visto os farrapos da apatia
e arrasto pela casa momentos perdidos,
tecidos rotos e sujos
de um agora que há muito se arrasta.
minhas roupas tem cheiro
de missa de sétimo dia.
cheiro de pesar, angústia, inquietação.
mora uma urgência dentro de mim,
promessas que me fiz em um idioma
que não existe, nunca cumpridas.
há retalhos de indiferença pelo chão,
objetos contidos no cenário
imutável de mim mesmo.
na contemplação dos abismos
ouço a paz que não há,
contrariedade viva das vontades mortas.
contemplo o desfile lento das horas,
o desmanchar dos instantes,
vácuos que dão vida aos meus absurdos.
abro todas as portas e janelas
e enxergo o vazio infinito
que cerca a minha alma.
o vento sopra imagens confusas,
sinto no rosto seu toque,
tempo perdido na praça dos loucos,
no jardim dos inconformados.
a personificação dos meus erros,
o avesso das virtudes.
guardo um discurso vazio
repleto de verdades estranhas ao universo,
resquícios de acontecimentos
que ficaram presos no mundo
dos meus devaneios noturnos,
em algum cabide pendurado
nos infinitos armários do passado.
um soluço engolido às pressas
desenterra o ontem esquecido
no cemitério que carrego dentro de mim,
terra infecunda repleta de zelos meus.
o esquecimento quebra, esmaga,
amassa e destrói,
corta o fio do sossego que já não há,
enterrado com os restos
do que poderia ter sido
enterrados nas profundezas
de mim mesmo.
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