Comentário Crítico
A ficção de Luisa Geisler, empenhada em retratar o esvaziamento das
relações contemporâneas, vale-se sobretudo de situações cotidianas - ou de
eventos extraordinários tratados como banais - para expor as dificuldades
afetivas das personagens. Em Contos de Mentira (2011), seu livro de estreia,
revela a predileção por temas familiares ou amorosos.
A dificuldade de expressão notada nas personagens de O Moço e o Velho
é, assim, semelhante à encontrada em Ovelha Branca: no primeiro conto, três
filhos tentam convencer o pai a internar-se no asilo; no segundo, uma reunião
familiar na casa dos pais termina com o assassinato de um dos filhos pelo
irmão. Nos dois textos o valor dos acontecimentos é reduzido, para que ganhe
atenção a impossibilidade de os protagonistas compreenderem, expressarem e
viverem suas emoções: o foco está na interação entre as personagens, e não na
sequência de eventos narrados.
O romance Quiçá (2012) retoma essas preocupações centrais ao
desenvolver-se em torno da relação entre Clarissa, menina de 11 anos, filha de
pais ausentes, e seu primo Arthur, que passa um ano na casa dos tios após
tentar suicídio. Há, aqui, dois planos narrativos: em um deles se desenrola um
almoço familiar de Natal, em outro, a relação entre os primos. A partir do
retrato de uma afetividade que não se cumpre plenamente, o livro questiona o
moralismo hipócrita mantido pela família e os efeitos da sociedade de consumo
sobre as relações interpessoais.
Os temas secundários explorados em ambos os livros (ménage à trois,
apedrejamento de mulheres e vida noturna dos jovens, por exemplo) e a
reprodução da oralidade na fala das personagens revelam o ponto de vista
implicado na obra de Luisa. Voltado quase sempre para a fala gaúcha e o modo de
vida da classe média urbana brasileira.obra de Geisler. Voltado quase sempre
para a fala gaúcha e o modo de vida da classe média urbana brasileira.
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