Em 2014, uma reportagem do respeitado jornal americano The
New York Times revelou que chineses estavam contrabandeando um produto muito
valioso do Peru. Não se tratava de ouro nem de pedras preciosas. O tesouro que
gerou a tensão toda era um… alimento. Batizada de maca, a raiz tem ligação tão estreita
com a cultura e com o orgulho do povo andino que uma lei nacional proíbe, pelo
menos em teoria, que ela seja processada fora do seu território.
Hoje, no entanto, a planta é massivamente cultivada na
China, onde faz enorme sucesso. Mas no mundo todo, incluindo o Brasil, há um
certo frenesi em torno dela – fenômeno curioso, visto que a maca é cultivada no
Peru desde antes mesmo de os incas formarem seu império. O pontapé inicial da
popularização do alimento provavelmente tem a ver com uma característica
alardeada há tempos: seu poder de aumentar a libido e a fertilidade.
Reza a lenda que, com o intuito de garantir energia ao seu
exército, um imperador inca botou a maca na dieta de seus soldados. Mas ele não
demorou a se arrepender. Apesar das vitórias conquistadas, parece que o desejo
sexual dos homens ficou meio, digamos, fora de controle. Por essa e outras
histórias, a raiz chegou a receber o apelido de “Viagra dos Incas”
Para a ciência, porém, tais trunfos ainda não são tão cristalinos
quanto a tradição sugere. Ainda assim, segundo uma revisão de estudos da
Universidade College London, na Inglaterra, o alimento promete. O que se pode
dizer, por ora, é que, nos homens, a maca protege contra fatores nocivos à
fertilidade e, nas mulheres, aumenta as chances de uma gravidez vingar.
Nesse mesmo pente-fino, os ingleses notaram que o vegetal realmente
ajuda na hora do rala e rola: homens com disfunções sexuais obtiveram vantagens
ao comer a raiz. Para as mulheres na menopausa, período marcado por prejuízos
na libido, a planta também animaria os momentos sob o lençol.
Não à toa, quando descobriu a maca, o pesquisador brasileiro Paulo
Março se impressionou com seu currículo – e fez de tudo para achá-la in natura.
Mas ele não a encontrou nesse formato. Como a raiz deve ser processada apenas
no Peru, só vem para o Brasil em pó. Março, que é professor de engenharia de
alimentos na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), queria
analisar os nutrientes e as propriedades do vegetal em si. Ficou a ver navios…
Situações como essa fazem com que especialistas daqui tenham o pé atrás
em afirmar 100% que os benefícios observados nas pesquisas sejam válidos em
qualquer circunstância. Afinal, é preciso ter certeza, por exemplo, de que a
raiz processada é tão poderosa quanto o tubérculo ao natural. Mas pesquisas já
insinuam que, a despeito da apresentação, a maca traz ganhos para o corpo.
“Por tudo que já se sabe sobre sua influência na função hormonal, é um
alimento que merece destaque”, elogia a nutricionista clínica Gabriela Soares
Maia, do Rio de Janeiro. Em resumo, a raiz auxiliaria no equilíbrio entre
hormônios importantes, como testosterona, estrogênio e progesterona. Tanto é
que há enorme interesse em relação aos efeitos da maca na fase da menopausa,
quando os níveis de estrogênio despencam.
Parece, contudo, que as vantagens do vegetal andino nesse período não
têm a ver obrigatoriamente com os hormônios. Recentemente, cientistas da
Universidade Victoria, na Austrália, testaram a raiz em 29 chinesas na
pós-menopausa. Verificaram que consumir 3,3 gramas do ingrediente por dia não
promoveu mudanças hormonais importantes. Porém, as voluntárias apresentaram
redução nos sintomas de depressão e melhoras nos níveis de pressão arterial.
Não é a primeira vez que o pessoal dessa instituição avalia o impacto
da raiz nesse público. Em 2008, constatou-se por lá que o alimento diminuiu
problemas como ansiedade e, de novo, sinais depressivos em 14 mulheres na
pós-menopausa.
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