O meu segredo IV
Mas esse
tempo de encantos,
Que nunca
julguei ter fim,
Não é
hoje para mim
Mais que
morta e seca flor!...
Do gênio
mau completou-se
A
primeira profecia:
Era o que
o Gênio dizia
No seu
riso mofador.
A natureza calou-se Desde que o Gênio me viu; Minha alma inteira sentiu
Repentina mutação,
Dei por mim em terra estranha; Tive novos pensamentos; Tive novos
sentimentos; Criei novo coração.
Visão do
Céu... não — da terra;
Não podia
ser do Céu;
Que Deus
no domínio seu
Falsos
arcanjos não quer;
Visão,
que da natureza
Toda a
graça revestia,
Por
desdita vi um dia
Num
semblante de mulher.
Tinha a
visão tal encanto,
Que, ao
vê-la, absorto fiquei;
Tanto,
que não escutei
O
profundo soluçar
Da
inocência, que, sentindo
Da paixão
a ardente calma,
Abraçada
com minh’alma
Se
despedia a chorar.
Vida de
louco passei;
Mas achei
nessa loucura
Tanto bem
— tanta ventura,
Quais
nunca a razão me deu;
Que, se a
razão da verdade
Tem os
claros resplendores, —
Amor o
reino das flores
Tem todo
inteiro por seu.
E a esta
senda estrepada,
Que à
morte os seres conduz,
O que lhe
importa uma luz,
Se a não tapiza
uma flor?
E se
amor, além de flores,
Também
possui um clarão,
Antes
amor sem razão,
Do que
razão sem amor.
5
Mas
foi-se o tempo de risos
Da minha
feliz loucura!...
Libei o
fel da amargura
No mel de
um beijo traidor!...
Do Gênio
mau completou-se
A segunda
profecia:
Era o que
o Gênio dizia
No seu
riso mofador.
Dessa
profunda chaga resta ainda
Dorida
cicatriz: a mão do tempo
Talvez
cure-a por fim; mas não tão cedo,
Que inda
verte de si pútrido sangue,
Se a
magoam cruéis reminiscências
De quadra
tão feliz.
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