quarta-feira, 15 de julho de 2020

Poesia de Quinta na Usina: Mário Quintana: PARA ELENA QUINTANA:


As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo. 
Sentimo-las como da primeira vez, sentimo-las fora do tempo, 
nesse mundo do sempre onde as datas não datam. Só no mundo 
do nunca existem lápides... Que importa se - depois de tudo 
- tenha ela partido, casado, mudado, sumido, esquecido, enganado, 
ou que quer que te haja feito, em suma? Tiveste uma parte da sua 
vida que foi só tua e, esta, ela jamais a poderá passar de ti para ninguém. 
Há bens inalienáveis, há certos momentos que, ao contrário do que pensas, 
fazem parte da tua vida presente e não do teu passado. 
E abrem-se no teu sorriso mesmo quando, deslembrado deles, 
estiveres sorrindo a outras coisas. 
Ah, nem queiras saber o quanto deves à ingrata criatura... 
A thing of beauty is a joy for ever 
- disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

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