sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Contos do Sábado na Usina: Artur Azevedo: A Filha do Patrão IV:



No dia seguinte o comendador chamou o caixeiro ao escritório, e disse-lhe:

  Seu Manoel, estou muito contente com os seus serviços.

  Oh! patrão!

  Você é um empregado zeloso, ativo e morigerado; é o modelo dos empregados.

  Oh! patrão!

  Não sou ingrato. Do dia primeiro em diante você é interessado na minha casa: dou-lhe cinco por cento além do ordenado.

  Oh! patrão! isso não faz um pai ao filho!...

  Ainda não é tudo. Quero que você se case com a minha filha. Doto-a com cinqüenta contos. O pobre diabo sentiu-se engasgado pela comoção: não pode articular uma palavra.

  Mas eu sou um homem sério, continuou o patrão; a minha lealdade obriga-me a confessar-lhe que minha filha... não é virgem.

O noivo espalmou as mãos, inclinou a cabeça para a esquerda, baixou as pálpebras, ajustou os lábios em bico, e, respondeu com um sorriso resignado e humilde:

  Oh! patrão! ainda mesmo que fosse, não fazia mal.


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