quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos:


 

CORAÇÃO FRIO

Frio o sagrado coração da lua,
Teu coração rolou da luz serena!
E eu tinha ido ver a aurora tua
Nos raios d’ouro da celeste arena...
E vi-te triste, desvalida e nua!
E o olhar perdi, ansiando a luz amena 
No silêncio notívago da rua...
-- Sonâmbulo glacial da estranha pena!
Estavas fria! A neve que a alma corta 
Não gele talvez mais, nem mais alquebre 
Um coração como a alma que está morta...
E estavas morta, eu vi, eu que te almejo, 
Sombra de gelo que me apaga a febre,
 -- Lua que esfria o sol do meu desejo!

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