“E, pois, no círc'lo extremo, que domina Da terra o centro e onde Dite pesa,
66 Eterna pena aos tredos se destina”. —
“Tem, Mestre” — eu disse — “o cunho da clareza O que expões,
69 A geena do inferno e a gente presa.
“Diz-me: os que jazem na lagoa ingente,
72 Os que se encontram em frêmito insolente,
“Por que Deus lá em Dite os não castiga, Se a ira a Deus seus feitos acenderam?
75 Se não, por que a aflição tanto os fustiga?” —
“Deliras? Da tua mente se varreram Princípios sãos”
“Olvidas, porventura, esse preceito, De que houveste na Ética a ciência,
81 Das três disposições, que em mau conceito
“Estão do céu, — malícia, incontinência E furor bestial?
84 Importa a Deus menor irreverência?
“Se atentas em verdade tão profunda,
Se lembras quais são esses que padecem
87 Acima da mansão, que o fogo inunda,
“Verás então ser justo não sofressem
90 Punição culpas suas merecessem”. —
“Sol, que me aclara a vista perturbada,
93 Que o duvidar, como o saber, me agrada.
“Tornando ao que disseste, expliques peço,
96 A divina bondade em tanto excesso”. —
“Filosofia” — disse — “quem a atende Tem demonstrado, quase em toda parte,
“Do divino intelecto e da sua arte.