domingo, 29 de agosto de 2021

Crônicas de Segunda na Usina: D'Araújo: O Reino aqui é de Deus, mas a fome é por nossa conta:



Ainda lembro-me do meu tempo de menino nos velhos moinhos do meu sertão. 
Onde nos faltava água alimento e chão. 
Enquanto nos velhos palacetes sempre tinha um grande banquete. 
E como nas velhas senzalas, nós também não tínhamos fala e muito menos razão, e os nossos filhos pequenos também nem tinha leite nem pão. 
E o bom vigário a proclamar em seus longos sermões nos dizendo que éramos os escolhidos 
Para povoar o reino do senhor, este nobre criador fiel e justo com a sua criação. 
Mas enquanto ele mesmo o representante do senhor se esbaldava nas mesas dos doutores. 
Enquanto isso nos rios da corrupção que cortava todo sertão, a água só caia no terreno do patrão. E assim muitas décadas se passaram, e agora rouba branco preto mulato pardo e índio, pois todos se acostumaram a se da bem nas costas dos irmãos que passam fome e que muitas vezes nem tem nome. 
E quando aqui famintos nos falta. Eles desembarcam estrangeiros, pois a fome está no mundo inteiro todos loucos por um pouco de dinheiro. O metal que joga todos no mesmo terreiro, pois hoje em dia tanto faz Catedral, Salão, Templo ou terreiro, só entra por lá quem poder deixar um pouco de dinheiro. 
Enquanto lá no andar de cima todos festejam o milagre do senhor. 
Aqui nos porões das senzalas modernas, que todos fazem questão que sejam chamadas de comunidades, vamos todos se engalfinhando tentando pegar carona no elevador para o andar de cima. E nesta guerra declarada os mais desesperados tentam subir pela escada. 
Mas lá em cima só vai quem é sorteado. E assim essas almas escolhidas alimentam os desejos daqueles que ficaram para trás, na esperança de que o generoso Deus tão proclamado. 
Da próxima vez olhe pro lado, e ai. 
Bem ai, talvez você seja escolhido pra descansar no reino dos Céus, lugar este que eu não faço a menor questão de conhecer, pois depois de morrer a míngua nas mãos dos meus próprios irmãos que o senhor criou, eu não quero mimos nem agrado. 
Mesmo assim muito obrigado, por me deixar aqui sempre com alguém ao meu lado. 
Bem, não prometo ficar calado, pois bem sabes que sempre te direi obrigado, mais nunca vou aceitar cabresto deste mal intencionados. 
E apesar de todas essas más querências eu continuo, nordestino sim com muito orgulho, de corpo, alma, sangue suor e lagrima: 
Nascido onde nasci, no escaldante Sol do sertão, e aqui estando eu, na terra dos sonhadores, neste momento, certamente foi porque vim ao mundo com manual de instrução de como criar um filho. 
Na cidade onde nasci e na época que eu nasci, era mais fácil achar um Elefante branco, do que um médico. 
Sem água, sem leite, sem pão e sem grão, Filho de agricultor, em uma terra onde ficava até três anos sem chover, mas fui alimentado com muito amor e dedicação, o que mim salvou foi a minha implacável vontade de viver, e aqueles olhos terno da minha mãe que docemente acariciava minha alma, pois isso fez com que o medo não me acompanhasse, e o tempo me ensinou a duras penas; A acreditar no próximo na mesma proporção que acredito em me mesmo, fiz da poesia o meu grito e o meu alimento, eu não defino como Poeta, sou apenas unas um semeador de sonhos. "Eu não escrevo poemas, eu apenas desenho, em letras, silabas, palavras, frases e versos o que há de melhor na minha Alma". 
Só exalo diariamente o alimento que me foi dado. 
A minha felicidade? Construo um dia de cada vez da minha vida. 
Defeitos: Muitos, Amar em excesso, falar sempre a verdade doa a quem doer, e ,fazer o que gosto, e acreditar cegamente no ser humano. 
Qualidades? Não desisto nunca, e recomeçar nunca me assusta, quando o objetivo é a felicidade. 
Fiz das minhas mãos, o meu trabalho, da poesia, meu alimento, e da força do espirito de sonhador, o combustível para sobreviver em tempos difíceis, pois nada neste mundo é maior que minha fé em Deus e a alegria de viver, Semeando sonhos, criando possibilidades. 
Sempre falo que; "Se a fome e a seca do nordeste, não foi capaz de mim vencer, não vai ser a garoa do sudeste que vai mim derrotar" 
Sou eternamente grato a todos aqueles, amigos, que me amam, os que me toleram e os que me odeiam, eis que direta ou indiretamente têm contribuído para que eu procure ser eu mesmo, me criticando ou elogiando, pois vocês me trouxeram até aqui, eu não seria nada sem vocês. 
“Eu saí do nordeste, mas o nordeste nunca saiu de mim”. 

...FIM...

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