sexta-feira, 1 de julho de 2022

Contos do Sábado na Usina: Olavo Bilac: O LUAR:



Insone, a moça Luísa Salta do leito, em camisa... Verão! verão de rachar!
Calor! calor que devora! Luísa vai dormir fora, Ao luar...
Ardente noite estrelada...
Entre as plantas, descansada, Põe-se Luísa a roncar.
Dorme toda a Natureza... E que esplendor! que beleza
No luar!
Olha-a o luar com ciúmes... E sabem vivos perfumes Do jardim e do pomar:
E ela, em camisa, formosa, Repousa, como uma rosa, Ao luar!
Mas alguém (um fantasma ou gente?) Chega-se prudentemente,
Para o seu sono espreitar...
— Alguém que, ardendo em desejo, Lhe põe nos lábios um beijo,
Ao luar...
Ela dorme... coitadinha! Nem o perigo adivinha, Pobre! a dormir e a sonhar...
Sente o beijo... mas parece Que é um beijo quente que desce
Do luar...
A lua (dizem-no os sábios...) Também tem boca, tem lábios, Lábios que sabem beijar.
Luísa dorme, em camisa... Como é formosa a Luísa Ao luar!
Vão depois correndo os meses, Entre risos e revezes...
— Começa a moça a engordar... Vai engordando, engordando...
E chora, amaldiçoando O luar...
Já todo o povo murmura E, na sua desventura, Ela só sabe chorar;
Chora e diz que não sabia Que tanto mal lhe faria
O luar...
O pai, que é homem sisudo, Homem que percebe tudo, Pergunta-lhe a praguejar:
" Que é que tu tens, rapariga?!" E ela: " Eu tenho na barriga...
O luar!"

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