quarta-feira, 17 de junho de 2020

Poesia de quinta na Usina: Augusto dos Anjos:HISTÓRIA DE UM VENCIDO:


Sol alto. A terra escalda: é um forno. A flama oriunda 
Da solar refração bate no mundo, acende O pó, 
aclara o mar e por tudo se estende. 
E arde em tudo, mordendo a atra terra infecunda. 
E o Velho veio para o labor cotidiano, Triste, 
do alegre Sol ao grande globo quente E pôs-se para aí, 
desoladoramente A revolver da terra o atro e infecundo 
arcano. Por seis horas seu braço empenhado na luta, 
Fez reboar pelo solo, alta e descompassada 
A dura vibração incômoda da enxada, 
Rasgando, do agro solo, a superfície bruta. 
Mas o braço cansou! Trabalhou... e o trabalho 
-- Do Eterno Bem motor principal e alavanca 
-- Arrancara-lhe a Crença assim como se arranca 
De um ninho a seda branca e de uma árvore o galho! 
Sangrou-lhe o coração e a saudade da Aurora! 
-- O Hércules que ele fora! O fraco que ele hoje era! 
E surpreendido viu que um abismo se erguera 
Entre o fraco que era hoje, e entre o Hércules de outrora! 
Pois havia de assim, nesta maldita senda De sofrimento 
ignaro em sofrimento ignaro Ir caminhando até tombar 
sem um amparo No tremendo marnel da Desgraça tremenda?!

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