Foi sepultado hoje, o negro Zé...
Não, Não vai
passar em nenhum canal de TV.
Em uma daquelas reportagens maravilhosas na
cobertura do sepultamento de alguém importante.
Isso mesmo, a morte do Zé não
tem a menor importância.
Ele não foi politico, jogador de
futebol, piloto de fórmula I.
Nem tão pouco fez alguma descoberta no
campo da ciência que o levasse a concorrer ao prêmio Nobel.
Nunca pertenceu a nenhum sindicato, pois
sempre trabalhou informalmente.
Não foi ator, apresentador.
Não amigos, ele não vai ter o seu nome,
no letreiro de uma grande Loja de departamentos,
Nem escrito em placas de uma grande
avenida, rua, viela, ponte ou pinguela.
O dia do seu nascimento, padecimento ou
falecimento, não vai constar no calendário como um dia comemorativo, pois o Zé
não foi Padre, pastor, ou Bispo.
Nem mesmo um famoso cantor, compositor
ou Poeta importante.
Ele já veio ao mundo em desvantagem,
pois nasceu em uma velha estalagem.
Filho de mãe solteira, mesmo assim nunca
bateu carteira.
Quis o criador, talvez para aumentar sua
dor que sua pele fosse de cor.
Isso no mundo que vivemos é um problema,
pois há um grande grupo de imbecis que acha que a cor da pele compromete a
inteligência, na verdade acho que esses tipos é que o seu cérebro desbotou
junto com a pele.
Ele foi apenas um trabalhador anônimo
que criou os seus filhos, apenas com o suor do seu próprio rosto, e a
calosidade das suas mãos.
Nunca se arrependeu de ser honesto, de
viver baseando na própria consciência.
Não vai ter nenhuma nota em nenhum
jornal ou revista. O mundo nunca vai ficar sabendo da sua existência.
Certamente nenhum grande autor vai se
prontificar a escrever o texto da sua lápide,
Onde descreva os grandes feitos do Zé,
para sobreviver com o seu mísero salário.
E certamente o seu túmulo não vai se
tornar um ponto de peregrinação pelo milagre de transformar os seus filhos em
homens de caráter, apesar de tudo ao redor contar totalmente contra.
Mesmo assim o seu nascimento acabou virando
uma nota, os seus sonhos uma melodia, e sua existência uma grande poesia.
Nenhuma grande gravadora ousou
convoca-lo para a seu play list.
Nenhuma Editora vai publicar os versos
do seu viver.
Infelizmente se você não mora, nem está
fazendo turismo em ribeira mole, nos confins do inexistente, onde nasceu, viveu
e morreu o Zé... Você não vai ficar sabendo nada da sua vida.
Por isso tomei a liberdade de deixar por
escrito esta humilde existência, e não espero por este gesto me tornar maior ou
menor do que fui.
Simplesmente mais um Zé, que pra muitos,
é ninguém...
Mas que pra mim. Ser eu mesmo, me basta.
D'Araújo.
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