terça-feira, 26 de maio de 2020

Quarta na Usina: Poetisas Da Rede: Sônia Fernandes:


Agarro-me à almofada

Na esperança
Que estes dias intermináveis acabem,
Que libertem este corpo
Deste castigo de estar sozinho,
Sem o teu abraço,
Sem o teu calor.

Agarro-me à almofada e peço baixinho
A todos os santos e anjinhos
Que oiçam as minhas preces
Para que este inimigo invisível
Desapareça desta terra
Deixando-nos livres para sermos felizes

Agarro-me à almofada na esperança
De que brevemente irei ouvir no noticiário
Que podemos abraçar nossos entes queridos,
Que poderemos sair de casa
E encontrar nossos amigos,
E que poderei finalmente
Atirar-me em teus braços
Perder-me no teu abraço apertado
E no beijo INdecente
Que tantas saudades tenho.

Agarro-me à almofada e peço baixinho
Que tudo isto passe,
Para voltar a sentir a brisa do mar no rosto,
E estar sentada em cima das pedras
A ouvir música e escrever poesia

Agarro-me à almofada na esperança
De que o tempo passe a correr
Para que o lado direito da minha cama
Esteja ocupado contigo
E que durante a noite consiga adormecer abraçada e tranquila
Porque és TU que estás aqui comigo.

Agarro-me à almofada e peço baixinho
Que tudo isto acabe depressa
E todos nós possamos juntar-nos num café
A partilhar acontecimentos
E a brindar a recuperação desta luta que tem sido inglória.

Agarro-me à almofada na esperança
De ouvir a campainha tocar
Correr para abrir a porta
E atirar-me para os teus braços
Como se já não te visse à séculos
E fechar-te cá em casa
E não mais deixar-te sair.

Agarro-me à almofada e peço baixinho
Para que as pessoas entendam
Que temos todos de cumprir com o nosso dever cívico
Para que mais ninguém caia enfermo
E que tantos outros se recuperem.

Agarro-me à almofada na esperança
De tão depressa quanto possível
Poder oferecer-te o meu carinho,
Os meus beijos,
Os meus abraços,
Deixar-te adormecer em cima do meu peito
Para zelar pelo teu sono tranquilo.

Agarro-me à almofada na esperança
De que tudo volte ao normal.
Não será igual a antes,
Mas será com certeza melhor
E faremos sempre melhor
Porque esta distância forçada
Mostrou-nos o quanto nos queremos um ao outro.

Agarro-me à almofada,
Porque não te tenho do meu lado,
Para confortar-te
E de ti receber o tanto que me dás.

Agarro-me à almofada,
Mas prefiro de longe
Que sejas tu ao meu lado.

© Sónia Fernandes
13Abr2020

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