sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Contos do Sábado na Usina: Humberto de Campos: A promessa VI:

 


Aproximava-se o dia do regresso dos rapazes. Todo aquele mês havia sido de festas, de homenagens aos bravos soldados conterrâneos. E à medida que se escoavam as horas, mais se confrangia a alma de Maria Inácia. O seu coração não se saciava de acariciar o filho. As noites, levava- as acordada, passando-lhe as mãos pelos cabelos, cobrindo-o com o lençol, beijando-lhe a cabeça adormecida. Nos primeiros dias, estava certa de que a Senhora das Dores consideraria uma loucura a promessa que lhe fizera, e a perdoaria. Pouco a pouco, porém, a proporção que se aproximava o dia do regresso, foi a su'alma se inquietando. Prometera dar a sua vida pela do filho, se ainda o abraçasse uma vez. Deus o trouxera aos seus braços, ao seu carinho, à sua presença. Devia cumprir o voto? E, se não cumprisse,


Deus não a castigaria no coração, arrebatando-o ao mundo, nos novos combates em que tomasse parte?

 Esse pensamento afligia-a. Até que, de repente, resolveu:

 -  Não, eu devo cumprir a promessa. Devo, sim. Antes eu do que meu filho. E eu resistiria, acaso, à dor de perdê-lo, se o perdesse por culpa: minha, por falta minha perante Deus?

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