quinta-feira, 16 de julho de 2020

Sexta na Usina: Poetas da Rede: João Vale Lopes: SOU TEMPO DE LUZ:

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Sou tempo de luz

Que se parte em infindas sombras,

Arbustivas galerias de sangue

Tocando o corpo folhoso da mulher no peso lúbrico,

Pedra avantajada na dureza dos seios

E um sorriso de momentâneos silêncios

E o inefável abrir do instinto da noite,

Enquanto atravessam trespassados gritos de ave

No ondear invasivo de palpitantes flores de água.

Sou tempo de luz

Que provém da água inicial de outros sentidos,

A brandura fulgurada num arco de vento,

A embriaguez num silêncio de fogo

Fustigando o corpo iluminado com luzes intensas.

Toco o peso iniciático da alegria

E a carne fulge musical no vagar melodioso das vogais

E a chama dá florescências ao espírito.

Cantarei  exuberante uma alegria de morte.

Deus dá o fruto e empolga num instante a eternidade

E eu estou dentro do fruto como sol.

Dai-me um torso curvado pelo musical ritmo,

Substantiva flagrância de movimentos emanados pela alma,

Onde a chama orbita a fluência de vento dançante.

Manar a crescente carne em espírito cego e abstracto,

Uma ideia de pedra salivante no esteio morno

Alimentando os teus desejos puros

Para definhar na tua boca com um hálito de sombra

Penetrando a tua voz

Como a minha espada se perde na silenciosa morte.

                           João Vale Lopes

                              14-07-2020

                      Arte de Edwin George


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