(Bela Vista do Paraíso, PR, 1965). Poeta,
romancista, contista, cronista, ensaísta, crítico literário e professor
universitário. Em 1969, após a morte do pai, transfere-se com a família para a
cidade de Peabiru, zona rural do Paraná. Sua mãe se casa com um pequeno
comerciante local. Conclui o estudo fundamental no Colégio Olavo Bilac e na
Escola 14 de Dezembro. Faz curso de datilografia e, em 1980, por pressão da
família, ingressa no Colégio Agrícola Estadual de Campo Mourão. Passa por
Rondonópolis e Curitiba.
É aprovado no vestibular para cursar direito na Universidade Estadual
de Londrina (UEL), mas desiste da carreira. Volta a Peabiru e, em 1984, ingressa
no curso de letras da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (Fafiman). Estuda e trabalha como
agricultor numa propriedade de seu padastro. Formado em 1986, segue para
Curitiba, onde leciona em escolas de periferia. Torna-se amigo da poetisa
Helena Kolody (1912-2004).
Cursa o mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc),
tendo como tema de pesquisa a obra do escritor Dalton Trevisan (1925). Ganha o
Prêmio Nacional Luis Delfino, em 1989, com o livro de poemas Inscrições a Giz.
Torna-se professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Como
crítico literário, escreve para diversos periódicos. Faz doutorado na
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publica o romance Chove Sobre a
Minha Infância (1999) e conquista o Prêmio Cruz e Souza com o livro de contos
Hóspede Secreto (2000). Também escreve diversas obras para o público
infantojuvenil e lança o romance A Máquina de Madeira, em 2012.
Comentário crítico
De inspiração memorialista e teor confessional, a obra de Miguel
Sanches Neto se constrói a partir de um núcleo dramático característico, comum
tanto a sua produção poética, quanto a sua ficção em prosa - sendo que seus
textos transitam livremente pelos dois gêneros.
Egressas de um mundo semirrural, suas personagens experimentam o
mal-estar nascido do sentimento de exílio vivenciado na cidade grande.
Desenraizadas, desterritorializadas, são figuras marcadas por esta experiência
contraditória, a que o autor chama de "condição pós-moderna".
Cindidas, não conseguem forjar sua identidade em meio à modernidade oferecida
pela metrópole e tampouco encontram espaço de conforto no imaginário herdado do
mundo rural.
Tal perspectiva surge com força em Chove Sobre a Minha Infância,
romance no qual o escritor transpõe os limites da autobiografia, revisitando,
sem saudosismo, antigas memórias familiares, transfiguradas pela fabulação
romanesca. Em diálogo com a tradição do chamado romance de formação, e com a
obra memorialística de autores como Pedro Nava (1903-1984) e José Lins do Rego
(1901-1957), o livro narra a história de vida de um escritor nascido numa
pequena cidade do Sul do Brasil, reconstruindo seu trajeto desde a infância
marcada pelo analfabetismo familiar e pela perda do pai, até seu ingresso no
mundo das letras.
No plano da forma, a escrita de Sanches Neto recusa os artificialismos
de linguagem, optando por uma fala narrativa coloquial, ao mesmo tempo poética,
filtrada pelas lentes do que o autor define como "lirismo
desencantado".
Fonte de origem:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5583/miguel-sanches-neto
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