quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana: Os ventos camoneanos:

 



Bóreas, Aquilão, todos os ventos camoneanos fizeram enormes estragos nos telhados, 
Bóreas, Aquilão, o Noto, o diabo, esgoelaram as cordas da chuva, abordaram a casa [rangente 
bramaram palavrões belíssimos no fragor do assalto Bóreas... e os outros marinheiros bêbados 
agora estão todos eles caídos no convés da madrugada... 
Afinal a coisa parece que não foi assim tão bruta: as minhas cortinas agitam-se festivamente, 
enfunam-se como velas pandas Apenas, em todas as varandas, as açucenas estão degoladas. 
Talvez sejam em última análise manjericões. E agora esse ventinho metido a Fígaro parece que está me fazendo a barba. 
O céu está deslavadamente claro. Lá embaixo, na calçada 
- último resquício clássico 
Cupido, o pobre garoto, choraminga na lata de lixo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário