quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Poesia de Quinta na Usina: Augusto dos Anjos: DOLÊNCIAS:


Eu fui cadáver antes de viver!
Meu corpo, assim como o de Jesus Cristo, 
Sofreu o que olhos de homem não têm visto 
E olhos de fera não puderam ver!

Acostumei-me, assim, pois, a sofrer 
E acostumado a assim sofrer existo...
Existo! -- E apesar disto, apesar disto 
Inda cadáver hei também de ser!

Quando eu morrer de novo, amigos, quando 
Eu, de saudades me despedaçando
De novo, triste e sem cantar, morrer,
Nada se altere em sua marcha infinda -- 

O tamarindo reverdeça ainda,
A lua continue sempre a nascer!





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