sábado, 6 de março de 2021

Domingo na Usina: Biografias: Gil Vicente:

 


Apesar de se considerar que a data mais provável para o seu nascimento tenha sido em 1466 — hipótese defendida, entre outros, por Queirós Veloso — há ainda quem proponha as datas de 1460 (Braamcamp Freire) ou entre 1470 e 1475 (Brito Rebelo). Se nos basearmos nas informações veiculadas na própria obra do autor, encontraremos contradições. O Velho da Horta, a Floresta de Enganos ou o Auto da Festa, indicam 1452, 1470 e antes de 1467, respectivamente. Desde 1965, quando decorreram festividades oficiais comemorativas do quincentenário do nascimento do dramaturgo, que se aceita 1465 de forma quase unânime.
Frei Pedro de Poiares localizava o seu nascimento em Barcelos, mas as hipóteses de assim ter sido são poucas. Pires de Lima propôs Guimarães para sua terra natal - hipótese essa que estaria de acordo com a identificação do dramaturgo com o ourives, já que a cidade de Guimarães foi durante muito tempo berço privilegiado de joalheiros. O povo de Guimarães orgulha-se desta hipótese, como se pode verificar, por exemplo, na designação dada a uma das escolas do concelho (em Urgeses), que homenageia o autor.
Lisboa é também muitas vezes defendida como o local certo. Outros, porém, indicam as Beiras para local de nascimento - de facto, verificam-se várias referências a esta área geográfica de Portugal, seja na toponímia como pela forma de falar das personagens. José Alberto Lopes da Silva[1] assinala que não há na obra vicentina referências a Barcelos nem a Guimarães, mas sim dezenas de elementos relacionados com as Beiras. Há obras inteiras, personagens, caracteres, linguagem. O conhecimento que o autor mostra desta região do país não era fácil de obter se tivesse nascido no norte e vivido a maior parte da sua vida em Évora e Lisboa.
Poeta-ourives
Cada livro publicado sobre Gil Vicente é, quase sempre, defensor de uma qualquer tese que identifique ou não o autor ao ourives. A favor desta hipótese existe o facto de o dramaturgo usar com propriedade termos técnicos de ourivesaria na sua obra.
Alguns intelectuais portugueses polemizaram sobre o assunto. Camilo Castelo Branco escreveu, em 1881, o documento "Gil Vicente, Embargos à fantasia do Sr. Teófilo Braga" - este último defendia uma só pessoa para o ourives e para o poeta, enquanto que Camilo defendia duas pessoas distintas. Teófilo Braga mudaria de opinião depois de um estudo de Sanches de Baena que mostrava a genealogia distinta de dois indivíduos de nome Gil Vicente, apesar de Brito Rebelo ter conseguido comprovar a inconsistência histórica destas duas genealogias, utilizando documentos da Torre do Tombo. Lopes da Silva, na obra citada[1], avança uma dezena de argumentos para provar que Gil Vicente era ourives quando escreveu a sua primeira obra, uma imitação do Auto del Repelón, de Juan del Encina a quem pede emprestada não só a história, mas também as personagens com o seu respectivo idioma, o saiaguês.
Dados biográficos
Sabe-se que casou pela primeira vez com Branca Bezerra, de quem nasceram Gaspar Vicente (que nasceu em cerca de 1488, teria partido para a Índia na Armada de 1506 e foi Moço da Capela Real em 1519, ano em que morreu solteiro e sem geração) e Belchior Vicente (que nasceu em 1504 ou 1505 e faleceu antes de 13 de Março de 1552, foi Moço de Capela depois acrescentado a Escudeiro da Casa Real e teve o ofício de Escrivão Segundo da Feitoria da Mina, casado com Guiomar Tavares e pai de Paula Vicente, batizada a 11 de Abril de 1549, e de Maria Tavares).[2]
Depois de enviuvar, casou pela segunda vez com Melícia Rodrigues, de quem teve Paula Vicente (nascida em 1519 ou cerca de 1519 e falecida em 1576, que foi tangedora e Moça de Câmara da Infanta D. Maria, possuidora de duas casas na Rua dos Penosinhos, na Freguesia de Santa Cruz do Castelo, em Lisboa, e editou e organizou, com seu irmão Luís Vicente, a compilação das suas obras, tendo falecido solteira e sem geração), Luís Vicente (nascido cerca de 1520 e falecido entre 1592 e 1595, que residiu em Lisboa, no Poço Velho da Alcáçova e, mais tarde, na sua Quinta do Mosteiro, em Matacães, termo de Torres Vedras, hoje integrada na Quinta do Juncal, foi Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, editou e organizou, com sua irmã Paula Vicente, a compilação das suas obras e casou três vezes, a primeira com Mor de Almeida, com geração, a segunda com Joana de Pina, filha de Diogo de Pina e de Mécia Barreto, com geração, e a terceira com Isabel de Castro, sem geração) e Valéria Borges (nascida cerca de 1530 e falecida depois de 1598, que casou duas vezes, a primeira a 10 de Julho de 1551 com Pero Machado, Moço da Real Câmara, com geração feminina, e a segunda cerca de 1565 com D. António de Almeida, falecido em 1592, filho de D. Luís de Meneses e de Brites de Aguiar, com geração).[2]
Presume-se que tenha estudado na Universidade de Salamanca, em Salamanca, Espanha.
O Monólogo do vaqueiro, como teria sido representado pelo próprio Gil Vicente, de acordo com a visão do pintor Roque Gameiro.
O seu primeiro trabalho conhecido, a peça em castelhano Auto da Visitação, também conhecido como Monólogo do Vaqueiro, foi representada nos aposentos da rainha D. Maria, consorte de Dom Manuel, para celebrar o nascimento do príncipe (o futuro D. João III) - sendo esta representação considerada como o marco de partida da história do teatro português. Ocorreu isto na noite de 8 de Junho de 1502, com a presença, além do rei e da rainha, de Dona Leonor, viúva de D. João II e D. Beatriz, mãe do rei.
Tornou-se, então, responsável pela organização dos eventos palacianos. Dona Leonor pediu ao dramaturgo a repetição da peça pelas matinas de Natal, mas o autor, considerando que a ocasião pedia outro tratamento, escreveu o Auto Pastoril Castelhano. De facto, o Auto da Visitação tem elementos claramente inspirados na "adoração dos pastores", de acordo com os relatos do nascimento de Cristo. A encenação incluía um ofertório de prendas simples e rústicas, como queijos, ao futuro rei, ao qual se pressagiavam grandes feitos. Gil Vicente que, além de ter escrito a peça, também a encenou e representou, usou, contudo, o quadro religioso natalício numa perspectiva profana. Perante o interesse de Dona Leonor, que se tornou a sua grande protectora nos anos seguintes, Gil Vicente teve a noção de que o seu talento lhe permitiria mais do que adaptar simplesmente a peça para ocasiões diversas, ainda que semelhantes.
Se foi realmente ourives, terminou a sua obra-prima nesta arte - a Custódia de Belém - feita para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1506, produzida com o primeiro ouro vindo de Moçambique. Três anos depois, este mesmo ourives tornou-se vedor do património de ourivesaria no Convento de Cristo, em Tomar, Nossa Senhora de Belém e no Hospital de Todos-os-Santos, em Lisboa.
Consegue-se ainda apurar algumas datas em relação a esta personagem que tanto pode ser una como múltipla: em 1511 é nomeado vassalo de el-Rei e, um ano depois, sabe-se que era representante da bandeira dos ourives na "Casa dos Vinte e Quatro". Em 1513, o mestre da balança da Casa da Moeda, também de nome de Gil Vicente (se é o mesmo ou não, como já se disse, não se sabe), foi eleito pelos outros mestres para os representar junto à vereação de Lisboa.....

fonte de origem:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente

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