
Maria
Firmina dos Reis (São Luís, Maranhão, 11 de março de 1822[1] — Guimarães, 11 de
novembro de 1917) foi uma escritora da época, considerada a primeira romancista
negra brasileira.[3][4]
Biografia
Juventude
e família
Maria
Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de março de
1822, sendo batizada somente a 21 de dezembro de 1825, em virtude de uma
enfermidade que a acometeu nos primeiros anos de vida. Segundo o registro,
Maria Firmina foi batizada na freguesia de Nossa Senhora da Vitória, em São
Luís do Maranhão, sendo padrinhos o capitão de milícias João Nogueira de Souza,
e Nossa Senhora dos Remédios, não sendo informada nem sua paternidade nem a
data do nascimento. Em 25 de junho de 1847, visando a inscrição no concurso
público da cadeira de primeiras letras da vila de São José de Guimarães, então
apenas possível para a idade mínima de 25 anos, Maria Firmina solicitou nova
certidão de justificação de batismo, na qual informou a data de nascimento como
11 de março de 1822, e o nome de sua mãe, Leonor Felipa, mulata forra, sendo o
processo concluído em 13 de julho desse ano. Leonor Felipa havia sido escrava
do comendador Caetano José Teixeira, falecido em 1819, grande comerciante e
proprietário de terras na vila de São José de Guimarães, proprietário de uma
companhia comercial com avultadas transações no fim do período colonial, e no
início do Império.[1]
Tanto
o registro de batismo como a certidão de 1847 são omissas em relação ao nome do
pai de Maria Firmina, o qual apenas é declarado no seu registro de óbito,
datado de 17 de novembro de 1917, com o nome de João Pedro Esteves. João Pedro
Esteves, homem de posses, era sócio do antigo dono da mãe de Maria Firmina, a
escrava Leonor Felipa, na sua companhia comercial.[1]
Segundo
algumas fontes, seria prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis
por parte da mãe, embora se desconheça com que fundamento e em que grau.[1]
Em
1830, mudou-se com a família para a vila de São José de Guimarães, no
continente. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada
economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa
localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de
primeiras letras, de 1847 a 1881.[5] Maria Firmina dos Reis nunca se casou.[6]
Carreira
Em
1859, publicou o romance “Úrsula” considerado o primeiro romance de uma autora
do Brasil.[7] Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto "A
Escrava", no qual se descreve uma participante ativa da causa
abolicionista.[8]
Aos
54 anos de idade e 34 de magistério oficial, anos antes de se aposentar, Maria
Firmina fundou, em Maçaricó, a poucos quilômetros de Guimarães, uma aula mista
e gratuita para alunos que não podiam pagar: conduzia as aulas num barracão em
propriedade de um senhor de engenho, à qual se dirigia toda manhã subindo num
carro de boi.[9] Lá, lecionava às filhas deste, aos alunos que levava consigo e
a outros que se juntavam.[9] A acadêmica Norma Telles classificou a iniciativa
de Maria Firmina como "um experimento ousado para a época".[9] Essa
ação inovadora vai ao encontro das lutas das feministas brasileiras do final do
século XIX que desejam a igualdade de ensino para meninas.[6]
Maria
Firmina dos Reis participou da vida intelectual maranhense: colaborou na
imprensa local, publicou livros, participou de antologias, e, além disso,
também foi musicista e compositora.[10] A autora era abolicionista:[8] ao ser
admitida no magistério, aos 22 anos de idade, sua mãe queria que fosse de
palanquim receber a nomeação, mas a autora optou por ir a pé, dizendo a sua
mãe: "Negro não é animal para se andar montado nele."[11] Chegou
também a escrever um "Hino da Abolição dos Escravos"[11]
Descreveu-se,
em 1863, como tendo "uma compleição débil, e acanhada" e, por conta
disso, "não poderia deixar de ser uma criatura frágil, tímida, e por
consequência, melancólica."[10] Os que a conheceram, quando tinha cerca de
85 anos, descreveram-na como sendo pequena, parda, de rosto arredondado, olhos
escuros, cabelos crespos e grisalhos presos na altura da nuca.[10] Uma antiga
aluna caracterizou-a como uma professora enérgica, que falava baixo, não
aplicava castigos corporais, nem ralhava, preferindo aconselhar.[10] Era
reservada, mas acessível, sendo estimada pelos alunos e pela população da vila:
toda passeata de moradores de Guimarães parava em sua porta, ao que davam vivas
e ela agradecia com um discurso improvisado.[10]
Morte
Maria
Firmina dos Reis morreu, cega e pobre, aos 95 anos, na casa de uma ex-escrava,
Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação.[11]
É
a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, que homenageiam
importantes escritores maranhenses, em São Luís.[12]
Homenagens
Maria
Firmina dos Reis foi homenageada em um doodle do Google, em 11 de outubro de
2019, em comemoração ao seu 194º aniversário[13].
Obra
Conceição
Evaristo apresenta a “escrevivência” como a escrita de um corpo, de uma
condição, de uma experiência negra no Brasil. O primeiro elemento que compõe a
escrevivência, o corpo, reporta à dimensão subjetiva do existir negro, sendo um
arquivo de impressões ao longo da vida, marcado na pele e na luta constante por
afirmação e reversão de estereótipos.[14] A condição da mulher negra, o segundo
elemento, evidencia diversos problemas herdados da situação colonial, visto
que, por meio da escravidão, as mulheres foram subjugadas em diversos
âmbitos.[15] A escrevivência de Maria Firmina dos Reis, uma escritora negra,
também pode ser percebida na representação das suas personagens negras, pois a
história da literatura influencia diretamente na nacionalidade e, por
consequência, também na construção da imagem dos gêneros, meio utilizado para
consolidação do poder masculino.[15]
Maria
Firmina apresenta o negro em sua dimensão humana e confere a ele uma posição de
sujeito de discurso, o que pode revelar uma íntima identificação com o negro
escravizado, apresentando uma solidariedade que, nas palavras de Eduardo de
Assis Duarte, “nasce de uma perspectiva outra, pela qual a escritora, irmanada
aos cativos e a seus descendentes, expressa, pela via da ficção, seu
pertencimento a este universo de cultura”. [16]
Lista
de obras
Seleção
obtida a partir do livro Escritoras brasileiras do século XIX: Antologia.[5]
Úrsula.
Romance, 1859.
Gupeva.
Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da
Juventude).
Poemas
em: Parnaso maranhense, 1861.
A
escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense n° 3)
Cantos
à beira-mar. Poesias, 1871.
Hino
da libertação dos escravos. 1888.
Poemas
em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de
Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos
Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do
Maranhão; Pacotilha; Federalista.
Composições
musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves
Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música);
Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e
música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à
Praia de Cumã”; letra e música).
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