domingo, 10 de outubro de 2021

Crônicas De Segunda Na Usina: Hoje foi Sepultado o Negro Zé...



       Foi sepultado hoje, o negro Zé... 
Não, Não vai passar em nenhum canal de TV.
Em uma daquelas reportagens maravilhosas na cobertura do sepultamento de alguém importante. 
Isso mesmo, a morte do Zé não tem a menor importância.
Ele não foi politico, jogador de futebol, piloto de fórmula I.
Nem tão pouco fez alguma descoberta no campo da ciência que o levasse a concorrer ao prêmio Nobel.
Nunca pertenceu a nenhum sindicato, pois sempre trabalhou informalmente.
Não foi ator, apresentador.
Não amigos, ele não vai ter o seu nome, no letreiro de uma grande Loja de departamentos,
Nem escrito em placas de uma grande avenida, rua, viela, ponte ou pinguela.
O dia do seu nascimento, padecimento ou falecimento, não vai constar no calendário como um dia comemorativo, pois o Zé não foi Padre, pastor, ou Bispo.
Nem mesmo um famoso cantor, compositor ou Poeta importante.
Ele já veio ao mundo em desvantagem, pois nasceu em uma velha estalagem.
Filho de mãe solteira, mesmo assim nunca bateu carteira.
Quis o criador, talvez para aumentar sua dor que sua pele fosse de cor.
Isso no mundo que vivemos é um problema, pois há um grande grupo de imbecis que acha que a cor da pele compromete a inteligência, na verdade acho que esses tipos é que o seu cérebro desbotou junto com a pele.
Ele foi apenas um trabalhador anônimo que criou os seus filhos, apenas com o suor do seu próprio rosto, e a calosidade das suas mãos.
Nunca se arrependeu de ser honesto, de viver baseando na própria consciência.
Não vai ter nenhuma nota em nenhum jornal ou revista. O mundo nunca vai ficar sabendo da sua existência.
Certamente nenhum grande autor vai se prontificar a escrever o texto da sua lápide,
Onde descreva os grandes feitos do Zé, para sobreviver com o seu mísero salário.
E certamente o seu túmulo não vai se tornar um ponto de peregrinação pelo milagre de transformar os seus filhos em homens de caráter, apesar de tudo ao redor contar totalmente contra.
Mesmo assim o seu nascimento acabou virando uma nota, os seus sonhos uma melodia, e sua existência uma grande poesia.
Nenhuma grande gravadora ousou convoca-lo para a seu play list.
Nenhuma Editora vai publicar os versos do seu viver.
Infelizmente se você não mora, nem está fazendo turismo em ribeira mole, nos confins do inexistente, onde nasceu, viveu e morreu o Zé... Você não vai ficar sabendo nada da sua vida.
Por isso tomei a liberdade de deixar por escrito esta humilde existência, e não espero por este gesto me tornar maior ou menor do que fui.
Simplesmente mais um Zé, que pra muitos, é ninguém...

Mas que pra mim. Ser eu mesmo, me basta.

D'Araújo.

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