segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Dante Alighieri: A Divina Comédia: Inferno:


 
Uivam à chuva, quais lebréus, coitados! Mudam de lado sem cessar, buscando
21 Defensa e alívio, as almas condenadas.
Cérbero, o grão réptil, nos divisando Os dentes mostra, as bocas escancara,
24 De sanha os membros todos convulsando.
Meu Guia, as mãos abrindo, se prepara: Enche-as de terra, e às guelas devorantes 
27 Lança da fera essa iguaria amara.
Qual mastim, que em latidos retumbantes Brada de fome, e, apenas a sacia
30 Devorando, aquieta as iras de antes:
Tal, aplacando a fúria, parecia
O demônio que as almas atordoa:
33 Surdez de ouvi-lo o mal lhes pouparia.
O solo, onde pisamos, se povoa
Das sombras, que essas chuvas derrubavam:
36 Forma e aparência tinham de pessoa. Sobre a terra estendidas, a alastravam;
Mas uma surge, súbito sentada,
39 Aos passos que adiante nos levavam.
“Tu” — disse — “que és guiado pela estrada Do inferno, vê se acaso me conheces:
42 Nasceste antes de eu ser nesta morada”.

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