Este caso da parteira merece sérias reflexões
que tendem a interrogar sobre a serventia
da lei.
Uma senhora,
separada do marido, muito naturalmente quer conservar em sua companhia a filha;
e muito naturalmente também não quer viver isolada e cede, por isto ou aquilo,
a uma inclinação amorosa.
O caso se
complica com uma gravidez e para que a lei, baseada em uma moral que já se
findou, não lhe tire a filha, procura uma conhecida, sua amiga, a fim de
provocar um aborto de forma a não se comprometer.
Vê-se bem que
na intromissão da “curiosa" não houve nenhuma espécie de interesse subalterno,
não foi questão de dinheiro. O que houve foi simplesmente camaradagem, amizade,
vontade de servir a uma amiga, de livrá-la de uma terrível situação.
Aos olhos de todos, é um
ato digno, porque, mais do que o amor, a amizade se impõe. Acontece que a sua
intervenção foi desastrosa e lá vem a lei, os regulamentos, a polícia,
os inquéritos, os peritos,
a faculdade e berram: você é uma criminosa! você quis impedir que nascesse mais
um homem para aborrecer-se com a vida!
Berram e levam
a pobre mulher para os autos, para a justiça, para a chicana, para os
depoimentos, para essa via-sacra da justiça, que talvez o próprio Cristo não
percorresse com resignação.
A parteira,
mulher humilde, temerosa das leis, que não conhecia, amedrontada com a prisão,
onde nunca esperava parar, mata-se.
Reflitamos,
agora; não é estúpida a lei que, para proteger uma vida provável, sacrifica
duas? Sim, duas porque a outra procurou a morte para que a lei não lhe tirasse
a filha. De que vale a lei?
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