quarta-feira, 17 de março de 2021

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Teias

E essa luz que não clareia e eu nesta teia.
Tecida de sentimentos profanos sem nenhum engano.
E onde ficam meus planos de mundo sem danos.
E este tempo que não passa nesta vida devassa.
Então vejo garças que passam na velha praça dos desejos.
Com sobejos de vidas e de sentimentos,
Ungüentos que não vão me curar
Desse mau que nunca vai passar.....

Poema na Integra no Livro:
"O Grito da Alma:

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Sabor

Debruçados sobre nossa
Imensa hipocrisia
Velamos nossas desgraças
Ao sabor do momento.

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo:

 




Clarão

Tateando a luz na imensidão do infinito.
Ouço os gritos dos que vagueiam na escuridão imensa.
Fazendo sempre o que os outros pensam
Imaginando o clarão do amor
Substituindo a dor da escuridão.....

Poema na Integra no Livro:
"O Grito da Alma"

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:

 




EU

Até agora eu não me conhecia, Julgava que era eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera Tão clara como 
a fonte e como o dia.
Mas que eu não era eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera... 
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... E não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca! - 
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma, 
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:

 




CONTO DE FADAS

Eu trago-te nas mãos o esquecimento Das horas más que tens vivido, amor! 
E para as tuas chagas o ungüento Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento... Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor Tirou a luz para pintar o vento...
Dou-te o que tenho: o astro que dormita, O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é d´ouro, a onda que palpita.
Dou-te comigo o mundo que Deus fez!
- Eu sou aquela de quem tens saudade, A princesa de conto: "Era uma vez..."

Poesia de Quinta na Usina: Florbela Espanca:

 




RÚSTICA

Ser a moça mais linda do povoado, Pisar, sempre contente, o mesmo trilho, 
Ver descer sobre o ninho aconchegado A bênção do Senhor em cada filho.
Um vestido de chita bem lavado, Cheirando a alfazema e a tomilho... 
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho... Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna Quando descer à "terra da verdade"...
Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza! Dou por elas meu trono de princesa,
E todos os meus reinos de ansiedade.

Poesia de Quinta na Usina: Luís de Camões:


144

Sustenta meu viver üa esperança derivada de um bem tão desejado
que, quando nela estou mais confiado, mor dúvida me põe qualquer mudança.
E quando inda este bem na mor pujança de seus gostos me tem mais enlevado,
me atormenta então ver eu que, alcançado será por quem de vós não tem lembrança.
Assi, que nestas redes enlaçado, a penas dou a vida , 
sustentando üa nova matéria a meu cuidado .
Suspiros d'alma tristes arrancando, dos silvos de ua pedra acompanhado, 
estou matérias tristes lamentando.









Poesia de quinta na Usina: Luís de Camões:


075

Tal mostra dá de si vossa figura, Sibela, clara luz da redondeza,
que as forças e o poder da natureza com sua claridade mais apura.
Quem viu üa confiança tão segura, tão singular esmalte da beleza, 
 que não padeça mais, se ter defesa contra vossa gentil vista procura?
Eu, pois, por escusar essa esquivança, a razão sujeitei ao pensamento,
que, rendida, os sentidos lhe entregaram.
Se vos ofende o meu atrevimento, inda podeis tomar nova vingança
nas relíquias da vida, que escaparam.





Poesia de Quinta na Usina: luís de Camões:



004

Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo 
ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto; 
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando, num'hora acho mil anos, 
e é de jeito que em mil anos não posso achar ü'hora.
Se me pergunta alguém porque assi ando, respondo que não sei; 
porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora.