quinta-feira, 11 de abril de 2019

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: JÚLIA:




Teu rosto meigo e singelo
Tem do Céu terno bafejo.
Tu és a rosa do prado
Desabrochando ao albor
Abrindo o purpúreo seio,
Abrindo os cofres de amor.
Tu és a formosa lua
Percorrendo o azul dos céus,
Retratando sobre a linfa.
Os seus alvacentos véus.
Tu és a aurora formosa
Quando dalém vem surgindo;
E que se ostenta garbosa
Áureas flores espargindo.
Tu és perfumada brisa
Sobre o prado derramada
Que goza os doces sorrisos
Da formosa madrugada.
Tua candura e beleza
Tem de amor doce expressão
És um anjo, minha Júlia,
Donde nasce a inspiração.
Quando a terra despe as galas
E os mantos da noite veste,
Vejo brilhar tua imagem
Lá na abóbada celeste.
Nela vejo as tuas graças,
Nela vejo um teu sorriso
Nela vejo um volver d'olhos
Nascido do paraíso.
És ó Júlia, meiga virgem
Que temente ora ao Senhor;
São teus olhos duas setas.

O teu todo é puro amor.




Poesias dispersas

Textos-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. III,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Toda poesia de Machado de Assis. Org. de Cláudio Murilo Leal.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.

Poesia de Quinta Na Usina: Machado de Assis:NO ÁLBUM DO SR. QUINTELA:




Faz-se a melhor harmonia
Com elementos diversos;
Mesclam-se espinhos às flores:

Posso aqui pôr os meus versos.




Poesias dispersas

Textos-fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, vol. III,
Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Toda poesia de Machado de Assis. Org. de Cláudio Murilo Leal.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.

Poesia De quinta Na Usina: Fernando Pessoa:114 ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO :



" A vida prejudica a expressão da vida. Se eu tivesse um grande amor nunca o poderia contar.
Eu próprio não sei se este eu, que vos exponho, por estas coleantes páginas fora, realmente
existe ou é apenas um conceito estético e falso que fiz de mim próprio. Sim, é assim. Vivo-me
esteticamente em outro. Esculpi a minha vida como a uma estátua de matéria alheia ao meu
ser. Às vezes não me reconheço, tão exterior me pus a mim, e tão de modo puramente artístico
empreguei a minha consciência de mim próprio. Quem sou por detrás desta irrealidade? Não
sei. Devo ser alguém. E se não busco viver, agir, sentir, é - crede-me bem - para não perturbar
as linhas feitas da minha personalidade suposta. Quero ser tal qual quis ser e não sou. Se eu
cedesse destruir-me-ia. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não
posso ser. Por isso me esculpi em calma e alheamento e me pus em estufa, longe dos ares
frescos e das luzes francas - onde a minha artificialidade, flor absurda, floresça em afastada

beleza."









Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa:112:


" Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. 
É a umconceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. 
No amos sexual buscamos um prazer nosso por
intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, 
buscamos um prazer nosso
dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é objecto, mas,
 em exacta verdade, o
onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. 
É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, 
através de coisas tão incertas e divergentes como as
palavras comuns e os gestos que se empreendem, 
são matéria de estranha complexidade. No
próprio ato em que nos conhecemos, nos desconhecemos. 
Dizem os dois «amo-te» ou pensamno
e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, 
uma vida diferente, até,
porventura, uma cor ou um aroma diferente, 
na soma abstracta de impressões que constitui a
atividade da alma. "

"É de compreender que sobretudo nos cansamos. Viver é não pensar."






Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

Poesia De quinta Na Usina: D'Araújo: Esconderijo:



Como é doloroso perceber que para alguns.
A felicidade se resume, a se recolher
ao seu esconderijo seguro.

Onde ninguém possa perturbar a sua

generosa e perturbante inércia.


Conteúdo do Livro:


















Editora: www.perse.com.br

Poesia De quinta Na Usina: D'Araújo: A mão:





Mão que indica
Mão que segura
Mão que prende
Mão que surpreende
Mão que conduz
Mão que empurra
Mão que derruba
Mão que ampara
Mão que afaga
Mão que acaricia
É a mesma mão que mata, e quando não, 
nos complica, por não sabermos o que fazer com as,mãos...





Conteúdo do Livro:

















Editora: www.perse.com.br