domingo, 29 de agosto de 2021

"INSÔNIAS" D'Araújo:

 


Simples Assim

A vida é simples assim.

Viver e amar, amar e viver.

Viver e amar, até a existência se esvair.

Em um desejo eterno de poder ficar e continuar a viver

e amar, amar e viver....

Conteúdo do livro:

"INSÔNIAS"



Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: SAGA DA RECUPERAÇÃO – MULETAS SENTIMENTAIS:



Acordei de madrugada com um converseiro danado perto de mim. Quando olhei direitinho, vi que era o meu joelho conver- sando com as muletas. Estava se despedindo delas e jogando charme. Chega estava inchado de tanto chorar, só para fazer drama (ele sabe que mulher se derrete toda quando vê um homem sentimental). 
Como elas são gêmeas, o escrotinho estava atirando para todo lado, pois no escuro, não conseguia as distinguir. 
Ele dizia que não sabia como ia ser dali pra frente. Como é que ia subir na vida sem elas? (subir na vida para ele é subir um degrau, um meio-fio, um batente, etc...). Disse que o que ia sentir mais falta era quando elas ficavam deitadas no colo dele, quando o “véio” saía de casa. Porra, mermão, esse véio sou eu. Sacanagem. 
Estou tratando bem esse sacana, pois o levo todo dia para a fisioterapia (duvido ele ir sozinho). Já o levei para um monte de festa. Tem até uma almofada só pra ele (o que causa ciúmes do outro joelho). 
Já estava até pensando em deixar as muletas passar mais um final de semana aqui em casa e dormirem no mesmo quarto que esse safado. Ainda ia levá-las para a praia, para que ele pudesse vê-las de biquíni. E ele me vem com essa desfeita! 
Tem nada não. 
Quando começar a musculação, ele vai ver o que é bom para tosse.

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: SAGA DA RECUPERAÇÃO - CATREVAGEM:


Hoje recebi a excelente notícia de que a partir de 10 de janeiro não usarei mais as muletas, utilizarei uma bengala (ainda isso?) e já poderei começar a dirigir em pequenos percursos. Além disso, também começarão os exercícios de propriocepção (não quero nem saber o que é) e na academia. 
Mas a sacanagem já começa lá em casa. Contei a situação a Ana Flávia e as filhas na maior alegria. Porém, ao passar pela Av. Nascimento de Castro, passamos em frente a uma academia que tem o seguinte cartaz: 
“Academia específica para idosos, hipertensos, diabéti- cos e pacientes pós-cirúrgicos”. 
O problema é que as sacaninhas lá de casa incluíram: E AS DEMAIS CATREVAGENS, e olhando profundamente nos meus olhos e rindo. 
Rapaz, pense num apoio da peste. Pois nem precisava acrescentar as demais catrevagens, porque já sou idoso, hiper- tenso e pós-cirúrgico. 
A diabete vou adquirir já já, na ceia de ano novo, só pra sacanear.

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: SAGA DA RECUPERAÇÃO - ESSA EU NÃO DEVIA CONTAR:


Todos nós sabemos que quando se faz uma cirurgia do joelho é necessário ficar um bom tempo com a perna imobilizada. E mesmo após a retirada da imobilização, ainda se passa um bom tempo fazendo fisioterapia para conseguir dobrar o joelho e flexionar a perna. 
Pois bem, ao receber o convite de um casal amigo para visitar o apartamento deles, mesmo ainda de muletas, constatei que alguns arquitetos e engenheiros não estão tão preocupados com a moradia em si, mas com o que pode ser oferecido ao redor, tais como: área de lazer com 14 piscinas, 10 churrasqueiras, salão de jogos (nem que tenha só uma mesa para jogar dama), academia de ginástica, etc... 
O casal amigo não mora, se comprime. Mas o pior es- tava por vir, pois o assunto não é dos melhores, mas acontece até com a realeza. 
Sabe quando o cérebro recebe a informação do in- testino, via whatsapp, e já na versão 4.0, que a situação está complicada, e vem diarreia na velocidade da luz? É naquela situação em que a temperatura ambiente está uns 35°C, mas assim mesmo você se arrepia todinho. Todo mundo vê e já sabe do que se trata, mas você pensa que não. E chega a um ponto que o complô do cérebro, do intestino e do “fresado” já está em passeata, com megafone e tudo. Você se comprime todo para ver se o som do megafone sai abafado. Mas é pior. Com o respeito da palavra - bufa fede mais do que peido. 
Então, me levantei e pedi para me indicarem o sanitário. Não acreditei no que vi quando abri a porta. 
Na frente, raspando na porta, estava o box (daqueles que do jeito que você entra, tem que terminar o banho, e ja- mais consegue passar o sabonete na sola do pé - a não ser que abra o box). Na esquerda, encostado à porta, estava o vaso 





sanitário. E na sua frente, uma minúscula pia, em cima de um minúsculo armário. Entre o box e o armário da pia havia um pequeno espaço.

Esse preâmbulo todo, mas a merda já estava pronta, e a decisão tinha que ultrarrápida. Questão de segundos. O que acontecia: sem poder dobrar o joelho, não vi como sentar no vaso sanitário. Sou tão azarado, que a brechinha entre o Box e o armário da pia servia para a perna esquerda, mas eu operei a direita.

Como o cérebro já havia liberado a encomenda, o intestino é submisso e já acatou sem questionar, só restava eu confiar num abestalhamento do “fresado”. Numa titubeada dele, eu sentei lateralmente, com as pernas estiradas para trás da porta fechada.

Pronto: veio à avalanche. Num momento de calamidade pública, devem-se seguir as regras. Mas o sacana do “fresado” abriu as comportas sem sequer esperar pela sirene que toca para a “população evacuar”.

Terminado o serviço, veio outro problema. Como fazer a limpeza do “fresado”, se ao sentar lateralmente, não fica aquele espaço oval dos vasos sanitários em que conseguimos enfiar a mão com o papel em branco e que sai timbrado? Fiquei lembrando que nas penitenciárias, nos banheiros de avião e nos banheiros de shopping, há espaço para estirar as pernas. Menos nos apartamentos novos.

Fiz uma ginástica miserável, mas consegui. Sai tão suado que o colega falou: sair do frio para o calor nessa ve- locidade pode dar choque térmico.

Educadamente, pensei: vai te reiiaaarrrrrrr.

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: SAGA DA RECUPERAÇÃO – A VINGANÇA DAS MULETAS:




Finalmente encontrei um local em que as pessoas respeitam àqueles que são PNE, ou que temporariamente utilizam cadeiras, muletas ou bengalas. Nessas férias levei a família num sábado para o Manoa Park. De cara, já conseguimos uma vaga em frente à entrada, devido à placa de estacionamento para PNE. 
Por ser no mês de janeiro, tinha muita gente na fila da entrada, e de imediato fui indicado para a fila preferencial. E o valor pago, para o meu caso, foi bem menor do que o valor que paguei para a esposa e filha mais velha, assim como o valor pela entrada das gêmeas de cinco anos. Beleza, entramos rapidamente. 
E pra que toda essa vantagem? Porra nenhuma. Las- quei-me lá dentro. Todos os toboáguas para adultos têm es- cadas gigantes. Mesmo os toboáguas menores também têm escadas. Todas as piscinas têm degraus. 
Se quisesse tomar banho, tinha que me sujeitar a entrar no único local possível e de fácil acesso: uma lâmina d’água de uns 10 a 15 cm, onde só tinha bebezinhos (todos eles naquele estágio em que não pode ver água que faz xixi). 
Resumo: devido o sol de rachar, se quisesse molhar o “espinhaço” ou o “cocuruto”, tinha que encarar uma poça de xixi. 
Mas resolvi encarar a realidade, e passar o calor bebendo umas geladíssimas cervejas debaixo de uma tenda (depois ficam dizendo que encontramos qualquer motivo para beber. E você? Ia mergulhar no xixi ou fazer o que fiz?).

Crônicas de Segunda na Usina: D'Araújo: O Reino aqui é de Deus, mas a fome é por nossa conta:



Ainda lembro-me do meu tempo de menino nos velhos moinhos do meu sertão. 
Onde nos faltava água alimento e chão. 
Enquanto nos velhos palacetes sempre tinha um grande banquete. 
E como nas velhas senzalas, nós também não tínhamos fala e muito menos razão, e os nossos filhos pequenos também nem tinha leite nem pão. 
E o bom vigário a proclamar em seus longos sermões nos dizendo que éramos os escolhidos 
Para povoar o reino do senhor, este nobre criador fiel e justo com a sua criação. 
Mas enquanto ele mesmo o representante do senhor se esbaldava nas mesas dos doutores. 
Enquanto isso nos rios da corrupção que cortava todo sertão, a água só caia no terreno do patrão. E assim muitas décadas se passaram, e agora rouba branco preto mulato pardo e índio, pois todos se acostumaram a se da bem nas costas dos irmãos que passam fome e que muitas vezes nem tem nome. 
E quando aqui famintos nos falta. Eles desembarcam estrangeiros, pois a fome está no mundo inteiro todos loucos por um pouco de dinheiro. O metal que joga todos no mesmo terreiro, pois hoje em dia tanto faz Catedral, Salão, Templo ou terreiro, só entra por lá quem poder deixar um pouco de dinheiro. 
Enquanto lá no andar de cima todos festejam o milagre do senhor. 
Aqui nos porões das senzalas modernas, que todos fazem questão que sejam chamadas de comunidades, vamos todos se engalfinhando tentando pegar carona no elevador para o andar de cima. E nesta guerra declarada os mais desesperados tentam subir pela escada. 
Mas lá em cima só vai quem é sorteado. E assim essas almas escolhidas alimentam os desejos daqueles que ficaram para trás, na esperança de que o generoso Deus tão proclamado. 
Da próxima vez olhe pro lado, e ai. 
Bem ai, talvez você seja escolhido pra descansar no reino dos Céus, lugar este que eu não faço a menor questão de conhecer, pois depois de morrer a míngua nas mãos dos meus próprios irmãos que o senhor criou, eu não quero mimos nem agrado. 
Mesmo assim muito obrigado, por me deixar aqui sempre com alguém ao meu lado. 
Bem, não prometo ficar calado, pois bem sabes que sempre te direi obrigado, mais nunca vou aceitar cabresto deste mal intencionados. 
E apesar de todas essas más querências eu continuo, nordestino sim com muito orgulho, de corpo, alma, sangue suor e lagrima: 
Nascido onde nasci, no escaldante Sol do sertão, e aqui estando eu, na terra dos sonhadores, neste momento, certamente foi porque vim ao mundo com manual de instrução de como criar um filho. 
Na cidade onde nasci e na época que eu nasci, era mais fácil achar um Elefante branco, do que um médico. 
Sem água, sem leite, sem pão e sem grão, Filho de agricultor, em uma terra onde ficava até três anos sem chover, mas fui alimentado com muito amor e dedicação, o que mim salvou foi a minha implacável vontade de viver, e aqueles olhos terno da minha mãe que docemente acariciava minha alma, pois isso fez com que o medo não me acompanhasse, e o tempo me ensinou a duras penas; A acreditar no próximo na mesma proporção que acredito em me mesmo, fiz da poesia o meu grito e o meu alimento, eu não defino como Poeta, sou apenas unas um semeador de sonhos. "Eu não escrevo poemas, eu apenas desenho, em letras, silabas, palavras, frases e versos o que há de melhor na minha Alma". 
Só exalo diariamente o alimento que me foi dado. 
A minha felicidade? Construo um dia de cada vez da minha vida. 
Defeitos: Muitos, Amar em excesso, falar sempre a verdade doa a quem doer, e ,fazer o que gosto, e acreditar cegamente no ser humano. 
Qualidades? Não desisto nunca, e recomeçar nunca me assusta, quando o objetivo é a felicidade. 
Fiz das minhas mãos, o meu trabalho, da poesia, meu alimento, e da força do espirito de sonhador, o combustível para sobreviver em tempos difíceis, pois nada neste mundo é maior que minha fé em Deus e a alegria de viver, Semeando sonhos, criando possibilidades. 
Sempre falo que; "Se a fome e a seca do nordeste, não foi capaz de mim vencer, não vai ser a garoa do sudeste que vai mim derrotar" 
Sou eternamente grato a todos aqueles, amigos, que me amam, os que me toleram e os que me odeiam, eis que direta ou indiretamente têm contribuído para que eu procure ser eu mesmo, me criticando ou elogiando, pois vocês me trouxeram até aqui, eu não seria nada sem vocês. 
“Eu saí do nordeste, mas o nordeste nunca saiu de mim”. 

...FIM...