quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Poesia De Quinta Na Usina:: Fernando Pessoa; Vendaval:


Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!
Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.
Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles — teu pulso divida
Minh'alma do mundo!
Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!
Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu penssamento
Para ele morrer?
Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!
E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.
E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!
Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!

Poesia De Quinta Na Usina: Florbela Espanca: CEGUEIRA BENDITA:



Ando perdida nestes sonhos verdes De ter nascido e não saber quem sou, 
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou! Não vejo nada, tudo é morto e vago... 
E a minha alma cega, ao abandono Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho... 
Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo E não ver nada nesse mar sem fundo, 
Poetas meus irmãos, que triste sorte!...

E chamam-nos a nós Iluminados! Pobres cegos sem culpas, sem pecados, 
A sofrer pelos outros té à morte!

Poesia De Quinta Na Usina: Paulo Leminski:



Os dentes afiados da vida preferem  a carne
na mais tenra infância quando
as mordidas doem mais
e deixam cicatrizes indeléveis quando
o sabor da carne
ainda não foi estragado pela salmoura do dia a dia é quando
ainda se chora é quando
ainda se revolta é quando

ainda...

Poesia De Quinta Na Usina: D'Araujo: Poema: Inesperado.


Um ser que aparece do nada e faz 
sucumbir qualquer poder de reação contrária.

O cantarolar do vento que bate em meu 
rosto me traz o gosto e o prazer de estar 
com você e poder entender o entardecer 
da lógica diante o inesperado.

Então fico calado a observar a 
importância da tua existência diante a minha.

D'Arujo.









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Poesia De Quinta Na Usina: D'Araújo. A ilusão do amanhã:




Todos correndo inutilmente atrás do metal da felicidade
Na doce ilusão de preencher o imenso vazio que se forma
Por não dar importância as coisas que realmente importam.
Como, o sorriso espontâneo, o até logo sem compromisso,
O afago verdadeiro, e os beijos despretensiosos de pura cortesia.
Como a alma humana se aliena com tanta facilidade
Para o caminho que não leva a nada.
Por isso, viva seus dias, com a leveza do eterno
Com a ingenuidade dos tolos, e com a sabedoria das crianças,
Onde o único impossível é não ser.

Publicado em 09-02-2020.
Editora: Clube de Autores: