quarta-feira, 3 de março de 2021

Poesia de Quinta na Usina: Fagundes Varela:


 

AS SELVAS

 

Selvas do Novo Mundo, amplos zimbórios,

Mares de sombra e ondas de verdura,

Povo de Atlantes soberano e mudo

Em cujos mantos o tufão murmura.

 

Salve! minh’alma vos procura embalde,

 

Embalde triste vos estendo os braços...

Cercam-me o corpo rebatidos muros,

Prendem-me as plantas enredados laços!...

 

Pátria da liberdade! antros profundos!

 

Vastos palácios! eternais castelos!

Mandai-me os gênios das sombrias grutas

De meus grilhões espedaçar os elos!...

 

Ah! que eu não possa me esquivar dos homens,

 

Matar a febre que meu ser consome,

E entre alegrias me arrojar cantando

Nas secas folhas do sertão sem nome!

 

Ah! que eu não possa desprender aos ermos

 

O fogo ardente que meu crânio encerra,

Gastar os dias entre o espaço e Deus

Nas matas virgens da colúmbia terra!

 

Eu não detesto nem maldigo a vida,

 

Nem do despeito me remorde a chaga,

Mas ah! sou pobre, pequenino e débil

E sobre a estrada o viajor me esmaga!

 

Que faço triste no rumor das praças?

 

Que busco pasmo nos salões dourados?

Verme do lodo me desprezam todos,

O pobre e os grandes de esplendor cercados!

 

Fere-me os olhos o clarão do mundo,

 

Rasgam-me o seio prematuras dores,

E à mágoa insana que me enluta as noites,

Declino à campa na estação das flores.

 

E há tanto encanto nas florestas virgens,

 

Tanta beleza do sertão na sombra,

Tanta harmonia no correr do rio,

Tanta delícia na campestre alfombra...

 

Que inda pudera reviver de novo,

 

E entre venturas flutuar minh’alma,

Fanada planta que mendiga apenas

A noite, o orvalho, a viração e a calma!

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