1 - Crime e Castigo,de Dostoiévski/O romance que marca dez entre dez
adolescentes.Publicado em 1866, conta a história de Raskolnikof,um sujeito
atormentado que decide matar uma mulher, é surpreendido pelo acaso,tem de
cometer outro crime e passa a viver torturado pela culpa.Todos os conflitos do
ser humano estão sintetizados nos pensamentos dessa figura que seespreita
sinistramente por São Petersburgo.Qual o limite da racionalização de um
indivíduo?Até onde sua justificativa conceitual pode permitir um comportamento
socialmente condenado?Depois deste livro,você nunca mais vai ter uma resposta
definitiva para essas dúvidas.
2 - Dom Quixote,de Miguel de Cervantes/O pai de todos os romances.Dom
Quixote leu demais as histórias heróicas de cavaleiros que enfrentavam tudo e
todos em nome de uma paixão transcendental e decide se tornar um deles.Apanha
no livro inteiro.Sempre acompanhado de seu leal e quase sádico Sancho
Pança,enfrenta moinhos imaginários em uma Europa que já não existe. Publicado
em duas partes,em 1605 e 1615,o livro estabeleceu um padrão de narrativa
distanciada,não raro irônica,que todos os grandes romances seguiriam
depois.Mas,deturpado de seu sentido original,ainda é visto como uma história de
triunfo ou antitriunfo.Não:é uma conversa que está dentro de cada um de nós.
3 - A Comédia,de Dante Alighieri/Assim como Dom Quixote ,trata-se de
uma sátira que os resumos convencionais costumam não acentuar.Mais tarde
chamada de A Divina Comédia ,o livro escrito entre 1306 e 1321 por Dante é uma
espécie de vingança contra sua cidade,Florença,cujos habitantes são
distribuídos pelo inferno e purgatório; apenas alguns merecem o
paraíso,especialmente a amada Beatriz e o guia do narrador,Virgílio,o autor de
A Eneida .Normalmente exaltado por seu imaginário rico em precisão e
sentimentos,o longo poema toscano também é inigualável em sua capacidade de
unir o coloquial e o sofisticado,atingindo uma unidade complexa que raríssimos
tradutores captam.
4 - Hamlet,de William Shakespeare/Quase tudo que Shakespeare (1564-1616)escreveu
merece ser lido. Nenhum autor traduziu como ele as angústias do homem de
qualquer época, confrontado entre a palavra e a justiça.Das peças mais famosas,
Hamlet (1600 ou 1601) acaba sendo a escolhida por ser a mais filosófica, quase
sem ação,sustentada em monólogos inesquecíveis.Mais enxuta que Rei Lear e mais
regular que Macbeth, contém toda a ambigüidade da própria condição humana.Com
provas tão fracas como o fantasma do pai que lhe aparece,Hamlet parte para se
vingar do tio e,sobretudo,da mãe,contando com a falta de tato de sua amada
Ofélia.E,ao contrário do que ocorre nas peças gregas,não há equilíbrio a
restabelecer no final: apenas a imperfeição de qualquer verdade proferida pelo
homem.
5- A Morte de Ivan Ilitch,de León Tolstói /Tolstói escreveu Guerra e
Paz (1865-69)e Anna Karenina (1875-77),a maior história de guerra e a maior
história de amor que o leitor já conheceu. Mas entre nesse mundo exclusivíssimo
com A Morte de Ivan Ilitch ,um personagem que ninguém construiu igual no mesmo
número de páginas. O pensamento de Tolstói,moralista,grandiloqüente,é de
difícil assimilação pelo leitor moderno,mas a descrição do carreirista sem
caráter Pedro Ivanovitch se faz nas dez páginas iniciais,nas quais nada,nenhum
detalhe, é redundante.Em sua sede de aceitação social,incapaz de ter opinião
própria,Ivanovitch leva uma vida covarde e representa o homem no que tem ao
mesmo tempo de mais mesquinho e presunçoso:a crença de que não vai morrer.Sua
vida é a própria morte.
6 - As Viagens de Gulliver,de Jonathan Swift/Nenhum escritor teve tão
poucas papas na língua para descrever a pobreza moral humana do que Jonathan
Swift. Ensaísta e panfletário brilhante,ele publica As Viagens de Gulliver em
1726 com a intenção de "envergonhar o mundo, mais do que diverti-lo".E,divertindo-o
como poucos, ele põe a nu as pretensões humanas nas viagens de Gulliver a
Liliput, Brobdingnag,Laputa e Glubdubdrib,com seus seres vaidosos,
imediatistas,bitolados e falsos, sintetizados finalmente nos Yahoos, sujos e
degredados e estranhamente semelhantes aos homens. Swift fundou a prosa inglesa
moderna e seu livro é a demonstração de que o orgulho humano não é tão
racional.
7 - A Odisséia,de Homero/Não há que escolher entre A Ilíada e A
Odisséia :os dois livros devem ser lidos.primeiro é o maior poema sobre uma
guerra,ao mesmo tempo épico e detalhista,um prodígio de fluência narrativa e
invenção melódica. A Odisséia é uma multiplicação ainda maior de histórias
dentro da mesma história,a grande viagem de retorno de Ulisses (Odisseu)para
sua terra,interceptada por seres fascinantes e lugares surpreendentes,que
testam a grande virtude do navegador:sua capacidade de não perder o bom senso
no pico das crises,de não ser sugado pelo abismo dos sentidos e dos desejos.Se
houvesse um só livro para ler,e esse livro fosse A Odisséia ,não poderíamos
reclamar da literatura.
8 - Ulisses,de James Joyce/James Joyce era um sujeito tão
excêntrico,tão excêntrico,que um dia teve uma idéia tão ambiciosa quanto
óbvia:adaptar A Odisséia para nossa pobre vida cotidiana,sem heroísmos e
mitologias,sem destinos grandiosos ou mesmo qualquer destino.E em 1992 ele
publicou Ulisses, um relato que comprime em 24 horas de um perambular por
Dublin os dez longos e atribulados anos que o Ulisses homérico gastou para voltar
a Ítaca.Numa linguagem repleta de inovações,trocadilhos e cortes,
perturbadoramente descontínua,entramos na cabeça de Stephen Dedalus, Leopold
Bloom e Molly Bloom,três irlandeses aparentemente comuns. E de repente nos
sentimos num mundo tão deslocado quanto o de Homero, como se o familiar e o
estranho fossem um só.
9 - Em Busca do Tempo Perdido,de Marcel Proust/Publicado entre 1913 e
1927 em sete volumes,este é o maior romance do século, tanto no tamanho como na
complexidade.Dezenas de personagens se cruzam em histórias de amor,ciúme e
inveja,na França da Belle Époque,e a narrativa vai passando do detalhe ao
painel e do painel ao detalhe sem fazer projeções definidas,num constante
reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente ajustado.A grandeza do
romance de Proust pode ser entendida na seguinte equação:há centenas de cenas e
figuras memoráveis,mas,tal como um poema,não se pode resumir a história sem
prejuízo dela mesma,tal o feitio das frases, modulação das vozes,a inteligência
do texto.O micro e o macro nunca se relacionaram assim antes.
10 - As Flores do Mal,de Charles Baudelaire/ A poesia francesa e
mundial,a arte e a própria vida nunca mais foram as mesmas depois que Charles
Baudelaire escreveu As Flores do Mal, em 1857.Acusada de blasfêmia e
obscenidade,a reunião de poemas sobre o tédio e a hipocrisia da vida humana é
menos agressiva do que pode parecer.O segredo de Baudelaire,que lhe permitiu se
apropriar do passado e preparar o futuro da literatura,foi juntar a eloqüência
clássica com as dissonâncias e imprecisões que seriam marcas da modernidade.
Numa mesma estrofe,ele vai do sussurro ao grito,do doce ao amargo,e cria uma
experiência vital.Baudelaire também foi grande crítico de música e
pintura,derrubando o mito de que o crítico é um criador frustrado.
11 - Ilusões Perdidas,de Honoré de Balzac/Personagens tão reais quanto
coisas,suas relações com dinheiro,amor e status, a busca pela glória,o choque
das gerações,a inveja e o ciúme – todos os sentimentos humanos são recriados
por Balzac (1799-1850) neste romance inesquecível.Respire fundo antes de entrar;é
aos poucos que Balzac vai acumulando cenas e observações que vão ganhando
sutileza e profundidade,e a figura de Lucien de Rubempré,o talento provinciano
e romântico que tenta se afirmar em Paris,ao mesmo tempo nos expõe suas
fraquezas e mediocridades e nos causa empatia irreversível.
12 - O Vermelho e o Negro,de Stendhal/Ao lado de Ilusões Perdidas ,é o
grande romance do século 19. Mas não se assuste com isso ou com o rótulo de
"clássico"e suas mais de 500 páginas.Deixe o ritmo de Stendhal
(1783-1842)conduzi-lo,e a recompensa virá no conhecimento de Julien Sorel,o
pobre ambicioso que quer ascender socialmente numa Paris em convulsão,mas nunca
é inteiramente "aceito"porque,dono de um objetivo só,não pertence a
grupos e desconhece seus códigos.Como em todo grande romance,não sabemos de que
lado ficar.
13 - Madame Bovary,de Gustave Flaubert/Depois de tantos romances
sócio-psicológicos majestosos como os de Balzac e Stendhal,Flaubert
(1821-80)veio criar uma nova forma de contar histórias.Em Madame Bovary ele se
ateve ao enredo tradicional,uma historinha de adultério.Mas colocando a mulher
como protagonista e pintando uma galeria de homens patéticos,cada um a seu
estilo,Flaubert reverteu a retórica e forjou um estilo cuidadosamente
despojado,que rejeita o "crescendo"e o detalhismo.Flaubert
revolucionaria a prosa de ficção ao defender que cada história tem seu estilo e
a jamais se repetir de um livro para outro.
14 - Tom Jones,de Henry Fielding/Depois da sátira moral de Jonathan
Swift em Gulliver ,o romance inglês nunca mais seria o mesmo.Agudo e irônico
como Swift,Fielding (1707-54)veio lhe retirar o moralismo e dar um alcance
social em Tom Jones ,uma trama realista que envolve pela sensual seqüência de
peripécias – amores,duelos,banquetes – comentadas pelo narrador falívele
corajoso.A riqueza de personagens,especialmente da virtuosa Sofia,o Graal que
Tom persegue,é acentuada pelo encadeamento das ações,em vez de atenuada em
estereótipos.Um grande feito literário.
15 - Nicholas Nickleby,de Charles Dickens/Se Honoré de Balzac é o ápice
da criação de personagens na Paris da primeira metade do século 19,Charles
Dickens o é em Londres.Autor de numerosas histórias que passaram ao imaginário
ocidental com uma força única,Dickens atingiu em Nicholas Nickleby (1839)uma
energia que não se repetiria nas obras mais maduras e controladas,como David
Copperfiel e Bleak House .Ninguém capturou o mundo social que envolve as
crianças como Dickens,o impacto do abandono e dos maus-tratos e o sentimento de
revolta que esse impacto vai deixar para sempre.
16 - Emma,de Jane Austen/No romance inglês do século 19 algumas
mulheres despontaram com uma capacidade impressionante de observação
sintética:Charlotte Brontë (Jane Eyre ),George Eliot (Middlemarch )e Jane
Austen (1775-1817).Das três,Austen é aquilo que se acostumou a chamar de mais
"feminina": suas mulheres parecem frágeis ou impotentes em boa parte
do tempo,mas nos momentos cruciais revelam uma força de caráter e expressão que
só se adivinhava em detalhes.Os costumes e suas motivações – sempre em torno de
casamentos – são descritos com uma finura insubstituível.
Postado por Luciano:
Fonte:
http://zulu452.blogspot.com.br/2008/09/os-livros-mais-lidos-do-mundo.html
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