domingo, 12 de junho de 2022

Crônicas de Segunda na Usina: Lima Barreto: O morcego:


O carnaval é a expressão da nossa alegria. O ruído, o barulho, o tantã espancam a tristeza que há nas nossas almas, atordoam-nos e nos enchem de prazer. 
Todos nós vivemos para o carnaval. Criadas, patroas, doutores, soldados, todos pensamos o ano inteiro na folia carnavalesca. 
O zabumba é que nos tira do espírito as graves preocupações da nossa árdua vida. 
O pensamento do sol inclemente só é afastado pelo regougar de um qualquer “Iaiá me deixe". 
Há para esse culto do carnaval sacerdotes abnegados. 
O mais espontâneo, o mais desinteressado, o mais lídimo é certamente o “Morcego". Durante o ano todo, Morcego é um grave oficial da Diretoria dos Correios, mas, ao 
aproximar-se o carnaval, Morcego sai de sua gravidade burocrática, atira a máscara fora e sai para a rua. 
A fantasia é exuberante e vária, e manifesta-se na modinha, no vestuário, nas bengalas, nos sapatos e nos cintos. 
E então ele esquece tudo: a Pátria, a família, a humanidade. Delicioso esquecimento!... 
Esquece e vende, dá, prodigaliza alegria durante dias seguidos. 
Nas festas da passagem do ano, o herói foi o Morcego. 
Passou dois dias dizendo pilhérias aqui; pagando ali; cantando acolá, sempre inédito, sempre novo, sem que as suas dependências com o Estado se manifestassem de qualquer forma. 
Ele então não era mais a disciplina, a correção, a lei, o regulamento; era o coribante inebriado pela alegria de viver. Evoé, Bacelar! 
Essa nossa triste vida, em país tão triste, precisa desses videntes de satisfação e de prazer; e a irreverência da sua alegria, a energia e atividade que põem em realizá-la, fazem vibrar as massas panurgianas dos respeitadores dos preconceitos. 
Morcego é uma figura e uma instituição que protesta contra o formalismo, a convenção e as atitudes graves. 
Eu o bendisse, amei-o, lembrando-me das sentenças falsamente proféticas do sanguinário positivismo do Senhor Teixeira Mendes. 
A vida não se acabará na caserna positivista enquanto os “morcegos" tiverem alegria... 

Vida urbana, 2-1-1915

Crônicas de Segunda na Usina: Machado de Assis:15 DE DEZEMBRO DE 1862:


Cuida o leitor ao ver-me começar por este modo, que tenho uma crônica farta e volumosa de notícias, e que para ganhar tempo é que entro em matéria? Antes assim fosse. Eu comecei assim, não só para usar de todas as deferências para com um talento modesto, mas ainda para fugir a este lugar-comum que me ia saindo dos bicos da pena: 
Suponha o leitor, queria eu dizer, que está em uma assembléia legislativa. Discute-se o orçamento da receita e despesa, matéria de máxima importância, como se vê logo pela designação. Há grande alvoroço: pedem a palavra, sobem à tribuna os melhores oradores, a lógica e a retórica andam em pleno exercício; e a palavra humana torna-se nesse momento, para usar da expressão de Montalembert, o tipo supremo da beleza, a arma irresistível da verdade. Sobre que se discute? Sobre o orçamento? Não, senhor: os oradores cansam-se, elevam- se, lutam, fazem prodígios da língua, sobre tudo, menos o objeto da discussão. As questões de política especulativa, as recriminações dos partidos, as invectivas pessoais, o inventário parcial do passado, as conjecturas arbitrárias do futuro, tudo o que pode ser alheio ao orçamento entra em pleno serviço; o orçamento, esse ouve falar em seu nome por duas outras vozes mais moderadas, que, entrando no terreno prático, desdenham o palavreado estéril e procuram utilizar o tempo malbaratado. 
A imagem diminuída, mas aproximada deste fato anual, queria eu acrescentar, acha-se nesta palestra de hoje com os meus leitores, na qual poderemos tratar de tudo, menos do objeto principal que nos reúne. Vê o leitor que, apesar de usado por boas autoridades, isto é um lugar-comum perfeitamente comum. Tive razão em retrair a pena. Afinal de contos, o leitor não tem culpa que o Rio de Janeiro ande a competir com a chuva em aborrecimento e que mesmo lhe leve a palma. Em míngua de notícias forja-se, ou enche-se papel com qualquer coisa. 
Dada esta ligeira explicação, volto aos Contos do Serão. É um livrinho do Sr. Leandro de Castilhos, composto de três contos: Uma boa mãe, Otávia e Um episódio de viagem. O título do livro, modesto e simples, corresponde à natureza da matéria. Trata-se de ligeiros contos, escritos sem pretensão, visando menos glória literária do que as impressões passageiras e agradáveis do lar. Entretanto, fora injustiça ler o volume do Sr. Castilhos fora do terreno literário. Dá-lhe o direito de assistir aí a um talento que, se não se apresenta com maior fulgor, nem por isso é menos real e menos esperançoso. 
Por que não ensaia o Sr. L. de Castilhos um romance de largo fôlego? Não lhe falta invenção, as qualidades que ainda se não pronunciaram, reservadas ao romance, hão de por certo tomar vulto e consistência nas composições posteriores, feitas com meditação e trabalhadas conscientemente. 
O romance, de que temos apenas dois assíduos cultores, o Srs. Macedo e Alencar, espera por novos, porque tem ainda muitos recantos não investigados e talvez fontes de boa riqueza. 
Do romance ao teatro é um passo, e eu não tenho grande dificuldade em dá-lo. Duas novidades que devem ser contadas como literária apareceram na quinzena: 
As leoas pobres, de Emile Augier, e a Herança do Chanceler, do Sr. Mendes Leal. Todavia, esta segunda, por já conhecida de todos, não ofereceu outra novidade além da representação pelos artistas do Ginásio. Farei eu a injustiça de crer que os leitores não conheciam a Herança do Chanceler? 
Há uma terceira novidade; esta, porém, não me cabe avaliar, que a não vi, e a julgar pelo que me assegura pessoa de conceito, está fora das condições literárias assinaladas às duas primeiras. É a comédia: Os amores de Cleópatra que entretanto preenche o dever a que os nomes dos autores estão obrigados: faz rir. Foi também representada no Ginásio. 
Pelo que respeita às Leoas pobres, é essa uma comédia que assusta os espíritos menos ousados e faz recuar à primeira vista. Todavia, quem tiver a força de conservar-se alguns momentos diante dela e meditá-la, verá que nem há motivo para terrores, mas que ainda há muito boas razões mais bem acabadas do teatro contemporâneo, todas as reservas de parte, entenda-se. 
Não fatigarei a paciência do leitor relatando o entrecho das Leoas pobres, que o leitor viu, ou leu, ou soube pelos jornais. Vinha a propósito, é verdade, desenvolver um ponto que na imprensa foi apenas tocado, o desenlace da peça, mas eu ainda não quero fazer injustiça a ninguém que me lê repetindo princípios de arte comezinhos, expostos por todos os autores, e quase objeto de compêndio hoje. 
De duas representações a que assisti, uma pouco me agradou, foi a do Teatro Lírico, onde só se podem acomodar os sopranos e tenores de força, e impróprio para fazer sobressair uma composição dramática. Levada ao Ateneu Dramático, cujas proporções me parecem perfeitamente acomodadas à cena moderna, a comédia pôde aparecer melhor, e satisfez-me a representação com pouquíssimas reservas. 
Para voltar ainda à comédia, pois que a pressa com que vai este escrito me obriga a estas marchas retroativas, direi que, como concepção e execução, as Leoas pobres honram o talento de E.Augier, que não pode ser acusado nem de falta de vigor dramático, nem de certo critério que resulta da observação e da meditação. Há, como indiquei acima, pontos de reserva, mas eu que não faço crítica, e apenas dou relação comentada dos fatos da quinzena, poderei entrar na apreciação desses lados que me parecem fracos sem, por um retorno justo, avaliar uma por uma as muitas belezas da comédia ? Bem vêem que me levaria longe, e eu prefiro não sair das raias marcadas pelas exigências tipográficas. 
Houve outra novidade no teatro, que eu de propósito deixei para o fim; é uma comédia que tem por título — O Protocolo — e que traz o meu nome. Os escrúpulos que me fazem não dizer palavra sobre este pequeno ato são bem compreendidos do leitor. Não foi, porém pelo simples prazer de falar da minha peça que eu citei esta novidade. Foi para deixar escrito desde já, que muito a meu contento a representaram os artistas do Ateneu. 
E para terminar direi que, ao passo que esta revista escrita, é lida pelo leitor no seu gabinete fechado e na sua casa não menos solidamente construída, anda por alto mar o pianista Arthur Napoleão, que daqui se foi a mostrar-se aos nossos vizinhos do Prata. 
Para não fazer esquecer a fraseologia mitológica e o cunho de certas figuras poéticas, ponho ponto final dizendo que Éolo há de por certo respeitar aquele que, com harmonias mais brandas, o faria encerrar-se cativado nas grutas sombrias de sua morada incógnita.

Crônicas de Segunda na Usina: Lima Barreto: O Cedro de Teresópolis:


O eminente poeta Alberto de Oliveira, segundo informações dos jornais, está empenhado 
em impedir que um proprietário ganancioso derrube um cedro venerável que lhe cresce nos terrenos. 
A árvore é remanescente de antigas florestas que outrora existiram para aquelas bandas e viu crescer Teresópolis já adulto. 
Não conheço essa espécie de árvore, mas deve ser bela porque Alberto de Oliveira se interessa pela sua conservação. 
Homem de cidade, tendo viajado unicamente de cidade para cidade, nunca me foi dado ver essas essências florestais que todos que as contemplam, se enchem de admiração e emoção superior diante dessas maravilhas naturais. 
O gesto de Alberto de Oliveira é sem dúvida louvável e não há homem de mediano gosto que não o aplauda do fundo d'alma. 
Desejoso de conservar a relíquia florestal o grande poeta propôs comprar, ao dono, as terras onde ela crescia. 
Tenho para mim que, à vista da quantia exigida por este, ela só poderá ser subscrita por gente rica, em cuja bolsa umas poucas de centenas de mil-réis não façam falta. 
Aí é que me parece que o carro pega. Não é que tenha dúvidas sobre a generosidade da nossa gente rica; o meu ceticismo não vem daí. 
A minha dúvida vem do seu mau gosto, do seu desinteresse pela natureza. Excessivamente urbana, a nossa gente abastada não povoa os arredores do Rio de Janeiro de vivendas de campo com pomares, jardins, que os figurem graciosos como a linda paisagem da maioria deles está pedindo. 
Os nossos arrabaldes e subúrbios são uma desolação. As casas de gente abastada têm, quando muito, um jardinzito liliputiano de polegada e meia; e as da gente pobre não têm coisa alguma. 
Antigamente, pelas vistas que ainda se encontram, parece que não era assim. 
Os ricos gostavam de possuir vastas chácaras, povoadas de laranjeiras, de mangueiras soberbas, de jaqueiras, dessa esquisita fruta-pão que não vejo mais e não sei há quantos anos não a como assada e untada de manteiga. 
Não eram só essas árvores que a enchiam, mas muitas outras de frutas adorno, como as palmeiras soberbas, tudo isso envolvido por bambuais sombrios e sussurrantes à brisa. 
Onde estão os jasmineiros das cercas? Onde estão aqueles extensos tapumes de maricás que se tornam de algodão que mais é neve, em pleno estio? 
Os subúrbios e arredores do Rio guardam dessas belas coisas roceiras, destroços como recordações. 
A rua Barão do Bom Retiro que vem do Engenho Novo à Vila Isabel dá a quem por ela passa uma amostra disso. São restos de bambuais, de jasmineiros que se enlaçavam pelas cercas em fora; são mangueiras isoladas, tristonhas, saudosas das companheiras de alameda que morreram ou foram mortas. 
Não se diga que tudo isso desapareceu para dar lugar a habitações; não, não é verdade. Há trechos e trechos grandes de terras abandonadas, onde os nossos olhos contemplam esses vestígios das velhas chácaras da gente importante de antanho que tinha esse amor fidalgo pela casa e que deve ser amor e religião para todos. 
Que os pobres não possam exercer esse culto; que os médios não o possam também, vá lá! e compreende-se; mas os ricos? Qual o motivo? 
Eles não amam a natureza; não têm, por lhes faltar irremediavelmente o gosto por ela, a iniciativa para escolher belos sítios, onde erguerem as suas custosas residências, e eles não faltam no Rio. 
Atulham- se em dois ou três arrabaldes que já foram lindos, não pelas edificações, e não só pelas suas disposições naturais, mas também, e muito, pelas grandes chácaras que neles havia. 
Botafogo está neste caso. Laranjeiras, Tijuca e Gávea também. 
Aos famosos melhoramentos que têm sido levados a cabo nestes últimos anos, com raras exceções, tem presidido o maior contra-senso. 
Os areais de Copacabana, Leme, Vidigal, etc., é que têm merecido os carinhos dos reformadores apressados. 
Não se compreende que uma cidade se vá estender sobre terras combustas e estéreis e ainda por cima açoitadas pelos ventos e perseguidas as suas vias públicas pelas fúrias do mar alto. 
A continuar assim, o Rio de Janeiro irá por Sepetiba, Angra dos Reis, Ubatuba, Santos, Paranaguá, sempre procurando os areais e os lugares onde o mar se possa desencadear em ressacas mais fortes. 
É preciso não cessar em profligar tal erro; tanto mais que não há erro, o que há é especulação, jogo de terrenos, que. são comprados a baixo preço e os seus proprietários procuram valorizá-los num ápice de tempo, encaminhando para eles os melhoramentos municipais. 
Todo o Rio de Janeiro paga impostos, para que tal absurdo seja posto em prática; e os panurgianos ricos vão docilmente satisfazendo a cupidez de matreiros sujeitos para quem a beleza, a saúde dos homens, os interesses de uma população nada valem. 
É por isso que disse não me fiar muito que Alberto de Oliveira alcançasse realizar o seu desideratum. 
Os ricos se afastam dos encantos e perspectivas dos sítios em que se possam casar o mais possível a arte e a natureza. 
Perderam a individualidade da escolha; não associam à natureza as suas emoções nem. esta lhes provoca meditações. 
O estado dos arredores do Rio, abandonados, enfeitados com construções contra-indicadas, cercados de terrenos baldios onde ainda crescem teimosamente algumas grandes árvores das casas de campo de antanho, faz desconfiar que os nababos de Teresópolis pouco se incomodam com o cedro que o turco quer derrubar, para fazer caixas e caixões que guardem quinquilharias e bugigangas. 
Daí pode ser que não;. e eu desejaria muito que tal .acontecesse, pois deve ser um soberbo espetáculo contemplar a magnífica árvore, cantando e afirmando pelos tempos em fora, a vitória que obteve tão-somente pela força de sua beleza e majestade. 
Bagatelas, 27-2-1920

Crônicas de Segunda na Usina: Machado de Assis: 15 DE SETEMBRO DE 1862:



Tirei hoje do fundo da gaveta, onde jazia a minha pena de cronista. A coitadinha estava com um ar triste, e pareceu-me vê-la articular por entre os bicos, uma tímida exprobração. Em roda do pescoço enrolavam-se uns fios tenuíssimos, obra dessas Penélopes que andam pelos tetos das casas e desvãos inferiores dos móveis. Limpei-a, acariciei-a, e, como o Abencerragem ao seu cavalo, disse-lhe algumas palavras de animação para a viagem que tínhamos de fazer. Ela, como pena obediente, voltou-se na direção do aparelho de escrita, ou, como diria o tolo de Bergerac, do receptáculo dos instrumentos da imoralidade. Compreendi o gesto mudo da coitadinha, e passei a cortar as tiras de papel, fazendo ao mesmo tempo as seguintes reflexões, que ela parecia escutar com religiosa atenção:
— Vamos lá; que tens aprendido desde que te encafuei entre os meus esboços de prosa e de verso? Necessito mais que nunca de ti; vê se me dispensas as tuas melhores idéias e as tuas mais bonitas palavras; vais escrever nas páginas do Futuro. Olha para que te guardei! Antes de começarmos o nosso trabalho, ouve amiga minha, alguns conselhos de quem te preza e não te quer ver enxovalhada . . . Não te envolvas em polêmicas de nenhum gênero, nem políticas, nem literárias, nem quaisquer outras; de outro modo verás que passas de honrada a desonesta, de modesta a pretensiosa, e em um abrir e fechar de olhos perdes o que tinhas e o que eu te fiz ganhar. O pugilato das idéias é muito pior que o das ruas; tu és franzina, retrai-te e fecha-te no círculo dos teus deveres, quando couber a tua vez de escrever crônicas. Seja entusiasta para o gênio, cordial para o talento, desdenhosa para a nulidade, justiceira sempre, tudo isso com aquelas meias-tintas tão necessárias aos melhores efeitos da pintura. Comenta os fatos com reserva, louva ou censura, como te ditar a consciência, sem cair na exageração dos extremos. E assim viverás honrada e feliz. 
E havendo dito estas coisas à minha pena, tinha eu acabado de preparar o papel, e eis que ela começou, entre os meus já desacostumados e emperrados dedos, a mencionar que no dia 4 deste mês se efetuou o encerramento da assembléia legislativa, cerimônia sobre a qual nada há que dizer, porque foi conforme os estilos que por sua natureza nada oferecem de notável. Os membros do parlamento foram procurar no remanso da paz o repouso das lutas da tribuna e dos trabalhos com que auxiliaram a administração na sessão finda. Entre os serviços prestados este ano pela representação nacional, convém não esquecer o de haver habilitado o governo a fazer o serviço financeiro de 63 a 64 por meio de um orçamento definido e discutido. 
Passo às letras e às artes. 
O maior acontecimento literário da quinzena foi o poema de Thomaz Ribeiro, D. Jaime, cujos primeiros exemplares chegaram pelo paquete. A fama chegou com o livro, e assim, todos quantos estimam a literatura, militantes ou amadores, correram à obra mal os livreiros a puseram nos mostradores. Dizia-se que D. Jaime era uma obra de largas proporções, e que Thomaz Ribeiro, como raros estreantes, deitara a barra muito além de todos os estreantes; dizia-se isto, e muitas coisas mais. O poema foi lido, e uma só vírgula não se alterou aos louvores da fama. O poema D. Jaime é realmente uma obra de elevado merecimento, e Thomaz Ribeiro um poeta de largo alento; a sua musa é simultaneamente simples, terna, graciosa, épica, elegíaca; ensinou-lhe ela a ser poeta de poesia, expressão esta que não deve causar estranheza a quem reparar que há poetas de palavras, mas Thomaz Ribeiro não é poeta de palavras, certo que não! 
Não me demorarei em referir os episódios mais celebrados do poema, nem em analisar as páginas mais lidas, que o são todas, e no mesmo grau, mas muito de passagem perguntarei com o Sr. Castilho onde há mais pura e doce poesia do que naquele fragmento poético — Os filhos do nosso amor? — Aquele fragmento publicado isoladamente bastaria para cingir na cabeça de Thomaz Ribeiro a augusta e porfiada coroa de poeta. 
Antes da chegada do paquete que nos trouxe aquele presente literário, havia sido publicado o terceiro volume da Biblioteca Brasileira, interessante publicação do meu distinto amigo Quintino Bocaiúva. Este terceiro volume é o primeiro de um novo romance do autor do Guarani. Vejamos o que se pode desde já avaliar nas primeiras cento vinte páginas do romance, que tantas são as do primeiro volume. 
E antes de tudo notarei o apuro do estilo em que está escrito este livro; a pena do autor do Guarani distinguia-se pela graça e pela sobriedade; essas duas qualidades dobraram na sua nova obra. O romance intitula-se As minas de prata, e é por assim dizer uma investigação histórica. Serve de base ao romance a descoberta de Robério Dias, no ano da graça de 1557, de umas minas de prata em Jacobina. O romance abre por uma rápida descrição da Bahia de S. Salvador, no dia primeiro de janeiro de 1609. É dia duplamente de festa: dois motivos traziam a população alvoroçada; o primeiro, o dia de ano bom; o segundo, a festa que se preparava para celebrar a chegada à Bahia do novo governador D. Diogo de Menezes e Siqueira. 
O autor faz assistir o leitor à entrada das devotas para a igreja da Sé onde devia ser cantada a missa; em ligeiras penadas dá ele amostra dos costumes do tempo, e é por uma cena pitoresca que ele prepara a entrada de alguns dos principais personagens do romance, Estácio Correa, Cristóvão d'Ávila, elegante do tempo, Elvira e Inezita. O namoro destes quatro dentro da igreja é contado em algumas páginas graciosas. 
Não acompanharei capítulo por capítulo o primeiro volume; tenho medo de reduzir à prosaica e seca narrativa a exposição interessante das Minas de Prata. Notarei que neste volume, que, como acabo de dizer, é uma exposição, as personagens destinadas a figurar no primeiro plano da história são introduzidas em cena com a importância que as caracteriza: Vaz Caminha, o jesuíta Fernão Cardim, o jesuíta Gusmão de Molina. Se alguma observação me pode sugerir a leitura que fiz do volume, é relativamente a uma simples questão de pormenor. Este padre Molina entra em cena com a cara fechada de um conspirador; deixa-se adivinhar que ele vem em virtude das questões levantadas pela ingerência da Companhia de Jesus nos negócios da administração. Um simples secular que trouxesse uma missão secreta seria reservado; com um jesuíta, não se dá à plausibilidade de suspeitar o contrário; seria prudentíssimo e reservadíssimo. Ora, não me parece próprio de um jesuíta o conselho dado ao lance do xadrez na biblioteca do convento, conselho que, aludindo às suas intenções relativamente ao governador, faz olhar de esguelha o licenciado Vaz Caminha. Talvez esta observação não tenha a 
importância que eu lhe acho; mas qualquer que seja a insignificância do pormenor a que aludo, lembrarei que é do conjunto das linhas que se formam as fisionomias, e que não sei de fisionomia de jesuíta descuidada e indiscreta. 
Entretanto, demos fim à observação e consignemos, ao lado da grata notícia do primeiro volume, o desejo que nos fica, a mim e aos que o leram, da próxima publicação dos dois volumes complementares. 
Falemos agora de Arthur Napoleão que acaba de chegar ao Rio de Janeiro. Em 1857, aquele prodigioso menino inspirou verdadeiro entusiasmo nesta Corte, onde acabara de chegar cercado pela auréola de uma reputação. Criança ainda, o prestígio dos tenros anos dava ao seu talento realce maior. Com ele acontecera o mesmo que com Mozart, de quem diz um escritor, aludindo à primeira manifestação do talento na idade pueril: — “C'est ainsi que Mozart apprit la musique, comme en se jouant, ou plutôt la musique se reveillait dans son âme avec le sentiment de la vie.” Desde os primeiros anos, Arthur revelou-se, e desde logo começou para ele essa série não interrompida de trunfos de que se tem composto a sua existência. 
Os amigos e patrícios poderiam desconfiar do seu entusiasmo, e indagar entre si se ele não era efeito de um amor sem exame nem reserva, ou pela interessante criança, ou pelo patrício artista. Essa dúvida, se alguma vez se apresentou no espírito dos patrícios e dos amigos, dissipou-se sem dúvida quando Arthur Napoleão, entrando nos grandes centros da arte e dos artistas, recebeu deles a 
confirmação solene do batismo da pátria. Aplausos, ovações, abraços fraternais o receberam, e cada nome que passava, Rossini, Meyerbeer, Verdi, Talberg, Vieux- Temps, Sivori, deixaram uma nota sua, uma linha, uma palavra no álbum do menino artista. 
Assim cresceu Arthur Napoleão na idade, na glória e no talento; de cidade em cidade, a sua viagem foi um triunfo não interrompido; mas, como verdadeiro artista, não se deixou adormecer nos louros e nas delícias de Cápua; estudou viajando, e buscou pelo estudo a perfeição. Nem só executa inspirações alheias; tem-nas suas e das mais originais; e deve-se ao seu estro musical algumas composições esparsas de muito merecimento. Sei mesmo que Arthur Napoleão busca voar mais alto e escrever seu nome em uma obra duradoura: dois poetas ingleses deitaram mãos à obra, a pedido do compositor, e cada um foi depor-lhe nas mãos um poema dramático, tirado um da comédia de Shakespeare, Como queira, e o outro de uma novela de Fenimore Cooper. 
Quisera falar de teatros, mas os teatros não me dão largo campo para falar deles, ou, arrisquemos antes a verdadeira expressão, não me dão campo absolutamente nenhum. Nenhuma nova de vulto, digna de menção, foi dada nos dias da quinzena; e a não ser a reprise dos Íntimos, no Ateneu Dramático, para solenizar o grande dia nacional, na presença da imperial família, e cujo desempenho esteve na altura dos melhores dias daquela comédia, não tenho que comentar entre mim e o público. No horizonte aparece notícia de novidades dramáticas, e talvez à hora em que os leitores lerem estas páginas alguma delas estejam na tela da publicidade. Dessas novidades são as principais um drama original no Ginásio e uma tradução no Ateneu; o drama original é do Sr. Dr. Macedo, e intitula-se Lusbellla; a tradução é uma comédia do feliz e talentoso Sardou, o autor dos Íntimos e das Garatujas, intitulada O Borboletismo. É a necessidade que os maridos têm de variar de ocupações, de hábitos e... de mulheres. Borboletear é o verbo, e nesta época em que os costumes sofrem suas mais ou menos profundas facadas, estou certo que esta comédia desafiará a curiosidade angustiosa de muitas esposas. Eu li o original da comédia francesa, e posso afirmar que não há posição mais ridícula do que a do marido borboleteador, e que conclusões de V. Sardou são de consolar as mulheres desventurosas. Ocorre-me agora que também o Ateneu Dramático anuncia uma nova comédia, original brasileiro, cujo título é uma interrogação: O que é o casamento? O autor chama-se* * *. 
Este sinal abriu já campo às conjecturas. A comédia é para estréia do distinto artista Joaquim Augusto, que acaba de chegar da cidade de S. Paulo. 
Nenhuma ocasião mais azada do que esta para lançar ao papel algumas reflexões que trago incubadas relativamente à situação dos teatros. Para os que, como eu, vêem no teatro uma tribuna e uma escola, é triste contemplar o abandono em que ele jaz, sem que a iniciativa oficial intervenha com a sua força e com a sua autoridade. Assim, vemos hoje duas cenas regulares entregues aos seus próprios recursos; a primeira, o Ateneu Dramático, onde uma reunião dos nossos melhores artistas trabalha com ardor por desempenhar uma tarefa árdua, gloriosa, embora, marcando a cada exibição notável aproveitamento dos seus recursos; a segunda, o Ginásio, onde o grupo de artistas que lhe ficara depois do último desmembramento, procura e se esforça por continuar as tradições passadas. Não sei qual o meio de resolver a situação, ou antes, não quero estender-me ao exame dela; mas o que é fato é que o trabalho fecundo e os recursos bem aproveitados têm direito à atenção do governo; e mais que tudo as duas missões do teatro, a moral e a poética, demandam dos poderes superiores alento e iniciativa. Dito isto, ponho ponto final a esta crônica, e passo a ralhar com a minha pena, que tão esperançosa me surgiu da gaveta, e tão desalinhada e sensaborona se houve nestas páginas.

Domingo na Usina: Biografia: Constâncio Alves:


 
Terceiro ocupante da cadeira 26, foi eleito em 6 de julho de 1922, na sucessão de Paulo Barreto, e recebido pelo acadêmico Félix Pacheco em 22 de agosto de 1922. 
Constâncio Alves (Antônio Constâncio Alves), jornalista, ensaísta e orador, nasceu em Salvador, BA, em 16 de julho de 1862, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de fevereiro de 1933. 
Iniciou o curso de Direito no Recife, em 1880, abandonando-o pouco depois para ingressar no curso de Medicina em Salvador, no qual se formou em 1885. Exerceu o jornalismo desde os anos de estudante. Em 1890, transferiu-se para o Rio de Janeiro e entrou para o Jornal do Brasil, de Rodolfo Dantas, onde manteve, durante muitos anos, uma seção diária, com notas cheias de ironia, de malícia, de humorismo e de sabedoria. Quando se deu a reação violenta do jacobinismo republicano, o Jornal do Brasil, que era então um baluarte de ideias monarquistas, foi um dos diários mais visados do Rio. 
Em 1896, Constâncio Alves estava no Jornal do Comércio, publicando o “Dia a dia”, seção quotidiana. Durante a sua longa permanência de 36 anos no Jornal do Comércio, ele tratou de todos os assuntos da cultura, menos da política. As milhares de notas suas constituem uma coleção singularmente preciosa das letras jornalísticas e mesmo literárias. Costumava assinar apenas C. A. 
Embora fosse médico, Constâncio Alves nunca exerceu a Medicina. Além de jornalista, foi funcionário da Biblioteca Nacional, onde ingressou em 1895, tendo chegado a diretor da Seção de Manuscritos, de 1903 a 1913. Foi escritor de poucos livros, mas de muitos trabalhos esparsos. Era também poeta. Assim como os seus artigos para a imprensa, as poesias que escreveu jazem esquecidas nas páginas dos jornais e revistas onde apareceram. Alguns dos seus versos encontram-se no discurso de saudação a Constâncio Alves, pronunciado por Félix Pacheco. Segundo Manuel Bandeira, se os poetas bissextos pensassem em eleger um patrono, “andariam bem escolhendo a nobre figura de Constâncio Alves”. 
Tinha vários amigos entre os fundadores da Academia, entre os quais se contavam Veríssimo, Nabuco e o próprio Machado, e poderia ter sido ele mesmo um dos fundadores. Bastava-lhe, para adquirir esse direito, reunir alguns dos seus artigos e publicar um livro. Preferia, no entanto, enviar diretamente aos leitores do seu jornal as páginas da sua cultura e da sua sabedoria. Posteriormente, nas vagas que iam ocorrendo na Academia, o nome dele surgia nas cogitações dos grandes eleitores. Na correspondência de Nabuco com Machado de Assis, seu nome era apontado como o de um candidato de grande mérito. Mas só em 1922 apresentou-se candidato, e foi eleito. Na Academia, foi tesoureiro (1924, 1929), bibliotecário (1923,1925 e 1926) e redator da Revista (1927). Fez o elogio a Ernest Renan (1923) e a Anatole France (1924); o discurso sobre Laurindo Rabelo, no centenário de nascimento do poeta (1926); a conferência no centenário de Júlio Verne (1928), e pronunciou o discurso de adeus a Rui Barbosa em nome da Academia (1923). 
Constâncio Alves sugeriu, em junho de 1918, a comemoração do jubileu literário de Rui Barbosa, que se realizou em 12 de agosto na Biblioteca Nacional, sendo o orador oficial. 
Atualizado em 31/03/2016.
fonte de origem:

Domingo na Usina: Biografias: Ribeiro Couto:

 


Quarto ocupante da cadeira 26, eleito em 28 de março de 1934, na sucessão de Constâncio Alves e recebido pelo Acadêmico Laudelino Freire em 17 de novembro de 1934. Recebeu o Acadêmico Manuel Bandeira. 
Ribeiro Couto (Rui Ribeiro Couto), diplomata, poeta, contista, romancista, magistrado e jornalista, nasceu em Santos, SP, em 12 de março de 1898, e faleceu em Paris, França, em 30 de maio de 1963. 
Filho de José de Almeida Couto e de Nísia da Conceição Esteves Ribeiro. Cursou a Escola de Comércio José Bonifácio, em Santos. Estreou no jornalismo em 1912, na imprensa de sua cidade natal. Em 1915, iniciou o curso da Faculdade de Direito de São Paulo, trabalhando no Jornal do Comércio, em 1916, e depois no Correio Paulistano. Transferiu-se para o Rio de Janeiro e, em 1919, bacharelou-se na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Publicou o seu primeiro livro de poesias, O jardim das confidências, em 1921. Trabalhou em diversos jornais, até 1922. Participou da Semana de Arte Moderna e, em seguida, retirou-se para o interior de São Paulo, em tratamento de saúde. Naquele ano saíram os volumes de contos A casa do gato cinzento e O crime do estudante Batista. 
Residiu dois anos em Campos do Jordão, passando a exercer depois o cargo de delegado de polícia em São Bento do Sapucaí. Nomeado promotor público em São José do Barreiro, ocupou esse cargo até 1925, ano em que se transferiu para Pouso Alto, MG, em busca de um clima propício à sua saúde. Ali exerceu a promotoria pública até 1928. Nesse ano regressou ao Rio de Janeiro, entrando para o Jornal do Brasil como redator. 
Designado para o posto de auxiliar de consulado m Marselha, partiu em fins de 1928 para aquela cidade francesa, onde o cônsul-geral Mateus de Albuquerque o indicou para vice-cônsul honorário. Em 1931, foi removido para Paris, onde serviu um ano como adido junto ao consulado-geral. O governo provisório, por designação do ministro Afrânio de Melo Franco, em 1932, promoveu-o a cônsul de terceira classe. Foi 2º secretário de legação na Holanda, de 1935 a 1940; 1º secretário de legação, em 1942; encarregado de Negócios em Lisboa, de 1944 a 1946; ministro plenipotenciário na Iugoslávia, de 1947 a 1952; embaixador do Brasil na Iugoslávia, de 1952 até aposentar-se. 
Durante a sua permanência na Europa, ocupou-se também de divulgar a literatura brasileira. Não interrompeu a colaboração para o Jornal do Brasil, O Globo e A Província (de Pernambuco), sobre literatura e acontecimentos do estrangeiro. 
Seu primeiro livro, O jardim das confidências, ainda é simbolista. Foi definido por Ronald de Carvalho como “intimista”, em virtude do tom de confidência, dos temas simples e cotidianos, próprios de uma tendência do período (1910-1920) de transição, herdeiro do Simbolismo, e que foi intitulado de Penumbrismo, um momento precursor do Modernismo, a que Ribeiro Couto se ligou a partir de 1922, sem sacrifício, contudo, de seu feitio peculiar. Escreveu versos em francês no livro Le jour est long (O dia é longo), pelo qual conquistou, em 1958, em Paris, o prêmio internacional de poesia, outorgado anualmente a poetas estrangeiros cuja obra honra a França. Suas obras em prosa, romances, contos, crônicas também refletem a mesma atmosfera, ao retratar episódios simples, a gente humilde dos subúrbios e a vida anônima das pequenas ruas e casas pobres. 

Atualizado em 20/09/2016.
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Domingo na Usina: Biografias: Gilberto Amado:

 


Quinto ocupante da Cadeira 26, eleito em 3 de outubro de 1963, na sucessão de Ribeiro Couto e recebido pelo Acadêmico Alceu Amoroso Lima em 29 de agosto de 1964. 
Gilberto Amado, político, ensaísta, memorialista e diplomata, nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969. 
Era o primeiro dos 14 filhos do casal Melchisedech Amado e Ana Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga, também no interior do Sergipe. Depois estudou Farmácia na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, da qual se tornou, ainda muito moço, catedrático de Direito Penal. 
Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal do Commercio com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou sua primeira viagem à Europa assunto de um de seus livros de memórias e em 1913, pronunciou, no salão nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade dos Homens de Letras, uma conferência em que fez o elogio do espírito contemplativo A chave de Salomão, que no ano seguinte, juntamente com outros escritos, seria publicada em livro. 
Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe e em 1926, eleito senador pelo mesmo estado. Sua atuação na Câmara se fez sentir, sobretudo, através de discursos que se tornaram famosos, como o que pronunciou na sessão de 11 de dezembro de 1916 sobre "As instituições políticas e o meio social no Brasil". Nos últimos anos da República Velha, exerceu mandato no Senado, até encerrar-se a sua carreira política, com a Revolução de 1930. Em 1931 realizou uma série de conferências sobre regime eleitoral, publicado no livro Eleição e Representação (1932). Por essa época, voltou ao magistério superior, na Faculdade Nacional de Direito do Distrito Federal, iniciando um novo e fecundo período em sua vida, de estudos e trabalhos. A Comissão de Direito Internacional criou em sua homenagem a “Amado Lectures”, que anualmente é proferida por um especialista em direito internacional. 
Em 1934, foi nomeado consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, sucedendo a Clóvis Beviláqua. Desse posto passou ao de embaixador, sendo a sua primeira missão junto ao governo do Chile (1936). De 1939 a 1947, foi ministro na Finlândia. A partir de 1948, tornou-se membro da Comissão de Direito Internacional da ONU, sediada em Genebra. Os arquivos do Itamarati guardam os numerosos relatórios, pareceres e teses de Gilberto Amado, documentos da sua contribuição ao estudo do Direito Internacional, durante o período de 28 anos em que integrou essa Comissão. Foi também delegado do Brasil a todas as sessões ordinárias da Assembléia Geral da ONU, desde as primeiras, realizadas ainda em Lake Success, logo depois da assinatura da Carta de São Francisco, até à última a que pôde comparecer, reunida em Nova York em 1968. São de sua autoria publicações que se encontram no Anuário das Nações Unidas, tais como: "Direitos e deveres dos Estados", "Definição da agressão", "Processo arbitral", "Reservas às Convenções multilaterais", e outras. 
Afastado do Brasil em missões oficiais no exterior, Gilberto Amado aos poucos foi se tornando, entre nós, figura mítica. Periodicamente vinha ao Brasil. Como toda figura mítica, tornou-se conhecido, sobretudo, pelas lendas e anedotas que circulavam a seu respeito, reproduzindo ditos espirituosos e atitudes inusitadas. A carreira de escritor seguiu sempre paralela à do político e do diplomata. Em 1917 publicou os versos de Suave ascensão. Depois de História de Minha Infância, Minha Formação no Recife, Mocidade no Rio e Primeira Viagem à Europa, Presença na Política e Depois da Política, o irmão de Genolino Amado foi eleito para a Academia em 1963. 
Atualizado em 09/08/2017.
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Domingo na Usina: Biografias: Mauro Mota:

 


Sexto ocupante da Cadeira 26, eleito em 8 de janeiro de 1970, na sucessão de Gilberto Amado e recebido pelo Acadêmico Adonias Filho em 27 de agosto de 1970. 
Mauro Mota (Mauro Ramos da Mota e Albuquerque), jornalista, professor, poeta, cronista, ensaísta e memorialista, nasceu no Recife, PE, em 16 de agosto de 1911, e faleceu na mesma cidade em 22 de novembro de 1984. 
Filho de José Feliciano da Mota e Albuquerque e de Aline Ramos da Mota e Albuquerque, estudou na Escola Dom Vieira, em Nazaré da Mata, no Colégio Salesiano e no Ginásio do Recife. Diplomou-se na Faculdade de Direito do Recife em 1937. 
Tornou-se professor de História do Ginásio do Recife e em várias escolas particulares; catedrático de Geografia do Brasil, por concurso público, do Instituto de Educação de Pernambuco. Desde os anos universitários colaborava na imprensa. Foi secretário, redator-chefe e diretor do Diário de Pernambuco; colaborador literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e do Jornal de Letras do Rio de Janeiro. De 1956 a 1971, foi diretor executivo do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; diretor do Arquivo Público de Pernambuco, de 1973 até 1983; membro do Seminário de Tropicologia da Universidade Federal de Pernambuco e da Fundação Joaquim Nabuco. Foi membro do Conselho Federal de Cultura de Pernambuco e do Conselho Federal de Cultura. 
Como poeta, destaca-se por suas Elegias, publicadas em 1952. Nessa obra figura também o “Boletim sentimental da guerra do Recife”, um dos seus poemas mais conhecidos. Sua poesia é de fundo simbólico e elegíaco, sobre temas nordestinos, retratando dramas do cotidiano em linguagem natural e espontânea. 
Recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio da Academia Pernambucana de Letras por suas Elegias (1952); o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Prêmio PEN Clube do Brasil, pelo livro de poesias Itinerário (1975).
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Domingo na Usina: Biografias: Maciel Monteiro:

 


Maciel Monteiro (Antônio Peregrino Maciel Monteiro, 2º Barão de Itamaracá), médico, jornalista, diplomata, político, orador e poeta, nasceu em Recife, PE, em 30 de abril de 1804, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 5 de janeiro de 1868. É o patrono da cadeira nº 27, por escolha do fundador Joaquim Nabuco. 
Era filho do Dr. Manuel Francisco Maciel Monteiro e de mulher Manuela Lins de Melo. Fez estudos preparatórios em Olinda, seguindo, em 1823, para a França. Ingressou na Universidade de Paris, onde recebeu o grau de bacharel em Letras (1824), em Ciências (1826) e doutorou-se em Medicina (1829). Regressou em 1829 ao Recife, onde exerceu alguns cargos médicos, mas logo abandonou a profissão pela política e pela diplomacia, carreira mais de acordo com sua índole mundana e social. Elegante, vaidoso, foi um perfeito galanteador, cujo talento poético se converteu em instrumento de esnobismo e volubilidade amorosa. 
Foi vereador da Câmara Municipal e diretor do Teatro Público. Ligado ao Partido Conservador, foi eleito deputado provincial (1833) e geral (1834-1844 e 1850-1853), ministro dos Negócios Estrangeiros de 1837 e 1839 e, deste ano a 1844, diretor da Faculdade de Direito de Olinda. Nomeado membro do Conselho do Imperador em julho de 1841 e diretor geral da Instrução Pública em Pernambuco, em 1852. Foi redator e colaborador de O Lidador, órgão do Partido Republicano (Recife, 1845-1848); A Carranca, periódico político-moral-satírico-cômico (Recife, 1846); A União, órgão do Partido Conservador (Recife, 1848-1851). Abandonando a política, foi para Lisboa em 1853, como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Brasil. Teve boa atuação diplomática e tornou-se notório pelos serviços contra os moedeiros falsos de Lisboa no Brasil, o que lhe valeu o título de 2º Barão de Itamaracá. Estava a serviço do Brasil quando ali faleceu. Seus restos mortais foram trasladados para Pernambuco em 1870, e encerrados, em 1872, no mausoléu que a Câmara Municipal do Recife mandou erigir no cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção, em Santo Amaro. 
A sua formação cultural na Europa, o contato com o Romantismo francês e posteriormente com o Romantismo português determinaram a feição romântica da sua obra antes mesmo de se achar definido no Brasil o Romantismo. O poeta original caracterizou-se por ser quase um improvisador. Deixava poesias em álbuns de senhoras, em mãos de amigos, esparsas. A sua melhor produção literária é representada pelas poesias lírico-amorosas, mas nada publicou além da tese de medicina, em francês, e algumas poesias e discursos parlamentares, entre os quais se destaca o que pronunciou em 10 de junho de 1851 acerca da abolição do tráfico negreiro, e isso revela duplo aspecto pouco conhecido de Maciel Monteiro: o orador e o abolicionista. Palavras suas: “sempre detestei a escravidão; a minha natureza como que se revolta à sombra de qualquer jugo”; “sempre me reputei abolicionista”. A fortuna crítica de Maciel Monteiro tem sofrido altos e baixos. Para Sílvio Romero, é um importante poeta de transição e um dos predecessores do lirismo hugoano; para José Veríssimo, uma simples lenda. Foi reabilitado na sua justa medida por José Aderaldo Castelo.
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Domingo na Usina: Biografias: Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça:

 


Sétimo ocupante da Cadeira nº 26, eleito em 11 de abril de 1985, na sucessão de Mauro Mota e recebido em 2 de julho de 1985 pelo Acadêmico José Sarney. Recebeu os Acadêmicos Ariano Suassuna, Alberto da Costa e Silva e Marco Maciel. Tomou posse como Presidente da ABL em 15 de dezembro de 2005. 
Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça nasceu em Nazaré da Mata (PE), em 30 de junho de 1939. É filho único de Antônio de Souza Vilaça e Evalda Rodrigues Vilaça. Foi casado com Maria do Carmo Duarte Vilaça (falecida), tem o casal três filhos: Marcantônio (falecido em 2000), Rodrigo Otaviano e Taciana Cecília. 
Escolaridade e Magistério 
Cursos Primário e Ginasial no Ginásio de Limoeiro (PE). 
Curso Clássico no Colégio Nóbrega – Recife (PE). 
Superior: Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco-PE (1962). 
Diversos Cursos de Extensão Universitária. 
Cursou o Mestrado, na Faculdade de Direito da UFPE. 
Professor de Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, de 1964 a 1994. 
Professor de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, de 1967 a 1968. 
Professor de Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Pernambuco (1964). 
Professor de História Política-Econômica e Social do Brasil, na Faculdade de Filosofia do Recife (1964). 
Professor de História do Brasil, no Ginásio de Limoeiro – PE (1958). 
Professor do Seminário Especial para Líderes Estudantis Brasileiros, co-patrocinado pela Universidade de Harvard (USA) – (1965). 
Conferencista da Escola Superior de Guerra – 1970 e 1985. 
Conferencista da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (1994 e 1995). 
Conferencista da Escola de Guerra Naval da República Argentina – Buenos Aires (1996). 
Conferencista da Universidade de Helsinki (Finlândia). 
Conferencista da Associação dos Escritores de Moçambique. 
Conferencista da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica – 2002. 
Conferencista da Universidade Autônoma de Lisboa.
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Domingo na Usina: Biografias: Álvaro Lins:

Quarto ocupante da Cadeira 17, eleito em 5 de abril de 1955, na sucessão de Roquette-Pinto e recebido pelo Acadêmico João Neves da Fontoura em 7 de julho de 1956.

Álvaro Lins (Álvaro de Barros Lins), professor e crítico literário, nasceu em Caruaru, PE, em 14 de dezembro de 1912, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de junho de 1970.

Era filho de Pedro Alexandrino Lins e de Francisca de Barros Lins. Fez o curso primário na sua cidade natal e o curso secundário no Colégio Salesiano e no Ginásio Padre Félix, no Recife. Ali ingressou na Faculdade de Direito. Ainda estudante, começou a lecionar História da Civilização no Ginásio do Recife e no Colégio Nóbrega. Aos 20 anos, como representante do Diretório dos Estudantes na abertura do ano letivo da Faculdade de Direito, pronunciou a conferência “A Universidade como escola de homens públicos”, que chamou a atenção do Recife para seu nome. Passou, então, a fazer jornalismo no Diário de Pernambuco. Colou grau em Direito em 1935. Participando de movimentos políticos, foi nomeado secretário do Governo de Pernambuco. Seu nome fazia parte da chapa de candidatos a deputado federal quando os acontecimentos de 1937 interromperam a sua carreira política. Firmou-se, então, no jornalismo, como redator e diretor do Diário da Manhã, de 1937 a 1940. Ainda no Recife, aos 27 anos, escreveu o seu primeiro livro, História literária de Eça de Queirós (1939).

Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde começou a fazer crítica literária, gênero que lhe deu nome nacional. Foi colaborador do “Suplemento Literário” do Diário de Notícias e dos Diários Associados (1939-1940), redator-chefe do Correio da Manhã (1940-1956). Convidado pelo Ministério das Relações Exteriores, escreveu uma biografia do Barão do Rio Branco no ano do centenário do seu nascimento (1945). Professor catedrático de Literatura Brasileira do Colégio Pedro II, interino, de novembro de 1941 a dezembro de 1951, quando passou a efetivo mediante obtenção do 1º lugar em concurso de títulos e provas, com a tese A técnica do romance em Marcel Proust, publicada em 1956. Lecionou na cadeira de Estudos Brasileiros da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Lisboa, em missão oficial do Ministério das Relações Exteriores, de 1952 a 1954. Chefiou a Casa Civil do presidente Juscelino Kubitschek (1956), exercendo a função de embaixador do Brasil em Portugal de novembro de 1956 a outubro de 1959. Foi o presidente da 1ª Conferência Interamericana da Anistia para os Exilados e Presos Políticos da Espanha e de Portugal, realizada na Faculdade de Direito de São Paulo (1960) e diretor do “Suplemento Literário” do Diário de Notícias, de março de 1961 até junho de 1964. Em 1962, foi chefe da Delegação Brasileira ao Congresso Mundial da Paz realizado em Moscou.

Álvaro Lins recebeu o Prêmio Centenário de Antero de Quental, pelo ensaio Poesia e personalidade de Antero de Quental (1942); Prêmio Felipe de Oliveira, da Sociedade Felipe de Oliveira, e Prêmio Pandiá Calógeras, da Associação Brasileira de Escritores, pela obra Rio Branco (1945); Prêmio Jabuti Personalidade do Ano, da Câmara Brasileira do Livro, pela sua obra Missão em Portugal (1960), e o Prêmio Luíza Cláudio de Sousa, pelas obras Os mortos de sobrecasaca e Jornal de crítica: sétima série (1963). Foi condecorado com a Grã Cruz da Ordem de Cristo, de Portugal (em 1957).

Atualizado em 28/07/2016.

fonte de origem:

https://www.academia.org.br/academicos/alvaro-lins/biografia

Domingo na Usina: Biografias: Dantas Barreto:

 


Dantas Barreto (Emídio Dantas Barreto), Marechal-de-exército, historiador militar, jornalista, romancista e teatrólogo, nasceu em Bom Conselho, PE, em 22 de março de 1850, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 8 de março de 1931. 
Com apenas quinze anos de idade alistou-se como voluntário na campanha do Paraguai, onde foi condecorado por sua atuação. Em 1868, foi promovido a oficial. Após o término da guerra, voltou ao Brasil e fez o curso de artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro. Tomou parte na campanha de Canudos, tendo sido seus esforços coroados com a promoção a Coronel. Em 1910 foi promovido a General-de-divisão. Foi Ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Demitiu-se para assumir o governo de Pernambuco (1911-1915), sendo mais tarde eleito senador por esse Estado (1916-1918). Reformou-se como Marechal-de-exército em 1918. 
Embora com importantes encargos militares e políticos, Dantas Barreto dedicou-se também à literatura, tornando-se conhecido por suas atividades de cronista, romancista e autor teatral. Colaborou na Revista Americana do Rio de Janeiro e no Jornal do Comércio de Porto Alegre. 
Segundo ocupante da cadeira 27, foi eleito em 10 de setembro de 1910, na sucessão de Joaquim Nabuco, e recebido pelo acadêmico Carlos de Laet em 7 de janeiro de 1911. A sessão de posse realizou-se no Palácio Monroe.
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Dantas Barreto (Emídio Dantas Barreto), Marechal-de-exército, historiador militar, jornalista, romancista e teatrólogo, nasceu em Bom Conselho, PE, em 22 de março de 1850, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 8 de março de 1931. Com apenas quinze anos de idade alistou-se como voluntário na campanha do Paraguai, onde foi condecorado por sua atuação. Em 1868, foi promovido a oficial. Após o término da guerra, voltou ao Brasil e fez o curso de artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro. Tomou parte na campanha de Canudos, tendo sido seus esforços coroados com a promoção a Coronel. Em 1910 foi promovido a General-de-divisão. Foi Ministro da Guerra de Hermes da Fonseca. Demitiu-se para assumir o governo de Pernambuco (1911-1915), sendo mais tarde eleito senador por esse Estado (1916-1918). Reformou-se como Marechal-de-exército em 1918. Embora com importantes encargos militares e políticos, Dantas Barreto dedicou-se também à literatura, tornando-se conhecido por suas atividades de cronista, romancista e autor teatral. Colaborou na Revista Americana do Rio de Janeiro e no Jornal do Comércio de Porto Alegre. Segundo ocupante da cadeira 27, foi eleito em 10 de setembro de 1910, na sucessão de Joaquim Nabuco, e recebido pelo acadêmico Carlos de Laet em 7 de janeiro de 1911. A sessão de posse realizou-se no Palácio Monroe.

Domingo na Usina: Biografias: Gregório da Fonseca:


Terceiro ocupante da Cadeira 27, eleito em 16 de julho de 1931 na sucessão de Dantas Barreto e recebido pelo Acadêmico Alcides Maya em 29 de outubro de 1932.
Gregório da Fonseca (Gregório Porto da Fonseca), engenheiro militar, poeta, biógrafo, ensaísta e conferencista, nasceu em Cachoeira, RS, em 17 de novembro de 1875, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 23 de abril de 1934. 
Fez estudos elementares na cidade natal. Desde cedo amava os livros e gostava de poesia. Com quinze anos de idade, trabalhando como caixeiro, recitava sonetos de Olavo Bilac à hora da sesta e quando não houvesse fregueses a atender, e por isso foi demitido do emprego. Abandonou o comércio e buscou seguir a carreira militar. Estudou engenharia na Escola Militar de Porto Alegre. Ali se ligou ao poeta Aníbal Teófilo e publicou o volume de poesias Templo sem deuses (1907). Transferiu-se para o Rio de Janeiro, aproximando-se dos escritores da época, entre eles Olavo Bilac. Preterido no exército, mais de uma vez, apesar de ser engenheiro, reformou-se como tenente-coronel. Foi diretor da Secretaria da Presidência da República durante os primeiros anos do governo Getúlio Vargas (1930-1934). Pertenceu à roda de literatos em torno de Alcides Maia, no Rio de Janeiro, da qual participou também Lima Barreto. 
Atualizado em 31/03/2016.

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