quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Poesia de Quinta Na Usina: CLARICE LISPECTOR:



Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina.

Escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida.

Vivam os mortos porque neles vivemos.

Tudo deve estar sendo o que é.

Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca
começou porque sempre era? e era antes de sempre?
Do zero ao infinito vou caminhando sem parar.

O corpo é a sombra de minha alma.

Eu me sinto culpado quando não vos obedeço.

Os infelizes se compensam.

Tempo para mim significa a desagregação da matéria.

O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o
tempo em si não existe.

Na eternidade não existe o tempo.

Graças a Deus, tenho o que comer.

Escrever ao som harpejado e agreste a sucata da palavra.

Prescindir de ser discursivo.

Da obra: As Palavras:

Nenhum comentário:

Postar um comentário