Rio de Janeiro RJ 1952 - idem 1983. Poeta, ensaísta,
tradutora. Filha de Maria Luiza César e do sociólogo e jornalista Waldo Aranha
Lenz César, um dos responsáveis, com o editor Ênio Silveira (1925-1996), pela
fundação da editora ecumênica Paz e Terra. Aos sete anos, Ana Cristina tem seus
primeiros poemas publicados no jornal Tribuna da Imprensa. Entre 1969 e 1970,
interrompe o curso clássico no Colégio de Aplicação da Faculdade Nacional de
Filosofia, para estudar inglês no Richmond School for Girls, em Londres, pelo
programa de intercâmbio da juventude cristã. Ingressa, em 1971, na Faculdade de
Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Desde a
vida universitária, participa ativamente da cena cultural carioca e do
movimento da poesia marginal, convivendo com poetas como Cacaso (1944-1987) e
intelectuais como Heloísa Buarque de Hollanda (1939). Ainda em 1971, inicia a
atuação como professora, em escolas de 2º grau e de idiomas. Após a conclusão
da graduação, em 1975, colabora para publicações como Opinião, Jornal do
Brasil, Folha de S.Paulo, com destaque para Beijo, importante periódico de
cultura, com sete números impressos, cujo processo acompanha desde sua criação.
Em 1979 lança, de forma independente, o primeiro livro de poesia, Cenas de
Abril. Seguem-se Correspondência Completa, uma carta ficcional, e Luvas de
Pelica, publicado em 1980. Dessa mesma época datam as primeiras traduções,
atividade que se torna objeto de estudo na pós-graduação: em 1981, torna-se
mestre em teoria e prática da tradução literária pela Universidade de Essex,
Inglaterra. De volta ao Brasil, é contratada como analista de textos pela Rede
Globo de Televisão e lança, em 1982, A Teus Pés - reunião de títulos publicados
até então e ainda o inédito que nomeia o volume. Aos 31 anos, em 1983, comete
suicídio. Após sua morte, o poeta e amigo Armando Freitas Filho (1940) organiza
sua obra e promove o lançamento dos livros Inéditos e Dispersos, em 1985,
Escritos da Inglaterra, 1988, e Escritos no Rio, 1993.
Comentário
crítico
Embora
comumente identificada aos poetas marginais da década de 1970, Ana Cristina
Cesar emprega os procedimentos comuns ao grupo a fim de criticá-los desde o
interior: simula o discurso confessional a partir de falsas correspondências e
diários; alcança o tom coloquial parodiando textos da tradição literária.
Em
Final de uma Ode, de Cenas de Abril (1979), o eu lírico afirma: "[...]
Quisera / dividir o corpo em heterônimos - medito aqui / no chão, imóvel tóxico
do tempo". Se a confissão do desejo sugere a sinceridade autobiográfica, a
formulação o inscreve no cânone da poesia portuguesa, dada a referência a Fernando
Pessoa, sugerida em "heterônimos", e ainda em outros trechos da
composição.
Já
Correspondência Completa (1980) é paródia desde o título, pois se compõe de
apenas uma carta. A remetente, além disso, chama-se Júlia, numa quebra da
identificação entre autora do livro e autora da carta, o que impede, ao leitor,
a certeza de uma confissão verdadeiramente autobiográfica. No que diz respeito
à linguagem, há ambiguidades e lacunas, colocando para o leitor enigmas, e não
a possibilidade de identificação.
A
trajetória da autora, que pode ser acompanhada em Inéditos & Dispersos -
reunião de poemas escritos desde os nove anos de idade -, revela busca pessoal
da expressão poética: os primeiros versos são em geral líricos, metrificados e
rimados. Já em A Teus Pés (1982) são longos, apresentando tom de conversa, e
frequentemente questionam a sociedade conservadora e o lugar nela destinado à
mulher. É o que se lê em Sete Chaves: "[...] Não sou dama nem mulher /
moderna".
A
existência de uma literatura dita feminina é tema dos ensaios da autora,
interessada em problemas teóricos como as relações entre literatura e história,
invenção e confissão, originalidade e intertexto. Também nesses escritos se
revela a ausência de identificação entre Ana Cristina e a geração marginal: "A
limpidez da sinceridade nos engana, como engana a superfície tranquila do
eu", escreve ela em O Poeta É um Fingidor.
Primeiras
edições
Obras
publicadas - primeiras edições
Poesia
Cenas
de Abril - 1979
Correspondência
Completa - 1979
Luvas
de Pelica - 1980
A
Teus Pés - 1982 - reúne os livros Cenas de Abril, Correspondência Completa,
Luvas de Pelica
Inéditos
e Dispersos* - 1985 - organizado por Armando Freitas Filho
Correspondência
Correspondência
Incompleta - 1999
Ensaio
Literatura
Não É Documento - 1980
Escritos
da Inglaterra* - 1988 - organizado por Armando Freitas Filho
Escritos
no Rio* - 1993 - organizado por Armando Freitas Filho
Crítica
e Tradução* - 1999 - reunião dos 3 livros anteriores e poesias traduzidas
inéditas
*
publicação póstuma
Traduções
e edições estrangeiras
Traduções
e edições estrangeiras
Espanhol
Antología
Poética. Tradução Alicia Torres. Caracas: Planeta Venezolana, 1989.
Antología
Poética. Tradução Alicia Torres. Bogotá: Fundación para la Investigación y la
Cultura, Tiempo Presente, 1990.
Guantes
de Gamuza y Otros Poemas: Bilingüe. Seleção, tradução e notas de Teresa Arijon
e Sandra Almeida. Córdoba: Bajo de la Luna, 1992.
Álbum
de Retazos: Antología Crítica Bilingüe: Poemas, Cartas, Imágenes, Inéditos.
Tradução Luciana Di Leone, Florencia Garramuño e Ana Carolina Puente. Buenos
Aires: Corregidor, ca.2006.
Francês
Gants
de Peau: Et Autres Poèmes. Tradução Michel Riaudel. Paris: Chandeigne, 2005.
Inglês
Intimate
Diary by Ana Cristina César. Tradução Patricia E. Paige, Celia McCullough e
David Treece. London: Boulevard, 1997.
Fonte de origem:
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