quarta-feira, 24 de março de 2021

Poesia de Quinta na Usina: Machado de Assis:

 


LÁGRIMAS DE CERA

 

Passou; viu a porta aberta.

 

Entrou; queria rezar.

A vela ardia no altar.

 

A igreja estava deserta.

 

Ajoelhou-se defronte

 

Para fazer a oração;

Curvou a pálida fronte

 

E pôs os olhos no chão.

 

Vinha trêmula e sentida.

 

Cometera um erro. A Cruz

É a âncora da vida,

 

A esperança, a força, a luz.

 

Que rezou? Não sei. Benzeu-se

 

Rapidamente. Ajustou

O véu de rendas. Ergueu-se

 

E à pia se encaminhou.

 

Da vela benta que ardera,

 

Como tranqüilo fanal,

Umas lágrimas de cera

 

Caíam no castiçal.

 

Ela porém não vertia

 

Uma lágrima sequer.

Tinha a fé, — a chama a arder, —

 

Chorar é que não podia.

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