Agreste
Sinto um abismo me engolir, que não sei quem sou e
nem pra onde vou, ouço tantos ruidos aqui dentro, que sinto minha alma rasgar,
minha voz sufocar, pelo excesso de emoções que devoram, queimam minhas
vísceras.
Sinto meus passos pouco à pouco rumo à loucura, não
sei mais lidar, não consigo esconder os estragos, escombros de um coração
tantas vezes costurado, por tantas vezes feito em pedaços.
Sinto minha respiração ofegar, sinto que este aqui
não é meu lugar
são tantas palavras presas, mastigadas, as horas correm
apressadas, o tempo desfaz-se em minhas mãos como água.
Os dias perdem o sentido, não sinto nada ou sinto
tudo, meus pensamentos entram em colisão, sinto-me perdida em meu próprio
mundo, em vão tento mitigar meus infortúnios.
Ao longe ouço cânticos que não conheço, ouço vozes
estranhas e ao mesmo tempo tão familiares, entoando um grito de uma homérica
coragem...que puxam-me e dizem, uma vez mais, vamos à luta!
Parecem-me lembranças de outros tempos, outros
lugares, outras andanças minhas ou de outras vidas que observam minha agonia.
Talvez num lapso entre tantas loucuras que margeiam
minha natureza agreste,
eu possa constatar que não vejo uma maneira de
encaixar-me em algumas vertentes que tentam domar-me.
Convicta busco algum sentido em um mundo deformado,
à tempos esquecido, aos que esperam minha corrupção, minha rendição...mil vezes
não!
Não mudarei aquilo que nasceu comigo, existe ainda
uma fagulha da chama viva que persiste em reacender meus caminhos.
Andreia O. Marques
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