segunda-feira, 2 de maio de 2022

O Prêmio Candango de Literatura:


 

O Prêmio Candango de Literatura foi criado para enaltecer as manifestações literárias em todos os países lusófonos e difundir a riqueza e diversidade da língua portuguesa. A premiação foi instituída pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SECEC) do Distrito Federal, tendo como responsável-gestor o Instituto Cultural Casa de Autores, que atua promovendo a criação literária em seus mais diversos gêneros.

A figura do Candango, escolhida como símbolo desta iniciativa, nasce a partir da confluência de culturas que se encontraram em Brasília para a construção da nova Capital. A união destas vivências cunhou essa identidade, que historicamente traça laços com outros povos de língua portuguesa como: Portugal, Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial.

Por meio do Prêmio Candango de Literatura, busca-se reforçar o intercâmbio entre escritores, leitores, livreiros e editores, consolidando e expandindo o mercado do livro em português....

https://premiocandangodeliteratura.com.br/


A Divina Comédia: Dante Alighieri:



De sangue negro o ramo já tingido,
“Por que me rompes?” — prosseguiu gemendo —
36 Assomos de piedade nunca hás tido?” —
“Fui homem, hoje o lenho, que estás vendo! 
Mais compassiva a tua mão seria
39 Se alma aqui fosse de um dragão tremendo”.
Como acha verde, quando se incendia 
Num extremo s'estorce, no outro estala, 
42 Chiando e a umidade fora envia:
Daquela arvora assim brotava a fala,
E o sangue; a minha mão já desprendera
45 O ramo, e, entanto, o horror no peito cala.
“Se de antes ele acreditar pudera”
Lhe torna o sábio Mestre “alma agravada,
48 O que eu nos versos meus lhe descrevera,
“Por te ferir sua mão não fora alçada.
Não crera eu mesmo, e tanto que o induzira
51 Ao feito, que me pesa e desagrada.
“Diz-lhe quem foste e as dúvidas lhe tira. 
O mal te compensando, a fama tua
54 Há de avivar no mundo, a que retira”. —
E o tronco: “Alívio tanto à dor, que atua, Causais, 
que de bom grado eu já explico: 
57 Ao triste dai que a mágoa exprima sua.
Fui quem do coração de Frederico 
As chaves tive e usei com tanto jeito,
60 Fechando e desfechando que era rico
“Da fé com que a mim só rendeu seu peito 
No glorioso cargo fui constante,
63 Força, alento exauri por seu proveito.
“A torpe meretriz, que, a todo instante 
Ao régio paço olhos venais volvendo,
66 Morte comum, das cortes mal flagrante,
“Contra mim ódio em todos acendendo, 
Por eles acendeu iras de Augusto,
69 Que honras ledas tornou-me em luto horrendo.
“Ressentindo-me então do mundo injusto, 
Por fugir seus desdéns, buscando a morte, 
72 Comigo iníquo fui eu, que era justo.
“Pelo tronco em que peno desta sorte, 
Que jamais infiel hei sido, juro,
75 Ao Rei meu, que houve a glória por seu norte,
“De vós o que voltar à luz adjuro
Que a memória me salve ao nome honrado,
78 Que vulnerou da inveja o golpe duro”. —
O vate inda esperou. — “Pois se há calado”.

Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: Vida é Poesia - Poesia Viva:

 


Grupo para todos os membros, poetas ou não, publicarem a sua poesia ou os poemas que mais gostam de ler, aconselhar para leitura e disseminar a …

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Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: Vida em Poesia:


 

Vida em Poesia.....

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Este é um local onde podemos voar além da nossa imaginação. Sentir e saborear cada palavra, cada frase...cada um interpretando à sua maneira, revendo-se com o seu próprio olhar, livre e espontaneamente, numa escrita poética, com temas do quotidiano....

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Terça na Usina: Grupo de Literatura da Rede: A vida em poesia:

 


A vida em poesia é um blog que mostrará em palavras o que foi produzido diretamente por dois atores em sintonia: inspiração e coração....

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Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: VOZES POÉTICAS:

 


VOZES POÉTICAS é um Grupo destinado a publicações de textos literários por pessoas ligadas à Literatura: Poetas e Escritores de Poesia principal…

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Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: TEMPO POÉTICO:

 


ESPAÇO DOS AUTORES E POETAS ( LIVROS E POESIAS )

Procure "NÃO PERDER O FOCO" postando mensagens que não tenham nada a ver com a divulgação de …

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Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: Poética:

 


Encontrarás Arte; poesía, erotismo, filosofía, música y buena energía.

Besos.....

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Terça na Usina: grupos de Literatura da Rede: Rascunhos inversos:

 


25 filmes imperdíveis sobre educação!!!

As obras servem de inspiração ao mostrar problemas e soluções no ambiente escolar, vão além do questionamento do modelo tradicional...

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Terça na Usina: Grupos de Literatura da Rede: Arte, Poesia e Contos:

 


Textos, poemas, minicontos, prosa poética. Os textos podem estar acompanhados de fotos artísticas, fotos de quadros, de esculturas, instalações…

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Dante Alighieri: A Divina Comédia:



NÃO stava ainda Nesso do outro lado, 
Quando nós por um bosque penetramos, 
3 Dos vestígios de passos não marcado.
Não fronde verde, mas escura, ramos Não lisos, 
mas travados e nodosos,
6 Não pomos, puas com veneno achamos.
Por silvados mais densos, mais umbrosos, 
Do Cecina a Corneto, a besta brava,
9 Não foge, agros deixando deleitosos.
Das Hárpias o bando aqui pousava. 
Que expeliram de Strófade os Troianos, 
12 Vaticinando o mal, que os aguardava.
Asas têm largas, colo e rosto humanos, 
Garras nos pés, plumoso e ventre enorme, 
15 Soam na selva os uivos seus insanos.
E disse o Mestre: “Convém já te informe 
Que o recinto segundo vais entrando,
18 Onde verás spetáculo disforme,
“Até que ao areal chegues infando. 
Atenta! E darás fé à narrativa,
21 Que fiz, ainda lá no mundo estando”.
Em toda parte ouvi grita aflitiva:
Como não via quem assim gemesse,
24 Parei e a torvação se fez mais viva.
Creio que o Mestre cria então que eu cresse 
Que esses lamentos enviava aos ares
27 Uma turba, que aos olhos se escondesse;
Pois disse-me: “De um tronco se quebrares 
Um só raminho, ficarás ciente
30 Desse erro em que se enleiam teus pensares”.
—O braço estendo então e prontamente 
Vergôntea quebro. O tronco, assim ferido 
33 “Por que razão me arrancas?” diz fremente.

Crônicas de Segunda na Usina: Erça de Queiroz: XV Londres, 21 de Maio [de 1878]:



Há entre os provérbios diplomáticos um que diz: «Quando a França está descontente, a Europa está em perigo.» Pode-se dizer que quando a França está feliz, a Europa está tranquila: desde que a Exposição se abriu, e que a França celebra em Paris a sua grande festa de ressurreição, toda a Europa tem um tom mais calmo; corre uma aragem consoladora de paz e de conciliação, a mesma actividade de armamentos afrouxou e os homens de guerra e de rapina, os Bismarcks e os Gortschakoffs, aproveitam este intervalo sereno para curarem os seus reumatismos. Exala-se da Exposição, parece, uma emanação de concórdia, de trabalho, de civilização, que enche os espíritos de um salutar desejo de fraternidade e de paz. As espadas meio saídas recaem na bainha, as vozes irritadas de desafio adoçam-se em explicações plácidas, o czar humaniza-se, a Inglaterra desfranze a carranca e todo o mundo respira um vago aroma de folhas de oliveira, símbolos de paz. E a Exposição de Paris, é essa colossal acumulação de ciência, de arte, de indústria, que espalha em redor, na Europa, um influxo santo de serenidade. Paris, no fundo, é a grande capital da civilização; o seu messianismo é incontestável; o que ela pensa é-nos dogma, o que ela quer é-nos lei: o mundo instintivamente obedece-lhe: há nela não sei que graça magnetizadora, que forte ascendência espiritual a que se não resiste: a humanidade civilizada tem por ela um vago amor e deixa-se docemente tiranizar: se ela nos impõe a idiota canção C'est l'amant d’Amanda, protestamos primeiro, rimos depois. Terminamos todos por a cantar; se ela nos impõe uma ideia social,

podemos um momento hesitar, acabamos todos por a servir: o que ela cria tem a nossa admiração certa, ou seja Offenbach ou seja Gambetta; ela exerce a fascinação de certos olhos de mulheres, cuja luz convence; hoje Paris quer a paz, e a Europa já não se atreve a fazer a guerra. Aqui, pelo menos, não se fala senão da Exposição: a ordem do dia é ir a Paris; os indivíduos que ainda murmuram algumas frases sobre a Bulgária, o Tratado de San Stefano, Constantinopla, etc., parecem obsoletos e caturras. Quem se ocupa do eslavo? Que significam essas antigualhas lúgubres? O que importa é chegar a Paris, saltar a um fiacre e abalar para o Trocadero! E o que atrai a Paris não é tanto admirar as maravilhas que o mundo lá reuniu, como ver a valente cidade outra vez feliz e triunfante; ver a formosa cabeça da França de novo levantada ao alto, depois de ter estado durante oito anos voluntariamente curvada para o chão. Há oito anos! Neste mesmo mês de Maio, franceses bateram-se contra franceses numa guerra feroz e fanática, sob os frios olhares dos Prussianos, que de redor, de braços cruzados, esperando sossegadamente os seus cinco milliards, viam, cofiando as barbas doutorais, Paris a arder! E sete anos depois, pagas todas as dívidas, libertado todo o território e reedificadas todas as ruínas, replantados todos os campos, a França está bastante de posse de si mesma, bastante rica, com vagares bastantes para dar ao mundo, na sua capital embelezada, a maior festa de civilização deste século. Valente nação! Diz-se que toda esta forte ressurreição é devida à república. Bom Deus, sejamos justos, é devida à França! É o seu imenso poder recuperativo, o seu génio, a sua laboriosidade, a sua ordem, a sua economia, a sua sábia previdência, que a habilitaram, depois de um curto espaço de recolhimento e de trabalho, a reaparecer à frente da civilização, mais forte, mais rica, mais inteligente, outra vez la belle France. E aparece-nos com uma feição que lhe não conhecíamos – nós os que fomos educados quando já o império estava feito – aparece-nos grave e alegre. Não perdeu nada de verve, e ganhou muito de reflexão: abandonou sobretudo um dos seus defeitos irritantes, a jactância – aquele alarde fanfarrão, retorcendo as guias e de mão na cinta, que fazia propor aos mais práticos, aos mais moderados, como Emile de Girardon, que não se batessem os Prussianos a tiro, mas a coronhadas, por desprezo! As felicitações da imprensa inglesa à França pela sua aleluia têm sido nobres, fraternais, profundas. A França tem-se enternecido. Mas o que a lisonjeou, o que a electrizou, foram as belas palavras do príncipe de Gales no banquete que lhe ofereceram em Paris os expositores ingleses. Respondendo à saúde que lhe fizera Lord Granville, dirigiu-se ao ministro das Obras Públicas de França, e disse-lhe: «Diga à França que a amo de todo o coração, que ninguém segue mais comovido a sua prodigiosa prosperidade e que a Inglaterra se regozija em concorrer para o esplendor da Exposição, feita no país que sobre todos estima, e a quem tanto deve. Estas frases foram cobertas por um hurra prodigioso dos trezentos expositores ingleses que se sentavam no banquete, que eram todos celebridades da aristocracia, da ciência, da arte, da indústria – e no outro dia ecoavam por toda a França. A alegria dos jornais republicanos foi imensa: em artigos comovidos, todos agradeceram as palavras mais amigas, e as primeiras que um príncipe estrangeiro dirige à França depois dos seus desastres. O Paris Journal, como um homem que a emoção sufoca e que põe todo o seu reconhecimento numa exclamação curta e balbuciada, imprimiu apenas em caracteres grossos: Merci, monseigneur! O facto é que o príncipe de Gales é hoje um dos homens mais populares da França. Paris adora-o; sem lhe fazerem as ovações, que a gravidade republicana não comporta, cercam-no, onde quer que vá, de uma simpatia comovida. Em Inglaterra mesmo, a satisfação pelo discurso do príncipe é grande. No fundo, se a Inglaterra tem uma simpatia, digamos um fraco, é a França. E ama-a desinteressadamente: a Inglaterra é um pais de raciocínio muito prático para sonhar quimeras, e supor que a França, porque um príncipe inglês ergue o seu copo de champanhe e lhe dirige em francês muito parisiense algumas palavras de simpatia pessoal no calor de um bom jantar – que a França vai, toda reconhecida, apoiar a Inglaterra nas suas pretensões ou nos seus interesses políticos. A Inglaterra, por exemplo, na questão do Oriente, não conta com a França; não espera nada dela, em circunstância alguma, a não ser naturalmente aquele alto apoio moral, a simpatia de

espírito que se devem duas grandes nações que são no mundo responsáveis pelo progresso humano. O amor da Inglaterra à França (que se tem sempre desenvolvido desde 1830, mas que tomou uma feição mais íntima desde a queda do infecto império) tem bases seguras, com raízes no mesmo temperamento das duas nações, e é a garantia, creio, de uma longa paz entre elas. Em primeiro lugar estimam-se como dois velhos combatentes leais, que foram um para outro causa de grande glória: se a Inglaterra expulsou a França da Índia, a França promoveu e realizou a expulsão dos Ingleses da América; se Napoleão, durante dez anos, teve, através do continente, a Inglaterra em perpétuo échec, o leão britânico tomou a sua desforra em Waterloo; depois foram aliados na Crimeia e aliados na China. Mesmo combatendo-a, ou recusando-lhe o seu auxílio, a Inglaterra i5ez à França impagáveis serviços: em Waterloo desembaraçou-a de um tirano insensato; em 1870, deixando consumar o grande desastre, desembaraçou-a para sempre dos Bonapartes. Terminado o período da guerra, as relações comerciais das duas nações vizinhas cresceram a ponto que, sem uma, a outra faria bancarrota. O Inglês, que não sabe língua nenhuma, só condescende em aprender o francês; é por isso talvez que é a nação que mais visita; é raro o inglês que não tenha percorrido a França; socialmente, Paris é quase tanto a sua capital como Londres; se em Paris encontra a vivacidade, o brilho, a verve da vida que o seduz, na província encontra as sólidas qualidades que admira e sem as quais não concede a sua estima – as qualidades de trabalho, de virtude doméstica, de perseverança e de probidade. A França é o jardim de Inglaterra: e lá que o negociante vai descansar do tráfico da City, o fidalgo da monotonia da vida do campo, o professor dos trabalhos da escola, o clérigo da secura das missões. É a única nação que o baixo povo estima; french, frenchman, são as palavras com que a população designa o estrangeiro amável; quando as ruas, nalguma gala nacional, se empavezam e se adornam, a única bandeira europeia que se vê é a heróica tricolor; nos livreiros das mais pequenas vilas se vendem livros franceses. O inglês tem um reconhecimento profundo ao pais que produz o vinho de Borgonha; a inglesa é grata à terra que lhe manda as sedas de Lião. A gente menos educada, que não sabe qual é a forma de governo que rege a Espanha ou a Itália, está ao facto inteiramente da moderna história da França. Nas classes ilustradas, a história e a literatura francesas são tão familiares como a inglesa. Em todos os grandes jornais há diariamente um artigo de fundo sobre os negócios interiores da França; a campanha contra o ministério Broglie, o ano passado, era dirigida pelo Times. E a amizade da Inglaterra pela França é tão forte que lhe faz sacrifícios; há um ano que a Inglaterra é aconselhada, instada, persuadida, tentada a que ocupe o Egipto: e porque tem resistido? Para não ferir susceptibilidades francesas. O Daily Telegraph disse num artigo memorável: «Percamos todos os interesses, mas não desagrademos aos Parisienses.» E foi para agradar aos Parisienses que a Inglaterra mandou à Exposição o que em arte e indústria tinha de melhor, do passado e do presente. E a Inglaterra certamente que mais concorre para o esplendor da Exposição, e a Inglaterra inteira, como dizem os grandes jornais, falou pela boca do príncipe de Gales.

 

Têm sido singularmente lamentáveis os sucessos do Lancashire, onde milhares e milhares de operários tecelões estão em greve. Os motivos desta greve são complicados e prendem-se com uma difícil questão de economia política. Em presença da grande depressão no comércio dos algodões e dos tecidos, os operários entendem que é necessário produzir menos para que os grandes depósitos existentes se esvaziem e o equilíbrio do mercado se restabeleça: os patrões entendem que é necessário produzir na mesma proporção anterior, mas que é indispensável baixar o preço da mão-de-obra. Esta desinteligência produziu uma greve, a maior que se tem dado em Inglaterra há cinquenta anos. Greve cuja especialidade bem triste foi a de que esteve próxima a tomar o aspecto de uma revolta. Os operários de Lancashire passaram sempre por serem os mais inteligentes, os mais sérios, os mais honestos, da grande população obreira da Inglaterra: numa semana, num momento de irritação, de vingança ou de desesperança, perderam esta nobre reputação. Hoje os jornais sérios consideram-nos «como a mais infecta populaça». Que se passou? Que os operários, em lugar de discutirem tranquilamente (como pediam jornais sérios) o meio de conciliar as suas divergências com os patrões, preferiram fazer uma pequena insurreição local com todos os incidentes típicos – janelas quebradas, polícia apedrejada, etc.

Ao princípio, isto pareceu apenas um desabafo de temperamento exaltado: esperou-se que a razão voltaria, com ela a tranquilidade. Mas ou que a impassibilidade dos patrões diante desta manifestação de força os irritava; ou que pequenas desordens locais lhes dessem o apetite de uma verdadeira insurreição provincial; ou que uma multidão imensa de populaça vadia e ociosa se viesse reunir, na esperança dos proveitos que traz a anarquia, à massa mais séria dos operários, o facto é que o que começara por uma algazarra ia terminando numa revolução. As janelas quebradas levaram às portas arrombadas; depois de algumas pedradas atiradas à polícia vieram os tiros dados contra as tropas – e por todo o distrito que cerca Manchéster, durante três dias, reinou uma anarquia que lembra as clássicas guerras civis de Navarra. Manufacturas incendiadas, casas destruídas, lojas de bebidas saqueadas, patrões perseguidos a tiros, reclamações forçadas de dinheiro e de provisões, nada faltou para dar ao distrito de Manchéster o aspecto atroz de uma província em poder das hordas de Saballs ou de Dorregaray. No entanto, a feição típica deste sucesso é que os jornais radicais e liberais não só não se indignaram, mas nem sequer lamentaram: limitaram-se a contar secamente os ultrajes cometidos. Das associações operárias não saiu um único protesto contra estas desordens. E não se pode negar que a insurreição tenha nas classes radicais uma vaga, uma imponderável simpatia. Tropas rapidamente concentradas puseram, naturalmente, fim a este estado tumultuoso, e os patrões sentiram logo a necessidade de entrar em conciliação com os operários, que montam a mais de cem mil. Se esta conciliação se não fizer, creio que veremos graves acontecimentos. E muito bonito realmente falar na ordem, no respeito à propriedade, no sentimento de obediência à lei, etc., mas quando milhares de homens vêem a sua família sem lume na lareira, sem um pedaço de pão, os filhos a morrer de miséria, e ao mesmo tempo os patrões, prósperos e fartos, comprando propriedades, quadros, apostando nas corridas e dando bailes que custam centos de libras, bom Deus, é difícil ir falar aos desgraçados de regras de economia política e convencê-los que, em virtude dos melhores autores da ciência económica, eles devem continuar por alguns meses mais a comer vento e aquecer-se à cal das paredes!