quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Dante Aliguieri: A Divina Comédia: Inferno:



Como fui dentro, a tudo pronto, vejo Campanha em toda parte ilimitada,
111 Mas não espaço às punições sobejo.
Como em Arle, onde o Rône faz parada Ou junto a Pola, de Quernaro perto,
114 De que à Itália a fronteira está banhada,
Stá de sepulcros desigual e incerto O solo: outros assim a estância feia,
117 Mas de modo mais agro, tem coberto.
Entre eles chama horrífica serpeia
E os abrasa inda mais que frágua ardente
120 Que arte para amolgar o ferro ateia.
Alçada a tampa, é cada qual patente. Dali surgia um lamentar profundo, 
123 De miséreo gemido permanente.
— “Ó Mestre meu, quais foram lá no mundo” — Eu disse — “aqueles, que no duro encerro
126 Denunciam tormento sem segundo?” —
“Aqui stão os hereges por seu erro, Com seus sequazes dos diversos cultos:
129 São mais do que tu crês em cada enterro.
“Iguais com seus iguais estão sepultos,
Uns túmulos mais que outros são candentes”. À destra então voltou: com tristes vultos
133 Passamos entre o muro e os padecentes.

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