese de conclusão de curso intitulada Funcções do cérebro de Domingos Guedes Cabral. Tal rejeição não foi aceita pelos alunos pois que, no ano seguinte, imprimiu-se em livro a referida tese vinculada às teorias darwinistas. Apesar de não se ter localizado uma manifestação específica de sua posição quanto a esse acontecimento, como se tem das questões indigenistas e especificamente sobre a “Confederação dos tamoyos”, é evidente que se posicionava pela impossibilidade de redução das faculdades intelectuais e morais do homem frente ao conhecimento prévio da natureza e dos animais.
Apesar do seu erro de imaginar que mesmo nas teorias sobre os múltiplos centros de decisão e pensamento de Franz Joseph Gall (1758 —1828) e outros frenologistas se anularia “ser único que em nós pensa, e que repele a anarquia de tantas forças primitivas” e que ao se tomar o estudo dos animais para melhor compreensão dos processos fisiológicos humanos no que concerne ao estudo do cérebro , estaríamos negando a especificidade da consciência tida como identidade do “eu”, e ação da vontade e força motriz vital Magalhães primava pelo estudo da moral e da sociedade. A psicologia, entendida como o estudo filosófico do conhecimento do homem, e a fisiologia, o seu estudo orgânico hierarquicamente subordinados, a seu ver, à frenologia, endossava as teorias fatalistas (contra o livre-arbítrio), segundo as quais o homem estaria submetido “ao império do destino”, “que ora o fixa ao escolho como uma ostra inerte, ora o eleva em turbilhão como a poeira”[3]
Massimi,[4] analisando o processo de substituição do conceito de "Alma" pelo estudo do "Eu", proposta pelos espiritualistas em refutação à impossibilidade de conhecer a subjetividade identificada por téoricos organicistas, destaca a posição de Gonçalves de Magalhães de deixar de lado as causas ocultas dos fenômenos internos da mesma forma que se pode estudar os fenômenos físicos sem entrar na indagação sobre a natureza íntima da matéria.
Obras
Suspiros poéticos e saudades, poesia (1836) — Considerada a obra inaugural do romantismo brasileiro
Discurso sobre a história da literatura do Brasil, manifesto publicado na revista Nictheroy (1836)
Antônio José ou O poeta e a Inquisição, peça de teatro (1838)
A confederação dos Tamoios, poema épico (1856)
Os mistérios, poesias (1857)
Os fatos do espírito humano, tratado filosófico (1858)[5] — Considerada obra pioneira da filosofia no Brasil[6]
Os indígenas do Brasil perante a História (1860)
Urânia, poesias (1862)
Cânticos fúnebres, poesias (1864)
A alma e o cérebro, ensaios (1876)
Comentários e pensamentos (1880).
fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Gon%C3%A7alves_de_Magalh%C3%A3es

Domingo Na Usina: Biografias: Manuel Antônio de Almeida:


Nascido e falecido no Rio de Janeiro, Manuel Antônio de Almeida foi um importante fomentador das letras brasileiras. Seu romance mais famoso, Memórias de um Sargento de Milícias, foi publicado em formato de folhetim entre os anos de 1852 e 1853 no periódico Correio Mercantil do Rio de Janeiro. A ideia para a composição do romance surgiu após ouvir as histórias de um colega de jornal, um antigo sargento comandado pelo Major que inspirou o personagem homônimo do livro.
O romance é uma obra inovadora para sua época pois rompe com o retrato exclusivo da vida e dos hábitos da aristocracia para retratar o ambiente e a linguagem do povo em sua simplicidade. Além disso, Leonardinho, o protagonista, não é o protótipo do herói romântico, mas sim, um menino travesso que mais tarde se transforma em um jovem pícaro, dado à vadiagem e à malandragem no lugar de procurar uma ocupação.
O gênero picaresco
O gênero picaresco, na literatura, é caracterizado pela narrativa de um pícaro, sinônimo para malandro. O personagem é, geralmente, um garoto inocente e puro que é corrompido e desiludido à medida em que cresce e toma contato com a realidade do mundo adulto. Nas suas origens espanholas e medievais, o personagem sempre termina desiludido e adaptado às condições de um mundo na miséria ou em um casamento que não lhe proporciona nenhum tipo de prazer. No entanto, no romance brasileiro o "pícaro" Leonardinho difere um pouco do espanhol por não ser um personagem tão inocente e por terminar feliz em sua vida adulta e em seu casamento.
Se há tantas rupturas, o que faz de Manoel Antônio de Almeida um escritor do romantismo brasileiro? Embora haja muitas convenções do romance romântico em sua obra, tais como o tom irônico e satírico do narrador, o estilo frouxo, a linguagem descuidada e o final feliz do romance, o livro inova por envolve personagens das classes mais baixas da sociedade, o clero e a milícia além de não idealizar seus personagens.
O compadre quer ver Leonardinho instruído pois quer vê-lo como padre ou formado em Direito, diferentemente do romance pícaro original, em que os protagonistas precisam fazer trabalhos manuais (geralmente nas posições mais baixas como criado ou ajudante de cozinheiro) para garantir seu sustento. Além disso, ao final do romance, ele casa com seu amor e recebe "cinco heranças" sem precisar trabalhar para isso. O que faz de Leonardinho um pícaro com características à parte e o transforma em mais um tipo brasileiro.

O romance é considerado por alguns teóricos como o primeiro romance realmente de costumes brasileiro por retratar a sociedade em toda a sua simplicidade e Manoel Antonio de Almeida é por vezes considerado um autor de transição entre o Romantismo e o período seguinte, o Realismo. Além disso, o autor traz para o enredo elementos que até então não eram retratados pelos romancistas, como acampamentos de ciganos e bares frequentados pelas camadas sociais mais baixas.
Memórias de um Sargento de Milícias (1852)
Publicado em formato de folhetim, o romance narra a história de Leonardinho, filho dos portugueses Leonardo Pataca e Maria-da-Hortaliça que chegam ao Rio de Janeiro. Na viagem em direção ao Brasil, Leonardo dá uma pisadela em Maria, que retruca com um beliscão. "Nove meses depois, filho de uma pisadela e um beliscão, nascia Leonardo." Porém, abandonado pelos pais, acaba sendo criado pelo compadre barbeiro. Largado à vagabundagem, o personagem é o protótipo do malandro brasileiro. 
Veja trecho abaixo:
 Capítulo I - Origem, nascimento e batizado

(...)
 Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda  e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte  estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
 Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
 (...)
 Capítulo II - Primeiros Infortúnios
 (...)
 Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa; até que a Maria, exasperada pelo que aquilo lhe havia custar aos ouvidos, e talvez às costas, arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava; trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas.

Assim chegou aos 7 anos.
Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma  ocasião, recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. Isto porém passou sem mais novidade.
Depois começou a estranhar que um certo colega seu o procurasse em casa, para tratar de negócios do oficio, sempre em  horas desencontradas: porém isto também passou em breve. Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. Um dia de manhã entrou sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e desapareceu.
À vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu, como se costuma dizer, as estribeiras; ficou cego de ciúme. Largou apressado sobre um banco uns autos que trazia embaixo do braço, e endireitou para a Maria com os punhos cerrados.
— Grandessíssima!...
E a injúria que ia soltar era tão grande que o engasgou... e pôs-se a tremer com todo o corpo.
A Maria recuou dois passos e pôs-se em guarda, pois também não era das que se receava com qualquer coisa.
— Tira-te lá, ó Leonardo!
— Não chames mais pelo meu nome, não chames... que tranco-te essa boca a socos...
— Safe-se daí! Quem lhe mandou pôr-se aos namoricos comigo a bordo?
Isto exasperou o Leonardo; a lembrança do amor aumentou-lhe a dor da traição, e o ciúme e a raiva de que se achava possuído transbordaram em socos sobre a Maria, que depois de uma tentativa inútil de resistência desatou a correr, a chorar e a gritar:
— Ai... ai... acuda, Sr. compadre... Sr. compadre!...
Porém o compadre ensaboava nesse momento a cara de um freguês, e não podia largá-lo. Portanto a Maria pagou caro e por junto todas  as contas. Encolheu-se a choramingar em um canto.
O menino assistira a toda essa cena com imperturbável sangue-frio: enquanto a Maria apanhava e o Leonardo esbravejava, este ocupava-se tranqüilamente em rasgar as folhas dos autos que este tinha largado ao entrar, e em fazer delas uma grande coleção de cartuchos.
Quando, esmorecida a raiva, o Leonardo pôde ver alguma coisa mais do que seu ciúme, reparou então na obra meritória em que se ocupava o pequeno. Enfurece-se de novo: suspendeu o menino pelas orelhas, fê-lo dar no ar uma meia-volta, ergue o pé direito, assenta-lhe em cheio sobre os glúteos, atirando-o sentado a quatro braças de distância.
— És filho de uma pisadela e de um beliscão; mereces que um pontapé te acabe a casta.

fonte de origem:
http://www.soliteratura.com.br/romantismo/romantismo11.php