sábado, 2 de outubro de 2021

Dante Aliguieri: A divina Comédia: Inferno:

 


“Eis a estância, que eu disse, às dores feita, Onde hás de ver atormentada gente,
18 Que da razão à perda está sujeita”.
Pela mão me travando diligente, Com ledo gesto e coração me erguia,
21 E aos mistérios guiou-me incontinênti.
Por esse ar sem estrelas irrompia
Soar de pranto, de ais, de altos gemidos:
24 Também meu pranto, de os ouvir, corria.
Línguas várias, discursos insofridos, Lamentos, vozes roucas, de ira os brados, 
27 Rumor de mãos, de punhos estorcidos,
Nesses ares, pra sempre enevoados, Retumbavam girando e semilhando 
30 Areais por tufão atormentados.
A mente aquele horror me perturbando,
Disse a Virgílio: — “Ó Mestre, que ouço agora?
33 “Quem são esses, que a dor está prostrando?”—
“Deste mísero modo” — tornou — “chora Quem viveu sem jamais ter merecido
36 Nem louvor, nem censura infamadora.

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