quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Beleza:





Veja como é bela
A fada que permeia meus sonhos
E incendeia meus desejos.

Que invade meus sentimentos.
Que clareia os meus caminhos mais perversos.

E que me traz de volta um universo de possibilidades,
Com todas as Verdades da minha existência......

Poesia de Quinta na Usina: D'Araújo: Perfume:



Com mãos atadas
Em cordas de sentimentos e dores que não cessam
Perco toda minha pressa.
Visto a minha capa de virtudes duvidosas.

E o frescor do perfume nobre que exala.....

Poesia de quinta na Usina: D'Araújo: Regra:




Que a exceção não seja a regra
Nem a regra a exceção.
Apenas escute o coração
E viva a que tem que ser vivido.

Que o amor dure Enquanto for.....

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa: "O coração, se pudesse pensar, pararia." :



"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. 
Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero. 
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 


"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

Poesia de Quinta na Usina: Fernando Pessoa:

 


 

"Prefiro o Vasques homem meu patrão, que é mais tratável, nas horas difíceis, que todos os patrões abstractos do mundo." 

"Tenho ternura, ternura até às lágrimas, pelos meus livros de outros em que escrituro, pelo tinteiro velho de que me sirvo, pelas costas dobradas do Sérgio, que faz guias de remessa um pouco para além de mim. Tenho amor a isto, talvez porque não tenha mais nada que amar - ou talvez, também, porque nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro como à grande indiferença das estrelas."

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana: Os ventos camoneanos:

 



Bóreas, Aquilão, todos os ventos camoneanos fizeram enormes estragos nos telhados, 
Bóreas, Aquilão, o Noto, o diabo, esgoelaram as cordas da chuva, abordaram a casa [rangente 
bramaram palavrões belíssimos no fragor do assalto Bóreas... e os outros marinheiros bêbados 
agora estão todos eles caídos no convés da madrugada... 
Afinal a coisa parece que não foi assim tão bruta: as minhas cortinas agitam-se festivamente, 
enfunam-se como velas pandas Apenas, em todas as varandas, as açucenas estão degoladas. 
Talvez sejam em última análise manjericões. E agora esse ventinho metido a Fígaro parece que está me fazendo a barba. 
O céu está deslavadamente claro. Lá embaixo, na calçada 
- último resquício clássico 
Cupido, o pobre garoto, choraminga na lata de lixo. 

Poesia de Quinta na Usina: Cruz Sousa: VANDA:

 


 


Vanda! Vanda do amor, formosa Vanda, Macuama gentil, de aspecto triste, 
Deixa que o coração que tu poluíste Um dia, se abra e revivesça e expanda. 
Nesse teu lábio sem calor onde anda A sombra vã de amores que sentiste Outrora, 
acende risos que não viste Nunca e as tristezas para longe manda. 
Esquece a dor, a lúbrica serpente 
Que, embora esmaguem-lhe a cabeça ardente, Agita sempre a cauda venenosa. 
Deixa pousar na seara dos teus dias A caravana irial das alegrias 
Como as abelhas pousam numa rosa.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Elisabeth Duarte:

 


A inspiração

Ela vem pelo ar.

Vem rodopiando feito pião!

Pega os guris jogando bolas de gude,

Enterrando-as no bule das sensações!

Elas voam alto, buscam as torres onde moram os fantasmas que maltratam multidões.

Eles fogem, mas não saem do seu campo de visão, eles sorriem, dançam, fazem papiatas, inibem as bailarinas, as musas e as freiras,

Povoam os estádios, os palcos.

Povoa a Praça Vermelha e os parlamentos do mundo inteiro.

A inspiração é feito carro de boi.

Canta fino, canta alto, leva esperança,

Faz dançar os foliões.

Ela cavalga feito reis e rainhas pelas encostas secretas da Caximira!

Ouve-se os tiros dos canhões, o ronco dos aviões destroçando corações...

Matando as manhas e as manhãs e as aranhas que galgam suas teias insanas, que prendem-se aos ombros dos ermitões!

Elisabeth Duarte

12/2020

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Deise Zandoná Flores:

 


No teu abraço, como uma onda,

os meus olhos derreteram.

No teu encalço, da sua concha,

as minhas pérolas se perderam.

Se verto lágrimas, é para diluir as horas.

Se viro as páginas, é para insistir na história.

Deise Zandoná Flores

Trecho do poema "O Advento do Infinito", do livro: AFRODISIA - DO OLIMPO AO INFINITO

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Ou na editora Clube de Autores:

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Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Denize Azevedo:

 


Sonho, Paixão e Tesão

___Sonhar com você está virando um vício, 

E no sonho de hoje não pude sentir seu beijo,

Acordei nesse momento...

Me deparei com o vento

Que disse ter visto você passar como um furacão,

Fiquei louca de paixão,

Acordei cheia de tesão

Bem na hora em que você me tomou em suas mãos...

Esses sonhos estão virando o meu tormento,

Fui sua por segundos,

E acordei frustrada

Vagando nos meus pensamentos...

Denize Azevedo🌹

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Nina Benavídez:

 


Já te contei que sou insegura? E medrosa? Te contei que sou grossa quando gosto muito de alguém? Que eu gostaria que você ficasse? Olha, vou ser impulsiva, dizer coisas idiotas, mas eu só quero que você fique. É só ter calma, eu sou uma ótima garota, mas você precisa acreditar nisso. Se um dia eu dizer coisas horríveis, só me abrace, diga que eu não preciso ser assim, que não existe motivos para ter medo, que você vai cuidar de mim, me faça sentir segura. Isso vai funcionar, eu quero muito que seja você. Entende? Pareço forte, mas na verdade isso tudo é só medo, medo de ser machucada, de ficar frágil, de me perder e não achar mais o caminho de volta.

Nina Benavídez.

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Liz S:

 


Sabe, é difícil viver assim,

Procurando por você em cada rosto que vejo na rua,

Procurando pedacinhos do que te formava.

Em alguns vejo teu cabelo, tuas bochechas, copias do teu sorriso...do teu olhar.

AH COMO ISSO É FRUSTRANTE!

Você está nos livros, nas revistas, no trânsito, no meu trabalho e até nas músicas.

Aquelas que costumávamos ouvir, ou as que eu não tive tempo de te mostrar.

EU ESTOU FARTA!

Dessa sua presença tão ausente e da sua existência inexistente.

Pois quando vejo os teus pedaços por aí sinto vontade de abraçá-los, de juntar cada pedacinho que ficou pra trás

E colar com as lágrimas que eu derramar.

Mas não.... Você está inteiro em algum lugar,

Esses traços que carrego estão no meu coração,

Estes pedaços em meus braços são o que restou de mim quando você se foi

E eu não tenho como correr até  ver tua face

Até tropeçar e cair de joelhos,

pedir desculpas,

Até despir sua alma,

Até chorar como criança em seus braços de conforto

E você me fazer inteira novamente

{Liz S}

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Noeli de Carvalho:

 


ANJOS: LUZES

     DO NATAL

O céu estava em festa

Os anjos numa banda

Melodiosa tocaram

Cânticos para saldar

O Salvador da

Humanidade e em

Cada Natal esta luz

Que atravessa

 Fronteiras e nunca

Acaba faz renascer

Em crianças ,jovens,

Adultos e idosos,

A esperança por

Eles Espalhada!!

Noeli de Carvalho

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Milka Minkova:

 


NO INVERNO TAMBÉM, O AMOR ESTÁ CHEGANDO

Um longo batido

pelo amor sem fim, florindo

Conhecível.

Comecei inesperadamente

No inverno, meio-dia frio,

e quando o sol se pôs,

no abraço do seu,

Para me proteger é encontrado

Foi uma ilusão inicial

Mas, tornou-se uma realidade

que ainda está fundido

Em duas almas amorosas.

E depois de tantos anos se passaram

Ainda assim o amor está em nós

ainda acalentado, doado,

assim como na primeira hora.

Suas mãos gentis ainda envolvem meu corpo.

e os lábios quando fundidos

Eles não podem ser desapegados

Pelo amor nunca é tarde demais

e nesta terceira idade

é mais doce

do que nunca..

Sua voz ainda sabe,

Silêncio para sussurrar para mim

Com paixão, sem engasgo

seus sentimentos de amor,

Com amor para ouvi-los

Nossos anos estão passando

Falecendo lentamente,

E o amor está cada vez mais forte

Torna-se

Dura mais e mais tempo.... sobrevive.

Aquele meio-dia frio de inverno.

Duas almas gêmeas se encontraram.

e eles continuaram o caminho

Rumo ao amor eterno

com um sonho tornado realidade

Em um trono comum.

E no inverno nasce o amor!!!

Milka Minkova

Macedónia

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Andreia O. Marques:

 


Acadêmica: Andreia Oliveira Marques

Patrono: Oscar Wilde

Cadeira: 127

Data: 22/12/2020

Camaquiano

Escrevo sentir

Reviro-me avesso

exponho alma

belos versos

Andreia O. Marques

Lei 9610.98

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Milka Minkova:

 

EU TE DÁ UMA MÃO

E além de todas as mentiras

quais eram queridas para mim

e essas foram as palavras doces

falta pouco, mas curto..

Amo-te... todos os dias eles foram

reci tvoje

e eu acreditei nessa mentira

E encheu meu coração..

Você se foi um dia

I te slatke reci

Estava à tua procura outra vez

Para aliviar a dor.

Eu descobri

se tudo isso fosse mentira

e ainda te dou uma ajuda

da tu ljubav opravdam.

Nós não vamos ser

Casal apaixonado

Estou te mandando amizade

como o maior presente.

Nós não podemos ser

O que nós éramos

mas pega na minha mão

como amigo com o seu

Pesadelos os deixem desaparecer

Vamos limpar entre nós

Eu não estaria mais contigo

Estou melhor apaixonado sozinho.

Porque eu não aguento a mentira

Com amor eu desafio

Mentira, joga fora de ti também

amor esteja contigo.

Como amigo te dou conselhos

bez varke I lazi

Procure seu amor

E a dor alivia sua dor..



Milka Minkova

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Terça na usina: blogs de Ouros autores e Atoras Da Rede:blog da Adriana: Digo o que penso, com esperança. Penso no qu...


blog da Adriana:
Digo o que penso, com esperança. Penso no qu...
: Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, p...

Terça Na Usina: Blogs De Outros Autores Da Rede: BRINCANDO DE FAZER POEMAS: Lavínia Andrill : 235 - O VERBO ME INSTIGA!


BRINCANDO DE FAZER POEMAS: 235 - O VERBO ME INSTIGA!: Sou dama mundana, das palavras sou amante! Deito-me com o verbo Prenho-me de abstratos. Do útero fecundo, aborto versos. Em sânda...


"Sou uma andarilha que percorre as estradas por aí. Não exatamente como gostaria, mas, como devo ou posso. Porém, até os andarilhos tem direito as estrelas. Então, por que não tentar alcançá-las? 
Vens comigo? O que busco são as estrelas que iluminam as trilhas dos andarilhos solitários e, mesmo que seja apenas em sonhos, alcançarei o brilho das estrelas... então, terei iluminado a minha trilha e seguirei catando pedrinhas pelos caminhos e transmudando-as em versos, brincando com a magia de fazer poemas pelas estradas mundo afora...tentando ser uma aprendiz de poeta!" 

Terça Na Usina: Blogs De Outros Autores e autoras Da rede:A Asa Oculta da Borboleta: O peso do belo:



A Asa Oculta da Borboleta: O peso do belo:     Para onde irão os sorrisos ternos imantados nas fotos as palavras doces proferidas num momento de paixão ...

Terça Na Usina: Blogs De Literatura Na Rede: TRIBUNA ESCRITA: ROCK, BALADAS & POEMAS




TRIBUNA ESCRITA: ROCK, BALADAS & POEMAS: PROGRAMAÇÃO PARA O SÁBADO 17/10/201515, NA MROCK: 20:00 "ROCK, BALADAS & POEMAS", INÉDITO! PROGRAMAÇÃO PARA O DO...

Terça Na Usina: Blogs De Literátura Na Rede:Livros Românticos: Filme -> Contos Proibidos do Marquês de Sade



Livros Românticos: Filme -> Contos Proibidos do Marquês de Sade: Sinceramente, fiquei bem desconfiada do filme. Mais pelo título, sabe? Quem não ficaria? Só quem não conhece as estórias pervertidas do Marq...

Terça na Usina: blog De Outros autores e Autoras Da Rede: Cacau Oliveira:



http://cauoliveira.blogspot.com.br/


...Como pude sonhar em terminar os meus dias,

Ouvindo tua voz, vendo seu sorriso,

Sentindo o teu cheiro,

Lendo os teus olhos...

Terça Na Usina: Blogs De Literatura Na Rede:Revolta e Romance: Quatro anos de blog!!!


Revolta e Romance: Quatro anos de blog!!!: Noite mal dormida - mosquitos incomodando a filha e pesadelo antes de acordar, kkkkk. Muuuito trabalho para o dia todo, já já vou começar o ...

Terça Na Usina: Blogs De Literatura Da Rede: BLOG DA DECA: A MENINA E A FLOR:



BLOG DA DECA: A MENINA E A FLOR: A menina segurava a flor. O vento batia em seu cabelo ralo. Os pés no chão sentiam o frio da madrugada. Ela não passava de uma mancha n...






















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Terça Na Usina: Blogs De Literatura Na Rede:Cantinho She: #Brasilemprosa na Amazon


Cantinho She: #Brasilemprosa na Amazon:  Capa Amazon Olá pessoal, tudo bem? Então, a Amazon junto com O Globo estão fazendo um concurso literário de contos com resultado s...

domingo, 27 de novembro de 2022

Crônicas de Segunda na Usina: lima Barreto: Queixa de defunto:



Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, na Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tomar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la: 
"Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que sé chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não. 
"Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem coisa alguma de reivindicações e revoltas, mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia. 
"Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte no sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensamento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais. 
"Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos 'bíblias', nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns. 
"Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda a eloqüência em galego ou vasconço. 
"Segui-as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. É bom meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa. 
"Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda. 
"Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanhamento tiveram que atravessar em toda a extensão a rua José Bonifácio, em Todos os Santos. 
"Esta rua foi calçada há perto de cinqüenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e largura, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola, sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto. 
"Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche, machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranhaduras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo: 
"- Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem comportado - como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto? 
"Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno. 
"Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc." 
Posso garantir a fidelidade da cópia e aguardar com paciência as providências da municipalidade. 
Careta, 20-3-1920


Crônicas de Segunda na Usina: Erça de Queiroz: XV Londres, 21 de Maio [de 1878]:




XV Londres, 21 de Maio [de 1878] Há entre os provérbios diplomáticos um que diz: «Quando a França está descontente, a Europa está em perigo.» Pode-se dizer que quando a França está feliz, a Europa está tranquila: desde que a Exposição se abriu, e que a França celebra em Paris a sua grande festa de ressurreição, toda a Europa tem um tom mais calmo; corre uma aragem consoladora de paz e de conciliação, a mesma actividade de armamentos afrouxou e os homens de guerra e de rapina, os Bismarcks e os Gortschakoffs, aproveitam este intervalo sereno para curarem os seus reumatismos. Exala-se da Exposição, parece, uma emanação de concórdia, de trabalho, de civilização, que enche os espíritos de um salutar desejo de fraternidade e de paz. As espadas meio saídas recaem na bainha, as vozes irritadas de desafio adoçam-se em explicações plácidas, o czar humaniza-se, a Inglaterra desfranze a carranca e todo o mundo respira um vago aroma de folhas de oliveira, símbolos de paz. E a Exposição de Paris, é essa colossal acumulação de ciência, de arte, de indústria, que espalha em redor, na Europa, um influxo santo de serenidade. Paris, no fundo, é a grande capital da civilização; o seu messianismo é incontestável; o que ela pensa é-nos dogma, o que ela quer é-nos lei: o mundo instintivamente obedece-lhe: há nela não sei que graça magnetizadora, que forte ascendência espiritual a que se não resiste: a humanidade civilizada tem por ela um vago amor e deixa-se docemente tiranizar: se ela nos impõe a idiota canção C'est l'amant d’Amanda, protestamos primeiro, rimos depois. Terminamos todos por a cantar; se ela nos impõe uma ideia social, podemos um momento hesitar, acabamos todos por a servir: o que ela cria tem a nossa admiração certa, ou seja Offenbach ou seja Gambetta; ela exerce a fascinação de certos olhos de mulheres, cuja luz convence; hoje Paris quer a paz, e a Europa já não se atreve a fazer a guerra. Aqui, pelo menos, não se fala senão da Exposição: a ordem do dia é ir a Paris; os indivíduos que ainda murmuram algumas frases sobre a Bulgária, o Tratado de San Stefano, Constantinopla, etc., parecem obsoletos e caturras. Quem se ocupa do eslavo? Que significam essas antigualhas lúgubres? O que importa é chegar a Paris, saltar a um fiacre e abalar para o Trocadero! E o que atrai a Paris não é tanto admirar as maravilhas que o mundo lá reuniu, como ver a valente cidade outra vez feliz e triunfante; ver a formosa cabeça da França de novo levantada ao alto, depois de ter estado durante oito anos voluntariamente curvada para o chão. Há oito anos! Neste mesmo mês de Maio, franceses bateram-se contra franceses numa guerra feroz e fanática, sob os frios olhares dos Prussianos, que de redor, de braços cruzados, esperando sossegadamente os seus cinco milliards, viam, cofiando as barbas doutorais, Paris a arder! E sete anos depois, pagas todas as dívidas, libertado todo o território e reedificadas todas as ruínas, replantados todos os campos, a França está bastante de posse de si mesma, bastante rica, com vagares bastantes para dar ao mundo, na sua capital embelezada, a maior festa de civilização deste século. Valente nação! Diz-se que toda esta forte ressurreição é devida à república. Bom Deus, sejamos justos, é devida à França! É o seu imenso poder recuperativo, o seu génio, a sua laboriosidade, a sua ordem, a sua economia, a sua sábia previdência, que a habilitaram, depois de um curto espaço de recolhimento e de trabalho, a reaparecer à frente da civilização, mais forte, mais rica, mais inteligente, outra vez la belle France. E aparece-nos com uma feição que lhe não conhecíamos – nós os que fomos educados quando já o império estava feito – aparece-nos grave e alegre. Não perdeu nada de verve, e ganhou muito de reflexão: abandonou sobretudo um dos seus defeitos irritantes, a jactância – aquele alarde fanfarrão, retorcendo as guias e de mão na cinta, que fazia propor aos mais práticos, aos mais moderados, como Emile de Girardon, que não se batessem os Prussianos a tiro, mas a coronhadas, por desprezo! As felicitações da imprensa inglesa à França pela sua aleluia têm sido nobres, fraternais, profundas. A França tem-se enternecido. Mas o que a lisonjeou, o que a electrizou, foram as belas palavras do príncipe de Gales no banquete que lhe ofereceram em Paris os expositores ingleses. Respondendo à saúde que lhe fizera Lord Granville, dirigiu-se ao ministro das Obras Públicas de França, e disse-lhe: «Diga à França que a amo de todo o coração, que ninguém segue mais comovido a sua prodigiosa prosperidade e que a Inglaterra se regozija em concorrer para o esplendor da Exposição, feita no país que sobre todos estima, e a quem tanto deve. Estas frases foram cobertas por um hurra prodigioso dos trezentos expositores ingleses que se sentavam no banquete, que eram todos celebridades da aristocracia, da ciência, da arte, da indústria – e no outro dia ecoavam por toda a França. A alegria dos jornais republicanos foi imensa: em artigos comovidos, todos agradeceram as palavras mais amigas, e as primeiras que um príncipe estrangeiro dirige à França depois dos seus desastres. O Paris Journal, como um homem que a emoção sufoca e que põe todo o seu reconhecimento numa exclamação curta e balbuciada, imprimiu apenas em caracteres grossos: Merci, monseigneur! O facto é que o príncipe de Gales é hoje um dos homens mais populares da França. Paris adora-o; sem lhe fazerem as ovações, que a gravidade republicana não comporta, cercam-no, onde quer que vá, de uma simpatia comovida. Em Inglaterra mesmo, a satisfação pelo discurso do príncipe é grande. No fundo, se a Inglaterra tem uma simpatia, digamos um fraco, é a França. E ama-a desinteressadamente: a Inglaterra é um pais de raciocínio muito prático para sonhar quimeras, e supor que a França, porque um príncipe inglês ergue o seu copo de champanhe e lhe dirige em francês muito parisiense algumas palavras de simpatia pessoal no calor de um bom jantar – que a França vai, toda reconhecida, apoiar a Inglaterra nas suas pretensões ou nos seus interesses políticos. A Inglaterra, por exemplo, na questão do Oriente, não conta com a França; não espera nada dela, em circunstância alguma, a não ser naturalmente aquele alto apoio moral, a simpatia de espírito que se devem duas grandes nações que são no mundo responsáveis pelo progresso humano. O amor da Inglaterra à França (que se tem sempre desenvolvido desde 1830, mas que tomou uma feição mais íntima desde a queda do infecto império) tem bases seguras, com raízes no mesmo temperamento das duas nações, e é a garantia, creio, de uma longa paz entre elas. Em primeiro lugar estimam-se como dois velhos combatentes leais, que foram um para outro causa de grande glória: se a Inglaterra expulsou a França da Índia, a França promoveu e realizou a expulsão dos Ingleses da América; se Napoleão, durante dez anos, teve, através do continente, a Inglaterra em perpétuo échec, o leão britânico tomou a sua desforra em Waterloo; depois foram aliados na Crimeia e aliados na China. Mesmo combatendo-a, ou recusando-lhe o seu auxílio, a Inglaterra i5ez à França impagáveis serviços: em Waterloo desembaraçou-a de um tirano insensato; em 1870, deixando consumar o grande desastre, desembaraçou-a para sempre dos Bonapartes. Terminado o período da guerra, as relações comerciais das duas nações vizinhas cresceram a ponto que, sem uma, a outra faria bancarrota. O Inglês, que não sabe língua nenhuma, só condescende em aprender o francês; é por isso talvez que é a nação que mais visita; é raro o inglês que não tenha percorrido a França; socialmente, Paris é quase tanto a sua capital como Londres; se em Paris encontra a vivacidade, o brilho, a verve da vida que o seduz, na província encontra as sólidas qualidades que admira e sem as quais não concede a sua estima – as qualidades de trabalho, de virtude doméstica, de perseverança e de probidade. A França é o jardim de Inglaterra: e lá que o negociante vai descansar do tráfico da City, o fidalgo da monotonia da vida do campo, o professor dos trabalhos da escola, o clérigo da secura das missões. É a única nação que o baixo povo estima; french, frenchman, são as palavras com que a população designa o estrangeiro amável; quando as ruas, nalguma gala nacional, se empavezam e se adornam, a única bandeira europeia que se vê é a heróica tricolor; nos livreiros das mais pequenas vilas se vendem livros franceses. O inglês tem um reconhecimento profundo ao pais que produz o vinho de Borgonha; a inglesa é grata à terra que lhe manda as sedas de Lião. A gente menos educada, que não sabe qual é a forma de governo que rege a Espanha ou a Itália, está ao facto inteiramente da moderna história da França. Nas classes ilustradas, a história e a literatura francesas são tão familiares como a inglesa. Em todos os grandes jornais há diariamente um artigo de fundo sobre os negócios interiores da França; a campanha contra o ministério Broglie, o ano passado, era dirigida pelo Times. E a amizade da Inglaterra pela França é tão forte que lhe faz sacrifícios; há um ano que a Inglaterra é aconselhada, instada, persuadida, tentada a que ocupe o Egipto: e porque tem resistido? Para não ferir susceptibilidades francesas. O Daily Telegraph disse num artigo memorável: «Percamos todos os interesses, mas não desagrademos aos Parisienses.» E foi para agradar aos Parisienses que a Inglaterra mandou à Exposição o que em arte e indústria tinha de melhor, do passado e do presente. E a Inglaterra certamente que mais concorre para o esplendor da Exposição, e a Inglaterra inteira, como dizem os grandes jornais, falou pela boca do príncipe de Gales. Têm sido singularmente lamentáveis os sucessos do Lancashire, onde milhares e milhares de operários tecelões estão em greve. Os motivos desta greve são complicados e prendem-se com uma difícil questão de economia política. Em presença da grande depressão no comércio dos algodões e dos tecidos, os operários entendem que é necessário produzir menos para que os grandes depósitos existentes se esvaziem e o equilíbrio do mercado se restabeleça: os patrões entendem que é necessário produzir na mesma proporção anterior, mas que é indispensável baixar o preço da mão-de-obra. Esta desinteligência produziu uma greve, a maior que se tem dado em Inglaterra há cinquenta anos. Greve cuja especialidade bem triste foi a de que esteve próxima a tomar o aspecto de uma revolta. Os operários de Lancashire passaram sempre por serem os mais inteligentes, os mais sérios, os mais honestos, da grande população obreira da Inglaterra: numa semana, num momento de irritação, de vingança ou de desesperança, perderam esta nobre reputação. Hoje os jornais sérios consideram-nos «como a mais infecta populaça». Que se passou? Que os operários, em lugar de discutirem tranquilamente (como pediam jornais sérios) o meio de conciliar as suas divergências com os patrões, preferiram fazer uma pequena insurreição local com todos os incidentes típicos – janelas quebradas, polícia apedrejada, etc. Ao princípio, isto pareceu apenas um desabafo de temperamento exaltado: esperou-se que a razão voltaria, com ela a tranquilidade. Mas ou que a impassibilidade dos patrões diante desta manifestação de força os irritava; ou que pequenas desordens locais lhes dessem o apetite de uma verdadeira insurreição provincial; ou que uma multidão imensa de populaça vadia e ociosa se viesse reunir, na esperança dos proveitos que traz a anarquia, à massa mais séria dos operários, o facto é que o que começara por uma algazarra ia terminando numa revolução. As janelas quebradas levaram às portas arrombadas; depois de algumas pedradas atiradas à polícia vieram os tiros dados contra as tropas – e por todo o distrito que cerca Manchéster, durante três dias, reinou uma anarquia que lembra as clássicas guerras civis de Navarra. Manufacturas incendiadas, casas destruídas, lojas de bebidas saqueadas, patrões perseguidos a tiros, reclamações forçadas de dinheiro e de provisões, nada faltou para dar ao distrito de Manchéster o aspecto atroz de uma província em poder das hordas de Saballs ou de Dorregaray. No entanto, a feição típica deste sucesso é que os jornais radicais e liberais não só não se indignaram, mas nem sequer lamentaram: limitaram-se a contar secamente os ultrajes cometidos. Das associações operárias não saiu um único protesto contra estas desordens. E não se pode negar que a insurreição tenha nas classes radicais uma vaga, uma imponderável simpatia. Tropas rapidamente concentradas puseram, naturalmente, fim a este estado tumultuoso, e os patrões sentiram logo a necessidade de entrar em conciliação com os operários, que montam a mais de cem mil. Se esta conciliação se não fizer, creio que veremos graves acontecimentos. E muito bonito realmente falar na ordem, no respeito à propriedade, no sentimento de obediência à lei, etc., mas quando milhares de homens vêem a sua família sem lume na lareira, sem um pedaço de pão, os filhos a morrer de miséria, e ao mesmo tempo os patrões, prósperos e fartos, comprando propriedades, quadros, apostando nas corridas e dando bailes que custam centos de libras, bom Deus, é difícil ir falar aos desgraçados de regras de economia política e convencê-los que, em virtude dos melhores autores da ciência económica, eles devem continuar por alguns meses mais a comer vento e aquecer-se à cal das paredes!