quarta-feira, 10 de março de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 


Opera de Dor

Do alto da minha ignorância proclamada.

Vejo a benevolência dos hipócritas

Estendida à incompetência do ser.

 

Vejo as nuvens de fumaça

A sobrevoar a praça

Onde a tristeza passa.

 

Vejo a desgraça alheia

Entre as meias verdades e poucas mentiras

Vejo a alegria oculta e vazia.....

poema na Integra no Livro:

"O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina; D'Araújo:

 


Todos os dias 

Vamos dar gargalhadas de alegria

Desse bando de hipocrisia

E expor a nossa agonia de cada dia

Mesmo que tardia

 

Mas quem sabe um dia

Teremos dias de alegria

E como poesia

Um amanhecer de um novo dia

Que nos traga a felicidade......


Poema na Integra no Livro:

 "O Grito da Alma"

Poesia de quinta na Usina; D'Araújo:

 


Caatinga

Na caatinga eu nasci

Na caatinga me criei

Na caatinga eu vivi

Mas depois que de lá eu saí.....


Poema na integra no Livro:

"O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:

 




SONETO

A orgia mata a mocidade, quando Rugem na carne do delírio as feras, 
E o moço morre como está sonhando Nas suas vinte e cinco primaveras.
Em cima -- o oiro sem mancha das esferas, Em baixo oiro manchado de execrando 
Festim de sibaritas, de heteras Lubricamente se despedaçando!
Em cima, a rede do estelário imáculo Suspensa no alto como um tabernáculo 
-- A orgia, em baixo, e no delírio doudo
Como arvoredos juvenis tombados Os moços mortos, os brasões manchados,
E um turbilhão de púrpuras no lodo!

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:

 




SONETO

E ele morreu. Ele que foi um forte Que nunca se quebrou pelo Desgosto Morreu... 
mas não deixou na ara do rosto Um só vestígio que acusasse a Morte!
O anatomista que investiga a sorte Das vidas que se abismam 
no Sol-posto Ficaria admirado do seu rosto
Vendo-o tão belo, tão sereno e forte!
Quando meu Pai deixou o lar amigo 
Um sabiá da casa muito antigo, 
Que há muito tempo não cantava lá,
Diluiu o silêncio em litanias...
E hoje, poetas, já faz sete dias 
Que eu ouço o canto desse sabiá!

Poesia de quinta na Usina; Augusto dos Anjos:



VAE VICTIS

A Dor meu coração torça e retorça E me retalhe como se retalha 
Para escárnio e alegria da canalha Um leão vencido que perdeu a força!
Sobre mum caia essa vingança corsa, Já que perdi a última batalha!
E, enquanto o Tédio a carne me trabalha, A Dor meu coração torça e retorça!
Cubra-me o corpo a podridão dos trapos! Os vibriões, os vermes vis, os sapos 
Encontrem nele pábulo eviterno...
-- Repositório de milhões de miasmas Onde se fartem todos os fantasmas, 
Primavera, verão, outono, inverno!


Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 


 

V

 

E desde então existo, mas não vivo;

 

Só tenho sentimento

 

Nesse elo fatal por onde a vida

 

Se prende ao sofrimento.

 

Vi na infância relâmpago afogado

 

Em negra escuridão;

 

De amor nas breves ditas vil mentira,

 

Na glória uma ilusão.

 

Eis porquê, dos prazeres desquitado,

 

O rosto em pranto inundo;

 

Tudo odeio, e pareço desposado

 

Com seres doutro mundo.

 

E na verdade o estou: pena minh’alma

 

Nas sombras da amargura...

 

Homens! fugi de mim; não vos pertenço —

 

Sou outra criatura.

 

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 


IV

 

Outro fantasma, a glória,

 

Da passada visão invade o posto.

 

Pelos mares risonhos da esperança

 

Ao batel do desejo abrindo as velas

 

Minh’alma foi buscá-lo.

 

De pintor bem falaz condão tem ele

 

Muito para temer; do entusiasmo

 

Nas lavas do vulcão acende o facho,

 

Que os desenhos lhe aclara: esposa amante,

 

Dá-lhe, a imaginação, seus cofres todos,

 

Donde tira estampas que copia

 

Nas telas do futuro. De seus quadros

 

Na beleza enlevada a viajante

 

Navega sem sentir.

 

Eis ponto negro

 

No azulado horizonte surge, e estende

 

Asas de tempestade! Às vistas magas

 

Reposteiro de ferro mão ignota

 

Rápido corre, e presto em lastro imenso

 

De aguçados cachopos se convertem

 

As aniladas ondas. Rola o lenho

 

Por sobre o pedregal, e mastro e leme,

 

Enrolados na vela espedaçada,

 

O sopro de um tufão some nos ares!

 

Rompendo a cerração espectro em osso

 

De repente aparece, sacudindo

 

Na destra uma mortalha: envolto nela

 

Desceu meu pai à campa!...

 

Musa, basta...

 

Pare-se um pouco aqui; nas tuas asas,

 

Que não neste papel, corra meu pranto...

 

Apara-o, anjo meu; depois os mares

 

Transpõe... o lar dos mortos não te assusta —

 

Não é assim? Pois bem, irmã querida,


 

 

 

6


 

Na terra — nossa mãe — suspende os vôos;

 

Busca a sombria região dos túmulos,

 

E lá, depois de um beijo dar na campa

 

De nosso amado pai, depõe sobre ela

 

Este pranto que verto.

 

Enfim bonança

 

Ímpia resplandeceu sobre os destroços

 

Que fez o vendaval. Único vivo,

 

Em pé sobre um rochedo, contemplei-os

 

E  ri-me... e neste riso agonizou-me A última esperança... foi a síntese

De minha vida inteira; — estreita fresta Por onde, desmaiada e quase morta,

Minh’alma um raio morno

 

De prazer sepulcral mandava ao mundo.

 

E o Gênio, que viu meu berço,

 

Dentre os cachopos surgiu,

 

E olhando os estragos riu,

 

Contente de minha dor.

 

Do Gênio estava completa

 

Toda inteira a profecia:

 

Era o que o Gênio dizia

 

No seu riso mofador.

Poesia de Quinta na Usina: Laurindo Ribeiro:

 


O meu segredo IV

 

Mas esse tempo de encantos,

 

Que nunca julguei ter fim,

 

Não é hoje para mim

 

Mais que morta e seca flor!...

 

Do gênio mau completou-se

 

A primeira profecia:

 

Era o que o Gênio dizia

 

No seu riso mofador.

 

A  natureza calou-se Desde que o Gênio me viu; Minha alma inteira sentiu Repentina mutação,

 

Dei por mim em terra estranha; Tive novos pensamentos; Tive novos sentimentos; Criei novo coração.

 

Visão do Céu... não — da terra;

 

Não podia ser do Céu;

 

Que Deus no domínio seu

 

Falsos arcanjos não quer;

 

Visão, que da natureza

 

Toda a graça revestia,

 

Por desdita vi um dia

 

Num semblante de mulher.

 

Tinha a visão tal encanto,

 

Que, ao vê-la, absorto fiquei;

 

Tanto, que não escutei

 

O profundo soluçar

 

Da inocência, que, sentindo

 

Da paixão a ardente calma,

 

Abraçada com minh’alma

 

Se despedia a chorar.

 

Vida de louco passei;

 

Mas achei nessa loucura

 

Tanto bem — tanta ventura,

 

Quais nunca a razão me deu;

 

Que, se a razão da verdade

 

Tem os claros resplendores, —

 

Amor o reino das flores

 

Tem todo inteiro por seu.

 

E a esta senda estrepada,

 

Que à morte os seres conduz,

 

O que lhe importa uma luz,

 

Se a não tapiza uma flor?

 

E se amor, além de flores,

 

Também possui um clarão,

 

Antes amor sem razão,

 

Do que razão sem amor.

 

 

 

 

5


 

Mas foi-se o tempo de risos

 

Da minha feliz loucura!...

 

Libei o fel da amargura

 

No mel de um beijo traidor!...

 

Do Gênio mau completou-se

 

A segunda profecia:

 

Era o que o Gênio dizia

 

No seu riso mofador.

 

Dessa profunda chaga resta ainda

 

Dorida cicatriz: a mão do tempo

 

Talvez cure-a por fim; mas não tão cedo,

 

Que inda verte de si pútrido sangue,

 

Se a magoam cruéis reminiscências

 

De quadra tão feliz.