Andei léguas de sombra
Dentro em meu
pensamento.
Floresceu às avessas
Meu ócio com sem-nexo,
E apagaram-se as
lâmpadas
Na alcova cambaleante.
Tudo prestes se volve
Um deserto macio
Visto pelo meu tato
Dos veludos da alcova,
Não pela minha vista.
Há um oásis no Incerto
E, como uma suspeita
De luz por
não-há-frinchas,
Passa uma caravana.
Esquece-me de súbito
Como é o espaço, e o
tempo
Em vez de horizontal
É vertical.
Cancioneiro
Fernando Pessoa
Fonte:
http://www.cfh.ufsc.br/~magno/cancioneiro.htm
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