quarta-feira, 25 de maio de 2022

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:



Trajetória

No fim da inocência um sonho.
Em plena adolescência um desejo.
Na maturidade uma possibilidade.
E na melhor idade simplesmente um fato.
Como tudo neste mundo.
O início, o meio e um inevitável
recomeçar Sempre...

conteúdo do livro:]



Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:




Vazio

Digladie com a morte,
abandonei toda sorte.
E a cada dia, o meu eu emerge do
vazio de cada amanhecer, na esperança
de um entardecer de glórias.

conteúdo do livro:



Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:



Avesso

A réstia que corta o horizonte na linha reta
do meu pensar, me da o repouso do
aconchego do colo da vida que escorrega,
nas mãos do falso destino de menino travesso....

conteúdo do livro:




Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:



A mensagem

Esse oval do seu rosto, aquelas tranças tranqüilas, o seu lábio triste e ardente,
luz de vela a tremer em um quarto de doente, tantos anos depois, 
eu os vi novamente numa imagem de altar... Tão linda, parecia
uma Nossa Senhora adolescente
antes da Anunciação, quando era - simplesmente - Maria!
Em instantes de angústia, esta fugaz imagem de alguém que há muito já se foi
 - pobre criança! - timidamente a alma me ilumina...
Dize, que foste tu contar do mundo ao Paraíso?
Por que só podes dar tua mensagem com a luz silenciosa de um sorriso...

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:

 


A rua

A rua é um rio de passos e de vozes, um rio terrível que me vai levando,

mas estou só, como se está na infância... ou quando a morte vai se aproximando... No ar, agora, que distante aroma?

Decerto eu sem saber pensei em ti... E um vôo de andorinha na distância é a minha saudade que eu te mando. Mas tudo, nesse tumultuoso rio,

não fica nunca ao fundo da lembrança como no seio azul de uma redoma...

Tudo se afasta nessa correnteza onde uma flor, às vezes, fica presa

e um claro riso sobre as águas dança!


Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana:



Poema ouvindo o noticioso
Os acontecimentos tombam como moscas sobre a [minha mesa
z...z...z...z...z...z...z...z...
De junto a mim
- len-ta-men-te -
a Presença Invisível afasta-se deixando
um rastro
de silêncio...
A página aguarda
O Poeta aguarda, mudo... Em vão!
(O limite do poema é uma página em branco).

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:



42.

"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.
Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento.
Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela, por aquele mesmo extremo de um sentimento , pelo qual o apavorado se não afasta do perigo. Há porcos de destino, como eu, que se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atracção da própria impotência. São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão.
Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore do usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu não sigo."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:



40.

"A humanidade tem medo da morte, mas incertamente."
41"E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou."
"Verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste."
"Não vejo, sem pensar."
"Não há sossego - e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:


39.

"Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, 
esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, 
dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê."
"E, por fim, tenho sono, porque, não sei porquê, acho que o sentido é dormir."