Terceiro
ocupante da Cadeira 8, eleito em 9 de agosto de 1951, na sucessão de Oliveira
Viana e recebido pelo Acadêmico Múcio Leão em 14 de novembro de 1951. Recebeu o
Acadêmico José Lins do Rego.
Austregésilo
de Athayde (Belarmino Maria A. Augusto de A.), professor, jornalista, cronista,
ensaísta e orador, nasceu em Caruaru, PE, em 25 de setembro de 1898, e faleceu
no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de setembro de 1993.
Era
filho do Desembargador José Feliciano Augusto de Athayde e de Constância
Adelaide Austregésilo de Athayde, e bisneto do tribuno e jornalista Antônio
Vicente do Nascimento Feitosa. Cedo foi viver no Ceará, onde morou em várias
cidades, acompanhando as constantes mudanças decorrentes da atividade
profissional de seu pai na magistratura. Ingressou no Seminário da Prainha aos
doze anos de idade e lá estudou para o sacerdócio até o 3º ano de Teologia.
Deixando o seminário, revalidou os preparatórios no Liceu do Ceará. Foi
professor do Colégio Cearense e do Colégio São Luís, dedicou-se ao ensino particular
e começou a colaborar na imprensa, até 1918, quando se transferiu para o Rio de
Janeiro.
No
Rio de Janeiro, prosseguiu no magistério particular no Curso Normal de
Preparatórios e no Curso Maurell da Silva. Iniciou a carreira jornalística no
jornal A Tribuna. Em 1921, passou a colaborar no Correio da Manhã, dedicando-se
à crítica literária, e mais tarde em A Folha, de Medeiros e Albuquerque. Foi
tradutor e redator das agências Associated Press e United Press. Escreveu o
livro de contos Histórias amargas, publicado em 1921.
Em
1922, colou grau em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do
antigo Distrito Federal. Manteve-se sempre ligado profissionalmente à imprensa.
Em 1924, convidado por Assis Chateaubriand, assumiu a direção de O Jornal,
ponto de partida para a organização dos Diários Associados, em que exerceu
intensa atividade.
Adversário
da Revolução de 1930, participou, ao lado de Assis Chateaubriand, do Movimento
Constitucionalista irrompido em 9 de julho de 1932, em São Paulo, tendo sido
preso e exilado para a Europa em novembro desse ano. Permaneceu muitos meses em
Portugal, Espanha, França e Inglaterra e de lá se dirigiu a Buenos Aires, onde
residiu nos anos de 1933 a 1934.
De
volta ao Brasil reiniciou suas atividades nos Diários Associados como
articulista e diretor do Diário da Noite e redator-chefe de O Jornal, do qual
foi o principal editorialista, além de manter a coluna diária Boletim
Internacional. Também escreveu semanalmente na revista O Cruzeiro e, por sua
destacada atividade jornalística, recebeu, em 1952, na Universidade de
Columbia, EUA, o Prêmio Maria Moors Cabot.
Em
1948, tomou parte como delegado do Brasil na III Assembléia da ONU, em Paris,
tendo sido membro da comissão que redigiu a Declaração Universal dos Direitos
do Homem, em cujos debates desempenhou papel decisivo. Dos redatores dessa
histórica declaração, além da presença de Athayde, cumpre lembrar os nomes da
jornalista norte-americana Eleanor Roosevelt, do professor libanês Charles
Malek e do soviético prof. Pavlov, com assistência do jurista francês René
Cassin. Austregésilo de Athayde foi reconhecido pelos próprios companheiros da
Comissão como o mais ativo colaborador na redação do histórico documento, em
cuja elaboração muitas vezes ocorreram divergências entre os redatores, mas
que, afinal, tiveram sentido construtivo.
Em
1968, por ocasião do 20º. aniversário da Declaração Universal dos Direitos do
Homem, a Academia Sueca conferiu o Prêmio Nobel da Paz ao jurista e filósofo
René Cassin que, ao ter conhecimento da homenagem que lhe fora prestada,
exatamente pelo papel que desempenhou na elaboração da declaração, chamou os
jornalistas e declarou-lhes: "Quero dividir a honra desse prêmio com o
grande pensador brasileiro Austregésilo de Athayde, que ao meu lado, durante
três meses, contribuiu para o êxito da obra que estávamos realizando por
incumbência da Organização das Nações Unidas."
Em
1978, no 30º aniversário desse documento, o Presidente Jimmy Carter, dos EUA,
reconheceu universalmente, através de carta enviada a Austregésilo de Athayde,
a "vital liderança" por ele exercida na elaboração da Declaração
Universal dos Direitos do Homem.
Diplomado
na Escola Superior de Guerra, em 1953, passou a ser conferencista daquele
centro de estudos superiores. Além das suas atividades na imprensa, ao longo de
muitos anos, pronunciou centenas de conferências, sobre a defesa dos direitos
humanos e outros temas da atualidade, a convite de entidades culturais do país.
Dedicou-se
à vida acadêmica desde agosto de 1951, quando foi eleito para ocupar a Cadeira
nº 8, e o fez durante mais de quatro décadas. Em 1959, tornou-se presidente da
Casa de Machado de Assis, tendo sido reeleito para dirigi-la por longos 35
anos. À frente dos destinos da Academia, consagrou-se como o consolidador, o
grande realizador, permanentemente devotado à tarefa de engrandecê-la
espiritual e materialmente. A Academia tornou-se o centro de sua vida e ele
converteu-se, com o passar do tempo, na própria encarnação da ABL,
transfundindo-se na Instituição que tão bem dirigiu. Dentre as muitas
realizações na Academia, além das atribuições regimentais, Austregésilo
construiu o prédio de 29 andares do Centro Cultural do Brasil, anexo à
Academia, inaugurado em 20 de julho de 1979. Nesse ano, recebeu o Prêmio da
Associação Paulista de Críticos de Arte pela sua realização. Empreendeu a
reforma do Solar da Baronesa, em Campos, RJ, que ele pretendia transformar na
sede de um museu do século XIX, do Instituto Internacional de Cultura e da
Biblioteca Varnhagen, da Academia Brasileira, planejada para abrigar um acervo
de 250 mil volumes. Autorizou a criação do Banco de Dados.
Apesar
de toda a sua dedicação à atividade literária, Austregésilo de Athayde é dono
de uma bibliografia literária pequena e não deixou uma obra ficcional à altura
da fama que conquistou. No entanto, é praticamente impossível que haja, na
história da literatura e mesmo do jornalismo de nosso País, alguém que tenha
escrito mais do que ele. Gabava-se de ser o mais antigo editorialista e
articulista em atividade, em todo o mundo. "Não me interesso em publicar
livros", disse ele, em entrevista. "Como jornalista, eu fiz
literatura. Sou jornalista e quero ser jornalista, intérprete do meu tempo e
profeta do futuro de meu País."
Desde
os tempos de colaborador do jornal A Tribuna e de tradutor na agência de
notícias Associated Press, em 1918, até poucas semanas antes de sua morte, Mestre
Athayde colocou seus pensamentos e suas idéias no papel, e poucas vezes deixou
de publicar alguma matéria nos jornais e revistas de nosso País. Orgulhava-se
de afirmar:
"Jamais
escrevi um artigo que não expressasse a linha de minhas convicções democráticas.
Nunca elogiei partidos, homens ou grupos". (...) "Sou incapaz de ser
a favor de homens. Sou a favor de idéias, de pontos de vista. O que almejo
mesmo é o pensamento democrático, a preservação de nossa unidade nacional e o
bem do povo brasileiro."
Austregésilo de
Athayde sempre relembrava com prazer e vaidade os acontecimentos de sua longa
existência, durante a qual recebeu cento e setenta medalhas, placas e
condecorações. Dizia ele que o ato mais importante de sua vida fora ter escrito
a Declaração Universal dos Direitos do Homem, obra que o projetara no mundo
inteiro e era o seu grande motivo de orgulho.
fonte de origem:
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D137/biografia
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