
Sou tempo de luz
Que se parte em infindas sombras,
Arbustivas galerias de sangue
Tocando o corpo folhoso da mulher no peso lúbrico,
Pedra avantajada na dureza dos seios
E um sorriso de momentâneos silêncios
E o inefável abrir do instinto da noite,
Enquanto atravessam trespassados gritos de ave
No ondear invasivo de palpitantes flores de água.
Sou tempo de luz
Que provém da água inicial de outros sentidos,
A brandura fulgurada num arco de vento,
A embriaguez num silêncio de fogo
Fustigando o corpo iluminado com luzes intensas.
Toco o peso iniciático da alegria
E a carne fulge musical no vagar melodioso das vogais
E a chama dá florescências ao espírito.
Cantarei exuberante
uma alegria de morte.
Deus dá o fruto e empolga num instante a eternidade
E eu estou dentro do fruto como sol.
Dai-me um torso curvado pelo musical ritmo,
Substantiva flagrância de movimentos emanados pela alma,
Onde a chama orbita a fluência de vento dançante.
Manar a crescente carne em espírito cego e abstracto,
Uma ideia de pedra salivante no esteio morno
Alimentando os teus desejos puros
Para definhar na tua boca com um hálito de sombra
Penetrando a tua voz
Como a minha espada se perde na silenciosa morte.
João Vale Lopes
14-07-2020
Arte de Edwin George
Nenhum comentário:
Postar um comentário