Toma-me, ó noite eterna,
nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
que voluntariamente
abandonei
O meu trono de sonhos
e cansaços.
Minha espada, pesada a
braços lassos,
Em mão viris e calmas
entreguei;
E meu cetro e coroa —
eu os deixei
Na antecâmara, feitos
em pedaços
Minha cota de malha,
tão inútil,
Minhas esporas de um
tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria
escadaria.
Despi a realeza, corpo
e alma,
E regressei à noite
antiga e calma
Como a paisagem ao
morrer do dia.
Cancioneiro
Fernando Pessoa
Fonte:
http://www.cfh.ufsc.br/~magno/cancioneiro.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário