domingo, 17 de abril de 2022

Crônicas de Segunda na Usina:Jaime José Teixeira Queiroga:





Não é o tamanho da queda que causa medo, mas a sensação de se estar sem onde por as mãos. Parece que quando conhecemos o caminho do barranco já sabemos o final: a dor acontecerá mesmo, irremediável, mas se escolhe onde. Não é uma questão de escolher uma perna ou um braço por ser mais querido ou menos importante, mas por se dar a escolha com qual dor querer conviver. E aí ela passa até a ser menos mal-vinda.
Há de se concordar com a escada que escorrega, com o barranco que cai ou a cadeira que quebra que eles estavam ali desde sempre e que, como a dor que doi, não tem alma. Então por que ter medo deles?
O parágrafo acima eu ia apagar ou modificar, mas vou deixar porque não consigo resolver. Odiei, meio metido, meio patético, mas absurdamente pessoal. Se eles não tem alma, logo não escorregam, não caem e não fazem doer, se eles não nos procuram, por que esse medo?
Porque revelam que não há premonição de vazio, não mostra que somos mais ou menos sujeitos a falhas, mas que são representações de que a queda sempre esteve à espreita e fui eu que não quis segurar o corrimão quando faltou luz. Nem sempre dá pra andar de olhos vendados e eu deveria já saber disso, nem sempre dá pra andar só olhando pra frente no caminho da montanha e sempre, sempre deveria olhar se a cadeira não foi serrada. Assim a dor não doeria.

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