quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: Domina ou Cala:


 Domina ou cala. Não te percas, dando
Aquilo que não tens.
Que vale o César que serias? Goza
Bastar-te o pouco que és.
Melhor te acolhe a vil choupana dada
Que o palácio devido.
Estás só. Ninguém o sabe.
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada 'speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
Este Seu Escasso Campo
Este, seu ‘scasso campo ora lavrando,
Ora solene, olhando-o com a vista
De quem a um filho olha, goza incerto
A não-pensada vida.
Das fingidas fronteiras a mudança
O arado lhe não tolhe, nem o empece
Per que concílios se o destino rege
Dos povos pacientes.
Pouco mais no presente do futuro
Que as ervas que arrancou, seguro vive
A antiga vida que não torna, e fica,
Filhos, diversa e sua. 

Poesia De Quinta Na Usina: Fernando Pessoa: A minha vida é um barco abandonado:



 A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,

E é para além do mar a ansiada Ilha.














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Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: O Casamento do Diabo.


(Imitação do alemão)

Satã teve um dia a idéia
De casar. Que original!
Queria mulher não feia,
Virgem corpo, alma leal.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Resolvido no projeto,
Para vê-lo realizar,
Quis procurar objeto
Próprio do seu paladar.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana.
É mais fina do que tu.
Cortou unhas, cortou rabo,
Cortou as pontas, e após
Saiu o nosso diabo
Como o herói dos heróis.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Casar era a sua dita;
Correu por terra e por mar,
Encontrou mulher bonita
E tratou de a requestar.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Ele quis, ela queria,
Puseram mão sobre mão,
E na melhor harmonia
Verificou-se a união.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Passou-se um ano, e ao diabo,
Não lhe cresceram por fim,
Nem as unhas, nem o rabo...
Mas as pontas, essas sim.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana

É mais fina do que tu.

Poesia De Quinta Na Usina: Machado de Assis: MANHÃ DE INVERNO:



Coroada de névoas surge a aurora
Por detrás das montanhas do oriente;
Vê-se um resto de sono e de preguiça
Nos olhos da fantástica indolente.
Névoas enchem de um lado e de outro os morros
Tristes como sinceras sepulturas,
Essas que têm por simples ornamento
Puras capelas, lágrimas mais puras.
A custo rompe o sol; a custo invade
O espaço todo branco; e a luz brilhante
Fulge através do espesso nevoeiro,
Como através de um véu fulge o diamante.
Vento frio, mas brando, agita as folhas
Das laranjeiras úmidas da chuva;
Erma de flores, curva a planta o colo,
E o chão recebe o pranto da viúva.
Gelo não cobre o dorso das montanhas,
Nem enche as folhas trêmulas a neve;
Galhardo moço, o inverno deste clima
Na verde palma a sua história escreve.
Pouco a pouco, dissipam-se no espaço
As névoas da manhã; já pelos montes
Vão subindo as que encheram todo o vale;
Já se vão descobrindo os horizontes.
Sobe de todo o pano, eis aparece
Da natureza o esplêndido cenário;
Tudo ali preparou cos sábios olhos
A suprema ciência do empresário.
Canta a orquestra dos pássaros no mato
A sinfonia alpestre, — a voz serena
Acorda os ecos tímidos do vale;

E a divina comédia invade a cena.








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Poesia De Quinta Na Usina: "Inercia"


"Extasiado pelo desconforto da burrice adquirida,

O homem se faz escravo da ignorância programada.

E exalta sua inércia diante dos desafios da sobrevivência humana."

D'Araújo.

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Sarau Matinal Beco dos Poetas 19 10 2014: D'Araujo:





Poema: Menos Um:
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