terça-feira, 10 de novembro de 2020

Quarta na Usina: Poetisas da Rede: Paula Belmino: Atrás da porta:



  A porta estreita mantinha guardada toda alegria. Quase por inteira  fechada para que a liberdade não saísse, e  a felicidade por ventura, viesse  fugir. Tão logo amanhecia,  uma pequena janela  era  aberta, a forma  em L na porta permitia a entrada da luz do sol, para alimentar a casa, seus moradores e suas pequenas felicidades: Um quintal cheio de plantas, ervas de cheiro e para remédio, os santos de devoção e um poço.

  Na casa simples, baixa,  o telhado  duas águas, recebia o sol  e também  nuvens azuis e cinzas de chuva, e os gatos a desfilarem, ou a descansarem  preguiçosos.

  Na casa pequenina com gosto de céu, e cor de primavera habitava três  senhoras, fervorosas na  fé, mantenedoras da paz e amantes de flores que eram plantadas em pequenos baldes em frente à  casa,  flores de boa noite  e um comigo-ninguém-pode que anunciavam o poder das mãos que o regavam, almas boas, guardadas  sempre na natureza , adornadas de solidariedade,  voz mansa e doce ao conversarem com os vizinhos.

  Além da porta, adentrando o quintal da pequena casa,  o poço precioso  vertia água tão doce, como a da chuva, água  brotada do interior da terra, leito de rios, águas claras e limpas como as almas  habitantes da casa.

 O poço  alimentava as plantas,  e a porta com pequena  janela em L sempre era aberta para  dizer bom dia a quem ali passasse. Quando não chovia, e faltava água,  as senhorinhas abriam  a porta por inteiro, e deixavam  que os vizinhos em fila, em frente à casa  enchessem latas, vasilhas, baldes e até barris com o precioso líquido.

 A casa simples, de porta delgada, com  janelinha em L,  só se  fechava para que maus agouros, e nem coisas vãs a invadisse. Mas todos os dias, à  primeira  luz da manhã se abria, ao canto das flores, ao cheiro dos passarinhos e para  a voz dos vizinhos de toda parte que lhe pediam água ou eum raminho de erva crescida no quintal para curar as dores, as mazelas do corpo e da alma.

  A casa pequenina, tão simples, e sua porta com janela em L entreaberta,  convidava visitantes, bichos, plantas e flores  a se achegarem, pois  refletia luz  e vida,  e extrema modéstia, mas guardava dentro dela o bem mais precioso,  o valor da humanidade: a gentileza.

Na casa onde descansavam a luz, a natureza, gente de bem e de grande generosidade, quanto mais se dava, mais bonita ficava,  uma casa com porta entreaberta em L para sempre se dar bom dia à  felicidade.

Paula Belmino

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