José
de Sousa Saramago ComSE • GColSE (Golegã, Azinhaga, 16 de novembro de 1922 —
Tías, Lanzarote, 18 de junho de 2010) foi um escritor, argumentista,
teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta
português.
Foi
galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio
Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi
considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa
em língua portuguesa.2 A 24 de Agosto de 1985 foi agraciado com o grau de
Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de Dezembro de 1998
foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem, uma honra reservada apenas a Chefes
de Estado.3
O
seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008,
produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles
(realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador
português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase,
conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em
co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu
no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de
Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento.
Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido
Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente
com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano
Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a
Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar
del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A
29 de Junho de 2007 constitui a Fundação José Saramago para a defesa e difusão
da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente.4
Em 2012 a Fundação José Saramago abre as suas portas ao público na Casa dos
Bicos em Lisboa, presidida pela sua mulher Pilar del Río.
Biografia:
José
Saramago nasceu na vila de Azinhaga, no concelho da Golegã, de uma família de
pais e avós agricultores.5 A sua vida é passada em grande parte em Lisboa, para
onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade.
Dificuldades económicas impedem-no de entrar na universidade. Demonstra desde
cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que esta curiosidade perante
o Mundo o acompanhou até à morte. Formou-se numa escola técnica. O seu primeiro
emprego foi de serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite,
com grande frequência, a Biblioteca Municipal Central — Palácio Galveias.6
Início
de vida:
Aos
25 anos, publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de
nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis –
com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970. Nessa época, Saramago
era funcionário público. Viveu, entre 1970 e 1986 com a escritora Isabel da
Nóbrega. Em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del
Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986 e ao lado da qual viveu até à
morte. Em 1955 e para aumentar os rendimentos, começou a fazer traduções de
Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros.6
Depois
de Terra do Pecado, Saramago apresentou ao seu editor o livro Clarabóia que,
depois de rejeitado, permaneceu inédito até 2011. Persiste, contudo, nos
esforços literários e, dezanove anos depois, funcionário, então, da Editorial
Estudos Cor, troca a prosa pela poesia, lançando Os Poemas Possíveis.5 Num
espaço de cinco anos, publica, sem alarde, mais dois livros de poesia:
Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975). É quando troca também de
emprego, abandonando a Estudos Cor para trabalhar no Diário de Notícias (DN) e,
depois, no Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao DN como Director-Adjunto, onde
permanece por dez meses, até 25 de Novembro do mesmo ano, quando os militares
portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da
Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve
dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalista pelo
ficcionista: "(…) Estava à espera de que as pedras do puzzle do destino –
supondo-se que haja destino, não creio que haja – se organizassem. É preciso
que cada um de nós ponha a sua própria pedra, e a que eu pus foi esta:
"Não vou procurar trabalho", disse Saramago em entrevista à revista
Playboy, em 1995.6
Da
experiência vivida nos jornais, restaram quatro crónicas: Deste Mundo e do
Outro, 1971, A Bagagem do Viajante, 1973, As Opiniões que o DL Teve, 1974 e Os
Apontamentos, 1976. Mas não são as crónicas, nem os contos, nem o teatro os
responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque
– esta missão está reservada aos seus romances, género a que retorna em 1977.7
Três
décadas depois de publicado Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da
prosa ficcional com Manual de Pintura e Caligrafia. Mas ainda não foi aí que o
autor definiu o seu estilo. As marcas características do estilo
"saramaguiano" só apareceriam com Levantado do Chão (1980), livro no
qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.7
Dois
anos depois de Levantado do Chão (1982), surge o romance Memorial do Convento,
livro que conquista definitivamente a atenção de leitores e críticos. Nele,
Saramago misturou factos reais com personagens inventados: o rei D. João V e
Bartolomeu de Gusmão, com a misteriosa Blimunda e o operário Baltazar, por
exemplo. O contraste entre a opulenta aristocracia ociosa e o povo trabalhador
e construtor da história servem de metáfora à medida da luta de classes
marxista. A crítica brutal a uma Igreja ao serviço dos opressores inicia a
exposição de uma tentativa de destruição do fenómeno religioso como devaneio
humano construtor de guerras.7
De
1980 a 1991, o autor trouxe a lume mais quatro romances que remetem a factos da
realidade material, problematizando a interpretação da "história"
oficial: O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), sobre as andanças do heterónimo
de Fernando Pessoa por Lisboa; A Jangada de Pedra (1986), em que se questiona o
papel Ibérico na então CEE através da metáfora da Península Ibérica soltando-se
da Europa e encontrando o seu lugar entre a velha Europa e a nova América;
História do Cerco de Lisboa (1989), onde um revisor é tentado a introduzir um
"não" no texto histórico que corrige, mudando-lhe o sentido; e O
Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), onde Saramago reescreve o livro sagrado
sob a óptica de um Cristo que não é Deus e se revolta contra o seu destino e
onde, a fundo, questiona o lugar de Deus, do cristianismo, do sofrimento e da
morte.7
Nos
anos seguintes, entre 1995 e 2005, Saramago publicou mais seis romances, dando
início a uma nova fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou
épocas determinados e personagens dos anais da história se ausentam: Ensaio
Sobre a Cegueira (1995); Todos os Nomes (1997); A Caverna (2001); O Homem
Duplicado (2002); Ensaio sobre a Lucidez (2004); e As Intermitências da Morte
(2005). Nessa fase, Saramago penetrou de maneira mais investigadora os caminhos
da sociedade contemporânea, questionando a sociedade capitalista e o papel da
existência humana condenada à morte.7
A
ida para Lanzarote conta mais sobre o escritor do que deixa transparecer a
justificativa corrente (a medida censória portuguesa). Com o gesto de
afastamento rumo à ilha mais oriental das Canárias, Saramago não apenas
protesta ante o cerceamento, como finca raízes num local de geografia inóspita
(trata-se de uma ilha vulcânica, com pouca vegetação e nenhuma fonte de água
potável). A decisão tem um carácter revelador, tanto mais se se levar em conta
que, neste caso, "mais oriental" significa dizer mais próximo de
Portugal e do continente europeu.
Mesmo
em dias de hegemonia do pensamento pró-mercado, Saramago guardava um olhar
abrigado numa ilha europeia mais próxima da África que do velho centro da
civilização capitalista. Sempre atento às injustiças da era moderna, vigilante
das mais diversas causas sociais, Saramago não se cansava de investir, usando a
arma que lhe coube usar, a palavra. "Aqui na Terra a fome continua, / A
miséria, o luto, e outra vez a fome.", diz o eu lírico do poema
saramaguiano "Fala do Velho do Restelo ao Astronauta" (do livro Os
Poemas Possíveis, editado em 1966).
Morte:
Saramago
faleceu no dia 18 de Junho de 2010,8 aos 87 anos de idade, na sua casa em
Lanzarote onde residia com a mulher Pilar del Rio, vítima de leucemia crónica.9
O escritor estava doente havia algum tempo e o seu estado de saúde agravou-se
na sua última semana de vida. O seu funeral teve honras de Estado, tendo o seu
corpo sido cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. As cinzas do
escritor foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa em 18 de junho de
2011.10
Obra:
“Dificílimo
acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(…) Basta pensar no
extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos,
primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém às necessidades do efeito,
o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos
arriscadas acrobacias(…)”
—
Saramago, A Jangada de Pedra, 1986
José
Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de
tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do
que a correcção ortográfica de uma linguagem escrita. Todas as características
de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na
retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão
presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de
uma maneira não convencional; os diálogos das personagens são inseridos nos
próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos
seus livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de
fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo
diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações)
ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria
pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos
inteiros de outros autores.7
Estas
características tornam o estilo de Saramago único na literatura contemporânea,
sendo considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua
portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano Harold Bloom, no seu livro
Genius: A Mosaic of One Hundred Exemplary Creative Minds ("Génio: Um
Mosaico de Cem Exemplares Mentes Criativas", tradução livre), considerou
José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje"11 ,
referindo-se a ele como "o Mestre". Declarou ainda que Saramago é
"um dos últimos titãs de um género literário que se está a
desvanecer".7
Obras
publicadas:
Romances:
Terra
do Pecado, 1947
Manual
de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado
do Chão, 1980
Memorial
do Convento, 1982
O
Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A
Jangada de Pedra, 1986
História
do Cerco de Lisboa, 1989
O
Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio
Sobre a Cegueira, 1995
Todos
os Nomes, 1997
A
Caverna, 2000
O
Homem Duplicado, 2002
Ensaio
Sobre a Lucidez, 2004
As
Intermitências da Morte, 2005
A
Viagem do Elefante, 2008
Caim,
2009
Claraboia,
2011
Alabardas,
Alabardas, Espingardas, Espingardas, 2014
Crónicas[editar
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Deste
Mundo e do Outro, 1971
A
Bagagem do Viajante, 1973
As
Opiniões que o DL Teve, 1974
Os
Apontamentos, 1977
Peças
teatrais[editar | editar código-fonte]
A
Noite, 1979
Que
Farei com Este Livro?, 1980
A
Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987
In
Nomine Dei, 1993
Don
Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005
Contos[editar
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Objecto
Quase, 1978
Poética
dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
O
Conto da Ilha Desconhecida, 1997
Livros
de poesia
Os
Poemas Possíveis, 1966
Provavelmente
Alegria, 1970
O
Ano de 1993, 1975
Diário
e Memórias
Cadernos
de Lanzarote (I-V), 1994
As
Pequenas Memórias, 2006
Infantil
A
Maior Flor do Mundo, 2001
O
Silêncio da Água, 2011
Viagens
Viagem
a Portugal, 1983
Prémios
Entre
as premiações destacam-se o Prémio Camões (1995) – distinção máxima oferecida
aos escritores de língua portuguesa, e o Nobel de Literatura (1998), o primeiro
concedido a um escritor de língua portuguesa.
Polémicas
“"Marx nunca teve tanta razão como hoje."12 ”
—
José Saramago, Público, 15/06/2008
A
carreira de Saramago foi acompanhada de diversas polémicas. As suas opiniões
pessoais sobre religião ou sobre a luta internacional contra o terrorismo são
muito discutidas e algumas resultam mesmo em acusações de diversos quadrantes.
Política]
Diretor-Adjunto
do Diário de Notícias[editar | editar código-fonte]
Após
a Revolução dos Cravos, no dia 9 de Junho de 1974, José Saramago ingressa na
direcção do Diário de Notícias como adjunto do director Luís de Barros. Desde
logo tornou claro que pretendia utilizar o posto concedido como ferramenta
política no intuito de tornar Portugal um estado socialista: “O DN vai ser o
instrumento, nas mãos do povo português, para a construção do socialismo.”
Com
a nacionalização do jornal, após o 11 de Março de 1975, o jornal remodelou a
sua direcção. Saramago manteve o seu cargo, mas para efeitos práticos, as suas
funções assemelhavam-se mais ao cargo de director do que director-adjunto.
Entre Abril e Novembro do mesmo ano, redigiu cerca de 95 textos na primeira
página sob o título de “Apontamentos”, que acabavam por funcionar como
editoriais do jornal. Nestes textos era possível denotar fortes críticas a
Mário Soares, Freitas do Amaral, entre outros, e rasgados elogios a dirigentes
conotados com o ideário comunista dos quais se destacam Vasco Gonçalves.
Estes
textos não eram assinados, e por uma só vez surge a assinatura de José Saramago
junto com a de Luís de Barros, nas páginas do DN num texto intitulado "Uma
Direcção Nova" e publicado a 11 de Abril: "O DN é importante de mais
para que os seus trabalhadores aceitem vê-lo transformar-se em feudo de alguém.
Esta Casa precisa de todos e será obra de todos". Contrariando estas
palavras, 22 jornalistas serão despedidos a 27 de Agosto por delito de opinião.
"Informação revolucionária não se faz com jornalistas
contra-revolucionários. Por isso, os que o eram foram afastados",
explicará o DN, a 4 de Setembro, em prosa não assinada.
Entre
os vários textos que escreveu, nunca escondeu que acreditava na instauração de
regime socialista recorrendo à força das armas. São dele as afirmações: “Ou
esta Revolução se suicida (...) ou se recupera pela única via que lhe deixam
aqueles que a querem liquidar”, "a violência revolucionária é uma legítima
defesa quando está em causa a vida e o futuro de um povo inteiro" e
"O regresso aos quartéis, que alguns teimam em preconizar, nada resolveria
as Forças Armadas, tendo sido MFA no seu sector progressista, não podem
recuperar neutralidades utópicas: mais vale, portanto, que, mesmo em conflito,
continuem no primeiro plano da acção política. Mas cuidado, o tempo não
espera". Estas afirmações consistiam num apelo implícito ao golpe militar,
que poderia mergulhar o país na guerra civil como preço a pagar para que continuasse
a ser o povo a determinar os destinos do país. De facto, no dia seguinte à
publicação destas afirmações, 25 de Novembro de 1975, sectores da esquerda
radical levam a cabo uma tentativa de golpe de estado falhada, assinalando
também o fim da influência de Saramago no DN.13
Críticas
a Israel e acusações de anti-semitismo
Um
caso que tem tido alguma repercussão relacionou-se com a posição crítica do
autor em relação à posição de Israel no conflito contra os palestinianos. Por
exemplo, a 13 de Outubro de 2003, numa visita a São Paulo, em entrevista ao
jornal O Globo, afirmou que os judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento
por que passaram durante o Holocausto… Vivendo sob as trevas do Holocausto e
esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram
parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais
e avós. A Anti-Defamation League (ADL) (Liga Anti-Difamação), um grupo judaico
de defesa dos direitos civis, caracterizou estes comentários como sendo
anti-semitas. Segundo as palavras de Abraham Foxman, director da ADL, "os
comentários de José Saramago são incendiários, profundamente ofensivos e
mostram uma ignorância destes assuntos, o que sugere um preconceito contra os
judeus".
Em
defesa de Saramago, diversos autores afirmam que ele não se insurgiu contra os
judeus, mas contra a política de Israel, como, por exemplo, num artigo
publicado a 3 de Maio de 2002 no jornal Público, onde, comparando o actual
conflito com a cena bíblica de Davi e Golias, o autor diz que Davi,
representando Israel, "se tornou num novo Golias" e que aquele
"lírico Davi que cantava loas a Betsabé, encarnado agora na figura
gargantuesca de um criminoso de guerra chamado Ariel Sharon, lança a "poética"
mensagem de que primeiro é necessário esmagar os palestinianos para depois
negociar com o que deles restar".
Integração
de Portugal numa Federação Ibérica
Em
entrevista ao jornal Diário de Notícias em 15 de Julho de 2007, Saramago afirmou
que a integração entre Espanha e Portugal é uma forte probabilidade e que os
portugueses só teriam a ganhar se Portugal fosse integrado na Espanha, país no
qual se auto-exilou (na ilha de Lanzarote) e que viu como seu a atribuição do
Nobel da Literatura.[2]
Acerca
do prémio Nobel
Em
Setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de
Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do
comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a
Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de
livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas
a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca
produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em
outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano
Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de
outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de
dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo
o Diário de Notícias, o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou:
"Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da
nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando
esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a
decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de
académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo
Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria
ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências
publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a
Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de
relações públicas.
Religião
Oposição
à Igreja Católica
Saramago
por Bottelho
Saramago
encontrou sempre fortes críticas e oposição na Igreja Católica, facto pelo qual
ele se refere a esta como "fascista" com frequência. Alguns
protestantes (ou evangélicos) já declararam publicamente apoiar a liberdade de
expressão do autor.14 E essa relação de tensão com a Igreja Católica é agravada
devido à origem portuguesa de Saramago, local onde o catolicismo é muito forte
e discuti-lo ainda é um tabu.15
Devido
à sua origem portuguesa e a toda a influência cultural exercida pelo
catolicismo em tal contexto, Saramago sente a necessidade de abordar a Bíblia
no seu trabalho de escritor – esse texto faz parte do seu património cultural,
ao contrário do corão, que Saramago entende não ser a sua tarefa abordá-lo.16
A
interpretação que Saramago faz da Bíblia é a de que ela é um "manual de
maus costumes", cheio de "um catálogo de crueldade e do pior da
natureza humana", e que para uma pessoa comum a decifrar, precisaria de
ter "um teólogo ao lado". E cita para sustentar isso os episódios de
violência relatados na Bíblia, como sacrifício de Isaque, a destruição de
Sodoma ou a vida de Jó, por exemplo. Para Saramago, todos eles revelam que
"Deus não é de fiar". E Saramago diz, sobre a necessidade ou não da
exegese, que tem que "interpretar a letra" do texto – um processo
que, na interpretação bíblica, é chamado de literalista.16 E isso de modo algum
impede que outra pessoa tenha a sua interpretação, ou que ele tente impor a sua
interpretação como verdade como absoluta. Muito pelo contrário, ele até mesmo
estimula a leitura bíblica: "Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a
Bíblia e perde a fé!", diz Saramago.
Porém,
Saramago não deixa de reconhecer que a "Bíblia tem coisas admiráveis do
ponto de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler",
estando, dentre elas, os salmos, com páginas "belíssimas", o Cântico
dos Cânticos, e a parábola do semeador contada por Jesus.16
A
relação de tensão de Saramago com a Igreja Católica cresceu fortemente após a
publicação do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo em 1991, que foi adaptado
para o teatro em 2001. O livro foi motivo de fortes críticas por parte de
católicos que se consideraram ofendidos pela leitura secular que Saramago faz
da personagem Jesus.17 18
A
Igreja Católica não gostou da atribuição do Prémio Nobel a Saramago e publicou
no diário do Vaticano, L'Osservatore Romano: “Saramago é, ideologicamente, um
comunista inveterado”.19
O
lançamento do livro Caim (2009) voltou a suscitar "incompreensões,
resistência, ódios velhos", conforme Saramago. "Desperto muitos
anticorpos em certas pessoas", acrescenta, acusando várias vezes
responsáveis da Igreja Católica (mas não protestantes ou judeus) de terem
comentado o livro que ainda não leram – de facto, as pessoas foram instadas a
comentar as declarações sobre a Bíblia, feitas por Saramago.16
E,
realmente, após o lançamento de Caim, várias vozes católicas se insurgiram
contra Saramago. Ele foi acusado pelo padre José Tolentino Mendonça, director
do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, de fazer uma leitura
"ingénua, ideológica e manipuladora" da Bíblia. O bispo do Porto, D.
Manuel Clemente, afirmou que José Saramago "revela uma ingenuidade
confrangedora quando faz incursões bíblicas" e, como "exigência
intelectual, deveria informar-se antes de escrever". Já o director da
Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, Peter Stilwell,
considera que "seria espantoso" que José Saramago encontrasse algo
divino na Bíblia e sublinhou que o escritor escolheu o fratricida Caim e não
Abel, a vítima.
O
teólogo Anselmo Borges inicialmente afirmou que Saramago fez uma leitura
"completamente unilateral" da Bíblia, que tem, como qualquer livro,
de ser lida como um todo.20 Mais tarde, tal teólogo declarou ter opinião
formada sobre Caim: "Gostei do livro e até digo que é importante." Dá
três razões para justificar a sua opinião: a "Bíblia é um livro aberto; há
liberdade de interpretação e obriga os crentes a reflectir".15 Para o
biblista Fernando Ventura, José Saramago tinha a exigência intelectual de se
informar antes de escrever. O religioso capuchinho referiu que "a Bíblia pode
ser lida por alguém que não tem fé, mas supõe alguma honestidade intelectual de
quem o lê", e acusou Saramago de "uma falta gigantesca" dessa
honestidade.
Sobre
tais afirmações, Saramago, com sarcasmo, disse: "Dizem que li a Bíblia com
ingenuidade porque é necessário fazer uma interpretação simbólica, ou seja,
aquilo que ali está escrito não tem sentido por si. E levou mil anos a ser
escrito!"21 Ainda sobre a alegação de "ingenuidade", respondeu:
"Abençoada ingenuidade que me permitiu ler o que lá está e não qualquer
operação de prestidigitação, dessas em que a exegese é pródiga, forçando as
palavras a dizerem apenas o que interessa à Igreja. Leio e falo sobre o que
leio".22
Essas
críticas confirmam também a opinião de Saramago de que muitos que comentaram o
livro ainda não o leram – isso está explícito no próprio teor das críticas.
É
também por esses comentários que Saramago diz que os católicos "não leem a
Bíblia".23
Devido
aos acontecimentos, em uma conversa com o teólogo católico José Tolentino de
Mendonça no final de Outubro de 2009, Saramago declarou: "A mim, o que me
vale, meu caro Tolentino, é que já não há fogueiras em São Domingos".24
O
Papa Bento XVI, que em Abril de 2009 já havia afirmado que "os estudiosos
católicos não podem interpretar a Bíblia de uma maneira independente, nem de um
ponto de vista científico ou individual",25 após o episódio ocorrido no
lançamento de Caim voltou a afirmar publicamente que apenas a Igreja Católica
pode interpretar a Bíblia.26
Dias
após a morte de Saramago, o jornal oficial do Vaticano chamou o escritor de
"populista extremista" e "ideólogo anti-religioso".27
Críticas
ao Papa Bento XVI[editar | editar código-fonte]
Na
sua passagem por Roma em 14 de Outubro de 2009, Saramago chamou Joseph Alois
Ratzinger, também chamado Papa Bento XVI, de "cínico", dizendo que a
"insolência reaccionária" da Igreja Católica precisa ser combatida
com a "insolência da inteligência viva".28
Dentre
as suas principais declarações, estavam a de que Ratzinger tenha a coragem de
invocar Deus para "reforçar o seu neomedievalismo universal, um Deus que
ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o
absoluto cinismo intelectual" dele. Disse também que "[a]s
insolências reaccionárias da Igreja Católica precisam de ser combatidas com a
insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não
podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos
representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só têm interesse no
poder".28
Críticas
de católicos a Saramago[editar | editar código-fonte]
Após
ter enfrentado fortes críticas com o lançamento do livro O Evangelho Segundo
Jesus Cristo em 1991, mudou-se de Portugal para a Espanha. Pouco depois,29 o
lançamento de Caim em 2009 voltou a render-lhe mais críticas.
O
eurodeputado Mario David, falando em nome pessoal e assumindo-se católico
não-praticante, disse ter vergonha de ser compatriota do escritor, e escreveu
no seu blogue da Internet, tendo-o repetido depois aos meios de comunicação,
que Saramago devia renunciar à nacionalidade portuguesa.30 Apesar de tais
declarações, o escritor esclareceu que jamais pensou em abandonar a cidadania
portuguesa.31
Em
defesa de Saramago, a eurodeputada socialista Edite Estrela declarou que tais
palavras de Mario David são inquisitórias.32
Já
Sousa Lara, sub-secretário de Estado adjunto da Cultura de Portugal em 1991,
que então vetou o livro O Evangelho segundo Jesus Cristo de uma lista de
romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu, em Outubro de
2009 comparou Saramago com Berlusconi (isto embora Berlusconi seja um político
direitista italiano conhecido por sua fé católica33 34 35 36 37 que até já foi
responsável pela publicação de um livro de Saramago em Itália por ser uma obra
de "anticatólica", sendo que Saramago considerava que "O Estado
de Berlusconi" era "católico e reaccionário"38 ), sugerindo que
ele deveria receber uma "punição" (não apenas divina) pelo que foi
escrito em Caim, declarando o que segue:
"Este
senhor atingiu, não se percebe muito bem porquê, um patamar de impunidade que a
humanidade concede, tipo Berlusconi. Há umas pessoas que podem dizer tudo, que
podem fazer as coisas mais absurdas e as pessoas habituam-se a isso e não levam
a mal. Só tenho pena que não enxovalhe, da mesma forma que enxovalhe o
património católico, por exemplo os muçulmanos, porque esses não perdoam e
vergam-lhes pela pele. Aí é mais difícil insistir muito numa gracinha reiterada
contra a religião muçulmana. Calculo que depois não lhe corra bem o futuro
depois".39
O
poeta Manuel Alegre, sobre tais acontecimentos, declarou: "Isto é uma
história portuguesa cheia de preconceitos e fantasmas. Em primeiro lugar é
preciso ler o livro de José Saramago. Ele é um grande escritor, mas parece que
não se perdoa a Saramago, ser um grande escritor da língua portuguesa, ser um
Prémio Nobel e não ser um homem religioso". "Ele escreveu um livro,
mas não vejo ninguém discutir o livro. Só vejo discutir as opiniões que com
todo o direito ele expressou sobre a Bíblia". Conforme questiona Alegre,
"As pessoas podem não estar de acordo com aquilo que ele diz, mas como é
que se pode pôr em causa a seriedade de um homem que diz aquilo que
pensa". Ele considera tais acontecimentos como "um preconceito"
e "resquícios de dogmatismo". "Não lhe podem negar o direito de
escrever um livro e também não se pode crucificar o Saramago por exprimir as
suas opiniões e menos ainda por ser um grande escritor, e menos ainda por ser
um Prémio Nobel". Finalizando, disse que "ao Saramago não se perdoa
ser um português que se atreveu a ganhar o Prémio Nobel da Literatura e que diz
que não acredita em Deus".40
Fonte de origem:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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