domingo, 12 de julho de 2020

Crônicas de segunda na Usina: D'Araújo: Coisas de Sampa:


Em Sampa tudo é um sonho a parte, estão todos juntos no mesmo desejos, mas sempre separados pelos caminhos tortuoso que cada um escolhe para alcança-los, como uma babel de alucinados vão todos caminhando sem nem mesmo se dar conta de onde o caminho vai da, do executivo ao morador de rua, a única coisa que os separa foram suas escolhas e oportunidade agarrada por cada um, ou deixadas para traz por outros, mesmo assim todos dividindo um sonho separadamente que fatalmente um dia se cruzarão, seja em uma loja de um shopping de luxo, ou em um breve e tenebroso assalto nos semáforos da vida. Por muitos anos vivi está encruzilhada, entre as maravilhas da riqueza econômica, e a simplicidade da felicidade das pequenas coisas que ali existe e que poucos se quer se dão conta, como o pássaro solitário entre aquela majestosa selva de pedra, ansioso pelas migalhas dos restos de alimento de cada um, o pobre homem que divide sua refeição com seu cão de estimação, a mãe que disputa espaço entre os veículos na esperança de alimentar seus filhos cujo pai não pode ver pois foi enjaulados pelos mesmo motivos dela, mas com escolhas diferente, o trabalhador que sai na madrugada e retorna no meio da noite depois de um exaustivo dia de trabalho, mesmo assim feliz com sorriso na face, pois cumpriu sua jornada com louvores, e ainda sobreviveu a mais um dia na terrível selva de desejos, onde um passo em falso pode lhe custar a própria vida. Pelas esquinas da vida damas o convida para segundos de satisfação para aliviar as tensões alheias, enquanto suas almas perecem em desencantos pois não era esse seu sonho, mas é o que a vida lhe oferece no momento, então vamos todos remoendo sonhos esmagando possibilidades na esperança que um belo dia nossos desejos e sonhos incomum, estejam nos esperando em uma daquelas esquina, o quem sabe o fim da caminhada. Mas como tudo por aqui é inconteste, está selva as vezes nos proporcionam momentos únicos. 
Veja o meu caso, a caminho do Sarau Beco dos poetas que seria na estação Anhangabaú, onde lançaria meu livro, “Covas Rasa” na virada cultural de Sampa, no Domingo dia 18, seguindo a caminho no metrô sentido Tucuvi, em uma das paradas, dois trens em sentidos opostos por alguns segundos estavam ali alinhados na mesma estação. Na janela oposta, um olhar feminino, vagueava na imensidão das possibilidades, e por alguns segundos nossos olhares se cruzaram, e ela talvez compartilhando do mesmo olhar, ver e sentir. Tenha percebido a unicidade daquele momento, pois quais as chances que venhamos a cruzar nossos olhares novamente nesta imensidão que é Sampa. 
Então, ela delicadamente deixou deslizar em sua doce face, um sorriso que aos poucos foi sumindo na escuridão do túnel. 
Jamais vou saber se ela mora em uma cobertura nos jardins, ou em uma palafita perneta, na imensidão da periferia de Sampa, mas o que importa, é que ali naquele momento éramos um só olhar, um só ver, um só sentir, e assim nasce a poesia na inquieta mente de um poeta, a poesia é feita destes momentos imprevisíveis. 
E ali mesmo não solidão fria de um vagão deserto de uma manhã de domingo na imensidão de sampa, surgiu: 

Único: 

Um momento único, 
O encontro inevitável do olhar, 
O sorriso simultâneo discreto e involuntário. 
E a quase certeza do nunca mais.

 

...FIM...