quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Poesia De Quinta Na Usina: Cruz e Sousa: SONETO:



À Julieta dos Santos

Dizem que a arte é a clâmide de idéia

A peregrina irradiação celeste,

E d’isso a prova singular já deste

Sorvendo d’ela a divinal sabéia!.

Da “Georgeta” na feliz estréia, Asseverar-nos ainda mais vieste Que és um gênio, que te vais de preste

Tornando o assombro de qualquer platéia!...

Sinto uns transportes fervorosos, ledos Quando nas cenas de sutis enredos

Fulgem-te os olhos co’a expressão dos astros!...

E as turbas mudas, impassíveis, calmas

Sentem mil mundos lhes crescer nas almas...


Vão-te seguindo os luminosos rastros!...

Poesia de Quinta Na Usina: Cruz e Sousa: SONETO:



— Os Trópicos pulando as palmas batem...

Em pé nas ondas — O Equador dá vivas!...

Ao estrídulo solene dos bravos! das platéias,

Prossegues altaneira, oh! ídolo da arte!...

— O sol pára o curso p'ra bem de admirar-te

— O sol, o grande sol, o misto das idéias!...

A velha natureza escreve-te odisséias...

A estrela, a nívea concha, o arbusto... em toda a parte

Retumba a doce orquestra que ousa proclamar-te

Assombro do ideal, em duplas melopéias!

Perpassam vagos sons na harpa do mistério Lá, quando no proscênio te ergues imperando

— Oh! Íbis magistral do mundo azul — sidéreo!

Então da imensidade, audaz vem reboando

De palmas o tufão, veloz, febril, aéreo

Que cai dentro das almas e as vai arrebatando!...

Poesia De Quinta Na Usina: Mário Quintana: A casa fantasma:



A casa está morta?
Não: a casa é um fantasma, um fantasma que sonha
com a sua porta de pesada aldrava, com os seus intermináveis corredores
que saíam a explorar no escuro os mistérios da noite e que as luas, por vezes, enchiam de um lívido assombro...
Sim! agora
a casa está sonhando

com o seu pátio de meninos pássaros.

A casa escuta... Meu Deus! a casa está louca, ela não [sabe
que em seu lugar se ergue um monstro de cimento e [aço:
há sempre uma cidade dentro de outra

e esse eterno desentendido entre o Espaço e o Tempo.

Casa que teimas em existir a coitadinha da velha casa!

Eu também não consegui nunca afugentar meus [pássaros.

Poesia De Quinta Na Usina: Mario Quintana:O descobridor:




Ah, essa gente que me encomenda um poema
com tema...

Como eu vou saber, pobre arqueólogo do futuro, o que inquietamente procuro em minhas escavações do ar?
Nesse futuro, tão imperfeito, vão dar,
desde o mais inocente nascituro, suntuosas princesas mortas há milênios,
palavras desconhecidas mas com todas as letras [misteriosamente acesas
palavras quotidianas

enfim libertas de qualquer objeto E os objetos...

Os atônitos objetos que não sabem mais o que são no terror delicioso da Transfiguração!

Poesia De quinta Na Usina:D'Araújo: Ralo (M, C, A: Eme, ci, êi).



Eu vou dizer vocês vão me ouvir
M, C, A não vai partir.
Eu vou dizer como se diz
Ele é mais forte
Do que pó de giz
Eu vou dizer sem reclamar
M, C, A sempre vai voltar.

E quando ele voltar o bicho vai pegar.

M, C, A.  M, C, A
Eu sei que você sabe
Que eu seu que você
Sabe que eu sei M, C, A.

  Na conta do rosário
Ou na crista do galo
Não me abalo M, C, A.
      
   M, C, A. ponha a boca.
No trombone
E não sobra nem um nome
Sem se sujar


Eu caio na cama
Você cai na lama
Lama que respinga
No país inteiro
Lama do banheiro
Lama do dinheiro que
Usa ate cueca para se guardar


Não vai sobrar ninguém
Nem um vintém
Ou mesmo tostão
Tanto faz milhão
  É tudo da nação
Nação que trabalha
 
  Nação que rala
No ralo da vida
Deixando a ferida
Em suas mãos.
       
  Nosso dinheiro foi pro ralo
Não me abalo
Ralo do doutor, do professor.
Ou do policial
Que julga mal
O trabalhador.
               
Tem juiz na cadeia
Tem mulher feia
Pedindo trocado
Lá no metrô

E se ele falar
Vai respingar
No mundo inteiro
No estrangeiro
No pardieiro
Ou mesmo no bueiro

Se você olhar...

Poesia De Quinta Na Usina: Poema: Esplendor:





                            O esplendor do teu
sorriso.
     A meiguice do teu
       Olhar.
                           O necta dos teus lábios.
                              E as incomparáveis Curvas do teu belo Corpo. 
                 Faz-me acreditar em perfeição.

D'Araujo.