domingo, 12 de setembro de 2021

INSÔNIAS D'Araújo:



Sempre mais

Deleitando-se do enredo de uma vida de ambiguidades.
Deitamos os nossos ensejos na sala ao lado
onde exala o pesado cheiro do pecado.
Ficamos sitiados no convés dos desejos....

poema na integra no livro:





Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: OLHA A SAIA JUSTA - II:

 



Chega um senhor entre 68 e 70 anos atrás de camisinhas. Ele nunca tinha visto ou usado. Matutão, sisudo e constrangido para me abordar. 
Ossos do ofício, ele me pediu que o ensinasse, verme- lho. Mais constrangida ainda, pego um “recreador” de madeira e faço a demonstração (coisa que não gosto de fazer, mas, enfim, faz parte). Informei que ele poderia pegar mensalmente 
10 unidades. 
Mês seguinte, ele não compareceu, e achei que ele nem tivesse usado tudo. 
No outro mês, ele veio pegar e foi se justificando: não vim mês passado, porque não precisei. Eu disse: tá ok. Aí ele elogiou a qualidade do produto, a resistência ao uso e as lavagens. 
Lavagens? Digo eu, e ele me diz: quando termino de usar, eu lavo e estendo num varal à sombra, dentro de casa, pois sei que o sol acabaria a borracha. 
Eu expliquei que era descartável, que usou joga fora, que temos suficiente para isso. Ele olha pra mim e diz: achei a senhora muito distinta, mas não dá valor às coisas, só por- que são públicas, me mandando jogar fora, e ainda dava pra aproveitar. 
Levantou-se e me disse: por isso o estado não vai pra frente, porque os próprios funcionários “estroem” material. 
Pode???

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas:

 



ASCÁRIS LUMBRICÓIDES 

01. Chega uma criança de 1 ano para tomar injeção. Colocada na posição, nas pernas da mãe, eis que sai um “áscaris” (lom- briga), ficando metade dentro e metade fora. 
Resumo: nem a mãe e nem a técnica tinham coragem de fazer a retirada. Adivinhem quem fez isso? Eu. Fui chama- da, calcei as luvas e puxei a danada se bulindo e levei para descarte. 
Pode??? 
02. A paciente trouxe o filho de 5 anos para atendi- mento, com queixa que ele eliminava “ascáris” involuntariamen- te. Ao descer da maca, ele vomitou e o “áscaris” foi nos meus pés. 
Pode??? 
03. A mãe chega dizendo: esse menino tá botando uns vermes estranhos, sem ter tomado remédio. Então, disse eu: vamos fazer logo o tratamento. A mãe reponde: eu trouxe aqui num frasco de azeitona grande, para a senhora ver. 
Estava lá o “áscaris”, colado na parede do vidro e em cima do meu birô. Achou pouco e disse: quando ele botou para fora, veio acompanhado desse cocô. Aí, abre a fralda daquele jeito. 
Pode???

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: OLHA A SAIA JUSTA – I:

 


Eu trabalho com planejamento familiar, prevenção de DST/AIDS, entre outros programas. 
No primeiro mês, o cidadão veio receber preservativos. Perguntei seu nome para escrever no receituário e, para minha surpresa, ele se inclina no birô e pergunta em cima de mim: e o seu? Eu disse: pode sentar, e dei as orientações de praxe, me fazendo de desentendida. 
No segundo mês, o cidadão volta e diz ter gostado do produto, porque era de boa qualidade, mas que tinha o defeito de ser pequeno. Eu expliquei (já mordida), que a nossa dispensação era tamanho padrão e que suportava 1\litro de água dentro, sem romper. 
Aí, ele olhou pra mim e disse: mas você não teria algumas maiores? Querendo se mostrar, dando uma de bem dotado. Eu, já cheia, disse: infelizmente nós só trabalhamos com preservativos para humanos (para jumentos não). 
Ele foi embora irado e passou a receber no horário da colega. 
Pode???

Crônicas de Segunda na Usina: Auridan Dantas: SONDA VESICA:

 




Há certo tempo atrás, fui com uma dupla de alunas administrar uma aula prática, na qual seria executado o procedimento de passar uma sonda vesical num rapaz de uns 30 anos. 
Quando iniciamos o procedimento, o “recreador” quis se mostrar. A situação constrangedora, e eu, num ímpeto, joguei éter. O “recreador” quase desaparece. O rapaz gritando, e eu sem palavras e vermelha. 
Demos um tempo, chamamos uma equipe masculina e o procedimento foi executado sem mais intercorrências.

Crônicas De Segunda Na Usina: D'Araújo: A Casa de Deus:



“Sem porta ou janela, só uma passarela para que sempre possamos todos passar por ela, com varanda, e grande sala, é bom o cheiro que dela exala por todo lugar”.Construída em carne e osso, tem até pescoço, pra sustentar estas cabeças que pouco pensam, tem pernas e braços para aquele abraço de boas vindas a todos que chegam, sem se preocupar se vão entrar ou sair, o importante é sentir todo aquele amor que aqui está.

Ela é de muitas cores, e de muitos amores, de fachada alegre, não tem quem não pegue uma bela flor neste seu jardim cheio de jasmim.

O telhado é extenso e foi feito um pouco, penso, para contrastar com tudo que há ao redor. Às vezes da até um nó no nosso pensar, que aquilo lá é como a vida, cheio de avenidas pra muitos passar.

O seu piso é perfeito, sem nenhum defeito pra todos andar. Se você não enxergar ou não tiver pernas isso, não importa, pois sempre haverá um lugar por onde você entrar.

A cozinha é modesta, mas é sempre uma festa quando lá está.
O banheiro é pequeno, mas também é sereno, de cor agradável e teto singelo, é todo amarelo como o pôr do sol.

Tem até anzol pra você pescar no lago que fica do lado de lá, é todo cercado com flores que exalam toda aquela calma deste lugar.


Parece até pequena, mas cabem dezenas e até bilhões de todos que queiram por ela passar.

Nunca se preocupe, pois ela não se acaba e tem sempre uma boa alma pra lá te levar.

E não lhe custa nada, nenhuma paga, a não ser o amor que você queira dar sem olhar a quem, mas apenas vem, “Estou a lhe esperar...”.


D'Araújo.
Contiúdo do livro: "Calabouço Contos e Outros"
www.editora24horas.com
Edição: 2012